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Minatozaki Sana

Eu não sabia o que fazer depois da conversa com Tzuyu. Suas palavras ficaram ecoando em minha cabeça, fazendo-me questionar as verdades às quais eu me segurei por todos esses anos.

Eu me senti drenando, e precisava parar essa onda de pensamentos, então mudei isso, indo para a academia. Malhei pesado, tomei banho, depois segui para meu quarto. Esperava que Tzuyu se aproximasse de mim querendo continuar a conversa, o que eu esperava evitar, mas ela estava ocupada na cozinha, sem fazer esforço para olhar para mim conforme passei.

Na minha escrivaninha, havia um prato de sanduíches, uma garrafa térmica com café e um copo com água. Encarei a situação por um instante, depois, dando de ombros, perdi-me nos arquivos que trouxera para casa. Só no começo da noite que a vi de novo.

— O jantar está pronto, se estiver com fome.

Olhei para cima, apertando os olhos.

— Sana, você precisa de um pouco de luz. — Ela cruzou a sala, acendendo o abajur da minha escrivaninha. Ela balançou a cabeça. — E talvez óculos. Estive reparando em como você segura as coisas perto do rosto quando ler — olhei para baixo, percebendo que ela tinha razão. — Vou marcar uma consulta para você — ela ofereceu, com um sorriso nos lábios. — Duvido que isso esteja na lista de tarefas de sua assistente.

Tive de rir, mesmo enquanto revirava os olhos para cima.

Quando me encontrei com Somi na sexta, listando todas minhas expectativas, ela me surpreendeu com sua própria lista. As assistentes pessoais no Grupo Manoban eram totalmente diferentes da Kim Inc. Ela estava lá para me dar apoio, manter-me organizada e até, de vez em quando, providenciar meu almoço, mas não estava lá para me fazer café, torrar croissant ou pegar minha roupa na lavanderia.

Dizer que fui colocada no meu lugar era apelido.

Ela foi gentil o suficiente para me mostrar o lounge enorme dos funcionários, como usar a máquina de café e onde encontrar os croissant e outras comidas que Lisa mantinha para sua equipe.

Tzuyu teve de sair para esconder a risada quando eu lhe contei essa história.

— Não é engraçado! — gritei para ela.

— Ah, é, sim. — Sua resposta seca veio do fim do corredor.

Tinha de admitir que ela estava certa. Pensando bem, não me matou ter de levantar e pegar um café. Era uma boa forma de esticar as pernas. Eu tinha uma sensação de que Somi seria muito econômica com o cream cheese no meu croissant, de qualquer forma. Tzuyu sempre o empilhava do jeito que eu gostava.

— Cristo, estou ficando velha — resmunguei. — Óculos de leitura.

Ela riu.

— Sim, vinte e seis anos, uma anciã. Você ficará bem. Tenho certeza de que vai fazê-los ficarem bonitos em você.

Ergui minha sobrancelha equivocada para ela.

— Ah, é? Está dizendo que vou ficar ainda mais sexy com óculos?

— Não estou dizendo nada. Seu ego é grande o suficiente. O jantar está na cozinha se quiser.

Com uma gargalhada, apaguei a luz, seguindo-a para a cozinha, ainda desconfiada.

Algumas das minhas lembranças mais nítidas da infância eram as discussões constantes de meus pais. Minha mãe era como um cachorro com um osso, recusando-se a ceder um centímetro. Ela iria reclamar alguma coisa com meu pai, que, normalmente, explodiria.

Eu estava preocupada que Tzuyu tentasse tocar no assunto de nossa conversa, mas ela não disse nada. Em vez disso, quando estávamos comendo, ela empurrou uma cor de tinta em minha direção.

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