Capítulo 15

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A aparência de James revelava-se horrível. Estivera acordado a noite toda, andando de um lado para o outro no quarto do qual raramente saía. O sol começava a nascer, marcando o alvorecer de um novo dia. Se não estivesse tão distraído, talvez aquele momento do dia o fizesse lembrar do filho, cujo nome recebera em homenagem ao amanhecer.

_Você caçoa de mim – murmurou exatamente no momento em que um criado entrava no quarto atrás dele.

_Majestade? – o criado o chamou. Mas James não se virou nem respondeu. Simplesmente olhou para a frente, sem piscar. O criado decidiu dar a notícia que lhe fora confiada. – Majestade, a sua presença está sendo requisitada pela rainha.

_Deixe-me – James ordenou simplesmente, por fim reconhecendo a presença do criado.

_Meu senhor – o criado implorou –, ela não está bem. As damas de companhia temem que…

_Saia! – berrou James – Não consegue ver que estou no meio de uma conversa?

O criado o encarou estupefato. Não havia ninguém mais no quarto. Estava claro que o rei enlouquecera. O criado saiu, fechando a porta atrás de si, resolvendo voltar quando o rei estivesse mais descansado. Só esperava que não fosse tarde demais. A rainha tinha poucas horas de vida, na melhor das hipóteses. Ninguém sabia qual doença a afligia, mas muita gente suspeitava que estivesse morrendo por causa do coração partido. James nem sequer notava que a esposa estava morrendo, assim como não notou que o criado acabara de deixá-lo. Começou a andar, ainda sem piscar.

_Era para representar o meu triunfo, a minha força. No entanto, dia após dia, ano após ano, você existe só para zombar de mim. Para me lembrar… E não é sem um propósito. É?

Encarou o objeto que o atormentava: as imensas asas negras penduradas em uma caixa de vidro. As asas de Severus. Fachos de luz matutina brilhavam ao redor delas de modo sinistro. James se aproximou da caixa, espiando através dela. Então, repousando a cabeça no vidro, sussurrou:

_É? - Subitamente, as asas se mexeram. James deu um salto para trás, surpreso e assustado. As asas voltaram a ficar imóveis. Inspirando fundo, tentou, sem sucesso, acalmar os nervos. – Eu lhe poupo a vida e esta é a minha recompensa? Uma maldição sobre o meu filho? Sobre o meu reino? Sobre mim? - As asas voltaram a bater, com mais força dessa vez. James prosseguiu com seu monólogo. – Quando a maldição fracassar, Severus virá até mim. Sinto isso. Sei disso. Assim como sei que o sol nasce. – Apontou um dedo para as asas com raiva. – E, nesse dia, não serei benevolente. Eu o matarei como já devia ter feito. E queimarei a carcaça dele até restarem somente cinzas! - Fez uma pausa, tentando recobrar o fôlego. Pensou em sua vitória, na doce vingança. – E então Você voltará a ser um troféu. E nada mais.

[...]

As asas tremularam com raiva agora, mas James apenas as fitou. Então, lentamente, seu rosto se rompeu num sorriso amplo. Os planos bem-intencionados de manter Harry afastado dos Moors rapidamente fracassaram. Assim que decidira que Harry nunca mais visitaria os Moors, o belo principe reencontrou o caminho até a Muralha. E antes que Severus se desse conta do que estava fazendo, todas as noites fazia Harry dormir, levando-o de volta ao mundo das fadas. Em pouco tempo, Harry fez do bosque seu lar. E ainda pior: antes que percebesse, Severus estava de fato gostando de ter o principe por perto. Existia algo de revigorante no modo como Harry se movia nos Moors nas noites estreladas. Quer saltitasse sobre o riacho ou avançasse em meio à folhagem, sempre estendia as mãos, conectando-se com o mundo ao seu redor. E não era apenas a flora que ele amava. Amava todas as criaturas do bosque também, desde as belas fadas do orvalho até as fadas-ouriço de aparência esquisita, com suas orelhas grandes demais e costas pontiagudas.

The Sleeping Beauty - DrarryTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang