Capitulo 18

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Severus estava prestes a descobrir que as coisas ficariam muito, mas muito mais complicadas. No chalezinho da clareira, Harry acordou na véspera de seu aniversário muito bem-humorado. Conheceu o mais lindo dos homens, e iria morar nos Moors e, melhor do que tudo, passaria mais tempo com sua fada-madrinha. A única coisa que o detinha era precisar contar às tias que estava partindo. Essa parte diminuía um pouco a sua animação. Afinal, as três a educaram depois da morte dos seus pais e, por mais que fossem um pouco estranhas, ele amava cada uma delas.

Suspirando, saiu da cama. Era hora. Entrando no cômodo principal do chalé, sorriu quando viu as tias discutindo uma vez mais. Ouvindo as suas passadas, elas pararam e se viraram na sua direção, parecendo moderadamente culpadas. Mas Harry ignorou isso e seguiu em frente com a novidade:

_Preciso conversar com vocês sobre um assunto – anunciou.

_Pode falar, querido – Flittle disse, ajeitando o cabelo que estava desarrumado.

_Lamento lhes dizer isto e, por favor, não fiquem tristes, mas amanhã completo dezesseis anos e, portanto… – Sua voz falseou.

_Portanto? – Thistlewit a incitou. Harry inspirou fundo e, então, num rompante, as palavras saíram, uma depois da outra.

_Estou indo embora. - Esperando lágrimas e tristeza, ele ficou surpreso quando o rosto de Knotgrass ficou vermelho de raiva.

_Até parece que vai! – berrou ela. – Não sofri todos estes anos neste buraco miserável com estas duas imbecis só para você arruinar tudo no último dia! Vamos levá-lo de volta ao seu pai… – Quando as últimas palavras saíram dos seus lábios, Knotgrass cobriu a boca com a mão. Não tivera a intenção de dizer aquilo. O rosto de Harry empalideceu.

_O meu pai? – ele repetiu. – Vocês disseram que os meus pais estavam mortos. - As três tias se entreolharam, silenciosamente tentando decidir o que fazer. Por fim, Flittle deu um tapinha no banco ao seu lado.

_É melhor você se sentar – disse.
Confusa, Harry fez o que ela lhe disse e ouviu enquanto elas começavam a história.

[...]

_Fada-madrinha! - A voz de Harry ecoou pelo bosque. Detectando o pânico na voz dele, Severus emergiu das sombras enquanto Sirius permanecia atrás. Era a véspera do décimo sexto aniversário de Harry, e ele deveria ter vindo depois de ter contado às tias que estava de partida. Evidentemente, algo acontecera, e conhecendo as três fadas e as suas conspirações para permanecer nas boas graças de James, Severus ficou pensando no que elas poderiam ter dito a Harry a respeito do passado dele a fim de mantê-lo com elas. Mas quanto fora dito?

_Estou aqui – Severus disse, fitando ao principe. Os olhos habitualmente reluzentes do rapaz estavam cheios de lágrimas. Seu cabelo estava todo desgrenhado, como se ele o tivesse puxado várias vezes. Severus aguardou, temendo o que Harry estava prestes a dizer.

_Quando você ia me contar sobre a maldição? – ele perguntou com a voz carregada de dor. Severus estava certo. Aquelas fadas intrometidas contaram a Harry o que aconteceu havia vários anos. Mas Harry somente mencionou a maldição. Não dissera quem a amaldiçoara… – E então? É verdade? – perguntou Harry, suplicante. Severus assentiu.

_Sim, é – confirmou simplesmente. O rosto de Harry se fechou.

_Eu era só um bebê! – gritou. – Quem faria algo tão terrível assim a um bebê? – Seus grandes olhos verdes se depararam com os de Severus. – Minhas tias me disseram que foi uma fada má. Disseram um nome… Disseram que era… Que era… – soluçou, sem conseguir dizer o nome em voz alta. - Percebendo o sofrimento que aquele momento causava nele, Severus não suportou nem um segundo mais. Virando-se para não encontrar o olhar de Harry, disse o nome em voz alta:

_Severus -  Atrás dele, os olhos de Harry se arregalaram quando houve um estalo, e ele começou a juntar as peças do quebra-cabeça.

_Esse é o seu nome? – perguntou com a voz trêmula. – Você é Severus? Foi você quem me amaldiçoou? - Lentamente, a fada se virou para ficar de frente para o principe. Não era assim que ele queria que Harry ficasse sabendo quem ele era e o que tinha feito. Mas o que mais poderia fazer? A verdade surgiria de um modo ou de outro.

_Sim – disse com suavidade. A mão de Harry pousou sobre o coração como se a realidade da confissão de Severus o atingisse como uma flecha. Encarou-o como se o estivesse vendo pela primeira vez. O olhar queimou Severus. Ele acabou de virar o mundo de Harry de ponta-cabeça. Fez com ele a mesma coisa que James lhe fez. Fez o principe confiar nele e depois partiu essa confiança com crueldade. Que ironia, Severus pensou quando Harry começou a recuar.

_Espere… – Severus implorou, estendendo a mão. Harry se afastou daquele toque.

_Não! – Harry exclamou. – Não toque em mim! Você é o mal que existe no mundo. É você. - Harry se virou e correu, desaparecendo na floresta.

Observando-o ir embora, Severus sentiu todas as suas forças se esvaírem. Respirar ficou difícil. Passou muito tempo negando o que fez para si mesmo e para Harry. E agora estava sendo punido. Ficou ali por muito tempo, desejando ter o poder de voltar ao passado e nunca ter lançado aquela maldição para início de conversa. Jamais ter mencionado uma roca de fiar ou o Beijo do Amor Verdadeiro...Subitamente, sentiu uma centelha de esperança. Talvez ainda houvesse uma maneira de acertar tudo. Talvez Sirius tivesse razão e o amor verdadeiro existisse para algumas pessoas. Erguendo o olhar, deparou-se com o do corvo.

_Encontre o rapaz – ordenou. Enquanto Sirius alçava voo, Severus fez uma prece silenciosa para que não fosse tarde demais.

The Sleeping Beauty - DrarryWhere stories live. Discover now