Capítulo 13

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Mais anos se passaram. Estações chegaram e se foram. Dias se tornaram mais longos, depois se encurtavam e depois voltaram a se alongar. A muralha espessa ficava mais alta no verão, revigorada pelo calor do sol. E, no outono, as raízes se aprofundavam. De um lado, nos Moors das Fadas, Severus continuava a se sentar no trono. Concentrava-se em ajudar os Moors a vicejar e apreciava saber que trouxera a tão esperada paz para todas as criaturas, pequenas e grandes.

No decorrer dos anos, Severus se tornou mais confiante e mais belo. Do outro lado da Muralha de Espinhos, contudo, as coisas não iam bem. Em seu castelo, o rei James ficava cada vez mais fraco e mais paranoico. Sua barba ficou grisalha e rala, e sua barriga cresceu. Os olhos ficavam sempre fixados nos muros, à espera do momento em que eles mostrassem fraqueza. Ordenara que os antigamente belos muros de pedra do castelo fossem recobertos por placas de ferro espessas, numa tentativa de garantir que Severus ficasse do lado de fora. Isso deu ao castelo uma aparência assustadora, agourenta, e aqueles que moravam em sua sombra sentiam um peso sobre os ombros. Os dias de celebração e de alegria já não existiam mais. O reino, muitos diziam, estava num estado perpétuo de luto pelo principe amaldiçoado que nunca veriam crescer.

No interior da floresta entre os dois mundos, sem saber de nada, Harry cresceu. Suas bochechas fofas se tornaram mais finas, apesar de continuarem rosadas. As perninhas que tantas vezes a conduziram a problemas se tornaram longas e delgadas, de modo que agora ele estava mais alto que suas “tias” baixinhas. O narizinho em forma de botão que ligeiramente arrebitado na ponta combinava à perfeição com seu rosto, e as longas madeixas negras que desciam até a cintura reluziam. Aos quinze anos, era o retrato da beleza. E tendo sido criado afastado das armadilhas da vida da realeza, também era um exemplo de bondade. Não existia sequer um animal que ele não amasse nem um passarinho para o qual não cantasse. Perambulava pela floresta por horas seguidas, perdido em pensamentos, mas absolutamente à vontade com a natureza ao seu redor.

Severus o observara crescer e se aproximar cada vez mais da idade da maldição. Testemunhara os anos desajeitados, quando as pernas de Harry eram compridas demais para seu corpo, e viu a mudança emocional de criança a adolescente enquanto Harry tentava descobrir quem era, sem obter respostas das três mulheres que o educaram. Seguiram o rapaz enquanto ele vagava pelos bosques, sempre surpreso em ver um humano tão em sintonia com a natureza. E se mostrava inquieto quando, perambulando para longe de casa certa tarde, Harry descobriu a Muralha. Em pouco tempo, Harry começou a passar horas deitado diante dela, tentando espiar em meio aos galhos grossos e espinhentos. Por mais que Severus tentasse ignorar a presença do menino tão perto de seu lar, isso era praticamente impossível.

Aquele garoto parecia estar sempre por perto. Certa tarde, sentado junto a Sirius do lado humano da Muralha, Severus tentava relaxar e apreciar o chão acolhedor. Seu olhar recaiu na estrada que corria paralela à Muralha. Era a estrada entre a floresta dos homens e os Moors das Fadas. Longa e curvilínea, tinha profundos sulcos formados pelas incontáveis carruagens e carroças. Árvores altas cresciam dos dois lados dela. Na direção oposta estava o castelo do rei James. Conforme se aproximava do castelo, a estrada ficava mais estruturada: árvores podadas na lateral com a folhagem controlada. Fitando o castelo de James ao longe, Severus enrugou o nariz. Depois de tantos anos, aquele lugar ainda a enlouquecia. De repente, Sirius, que estava em sua forma humana, inclinou a cabeça e aguçou os ouvidos.

_Ele voltou de novo – disse, depois de um instante.

Aprofundando-se nas sombras entre os galhos espessos, o par observou, um momento depois, Harry emergir da floresta. Olhando ao redor para se certificar de que ninguém o via, Harry atravessou a estrada e se aproximou dos espinhos. Esticou o pescoço, maravilhando-se com a imensidão da Muralha. Ficou nas pontas dos pés e depois se agachou, tentando encontrar um buraco na Muralha para ver através dela.

The Sleeping Beauty - DrarryWhere stories live. Discover now