VII.

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Hariel
Gente, churrasco mais tarde na casa da Norte

Kaique
Uai, está com seu chocolate e quer churrasco?

Felipe
É, parça, nós deixou a casa para vocês e você querendo meter gente aí dentro

Thiago
Já deve ter visto que a mina é problema e quer que a gente vá para salvar

Hariel
Não é isso seu comédia

Hariel
Não posso explicar agora mas colem lá e chamem uns manos

Kaique
Você é louco, mano

Hariel
Por favor

Kaique
Por mim, suave

Felipe
É nóis, chefe

Thiago
Marcha

Hariel

— O que foi, branquelo? — Vitória pergunta, colocando o cinto de segurança. Guardo o celular no bolso e ligo o carro.

— Nada. Por quê? — pergunto, dando partida no carro.

— Dedos rápidos — diz, referindo-se a minha digitação. Sorrio.

— É, ouço muito isso — digo com o sorriso mais malicioso que consigo e a ouço rir. É, vai rindo...

— Agora entendi do porquê dessa sua fama.

— É, uso muito os dedos para caneta — Rio.

— Não acredito que estou falando com um oitava série — diz, rindo — Mas fala sério, o que você estava digitando?

— Com os moleque sobre uns bagulhos para mais tarde.

— Pensei que estava tudo certo.

— E está. São retoques finais, vidona.

— Acredito — diz e dou uma risada.

Vitória estende uma das mãos até o rádio e liga o Bluetooth, tirando o celular e o conectando logo em seguida. "1010" do Djonga começa a tocar.

— Essa é boa — digo, batucando no volante conforme as batidas.

— Todas desse álbum são.

— Gosta do Gustavo?

— Mas é claro.

— Já trombou com ele? — pergunto e ela dá risada.

— Ele é meu padrinho da cena.

— Papo reto mesmo?

— É, ele me ensinou muita coisa. Conheci as gêmeas por causa dele, já que eu usava o estúdio da Ceia.

— Caralho, eu não sabia.

— Normal, quase ninguém sabe. Eu pedi para ele não me apadrinhar publicamente.

— Nossa, por quê?

— Porque você sabe como o público é. Se soubessem que ele é meu padrinho do rap, tudo o que eu conquistei teria sido associado a ele e diriam que ele facilitou a minha entrada na cena de alguma forma. Claro que o Gustavo nunca pensou assim e nem queria lucro em cima disso mas eu decidi não ter meu nome associado a ninguém.

— Você fez certo, papo reto. Você é braba — digo de forma sincera — Você quer ser conhecida pelos próprios corres.

— Sim, por isso eu evito me envolver com os manos da cena e se me envolvo o público não fica sabendo.

— Como assim?

— Não é óbvio? Tipo, quando uma mina começa a ser vista com um cara da cena, tudo passa a ser associado a ele.

— Nem sempre — Dou de ombros — O Kyan e a Tasha, por exemplo.

— Prefiro não arriscar — diz, por fim, virando-se para janela.

Entendo o ponto de vista dela. É difícil passar anos trampando para ter reconhecimento e quando você finalmente consegue, associarem a outra pessoa. Gosto do modo como ela leva o corre dela mas se ela evita se envolver com manos da mídia, talvez isso embace um pouco para o meu lado mas que eu não possa dar um jeito.

Quinze minutos depois, chegamos no mercado. Estaciono o carro no estacionamento do local e adentramos o local logo em seguida. Noto que ela está um pouco estranha, como se estivesse preocupada.

— O que foi? — pergunto enquanto entramos no local.

— Nada — diz, tirando um carrinho da fileira de carrinhos.

— E por que está com essa cara de quem está cheia de neurose? — pergunto.

— É que... — diz, suspirando — Me veio agora que podem nos ver aqui.

— E o que tem?

— Podem entender errado.

— Como assim?

— Entender que estamos namorando ou tendo um caso.

— Viu? Está na neurose. Primeiro que essas páginas e os comédias chamam de affair — Sorrio mas sua expressão continua séria — Mas é tão ruim assim?

— Para mim, sim — diz, suspirando e então me lembro da conversa do carro e entendo o porquê.

— Pode pá, não tinha pensado nessa fita — digo, coçando a nuca — Mas eu venho aqui direto com os moleques, nunca saiu nada.

— Certeza?

— É mercado de boy, vida. O que eles mais vêem é artista.

— Vou acreditar em você, então — diz, sorrindo.

— Não tem porquê não acreditar.

— Já disse que conheço tua laia, garoto — diz, se direcionando para os corredores inclinada no carrinho.

— Conhece, é? — pergunto, a seguindo — E como é que eu sou?

— Como todos os artistas.

— Como você sabe se não se envolve com gente da cena?

— Mas já me envolvi e tenho uns amigos também.

— Mas eu sou diferenciado — digo e ela revira os olhos.

— Para de falar lorota e me fala o que tem que pegar.

— O  Kaique gosta daqueles uísques bem fortes, sabe? O Felipe fica pedindo água de coco depois de beber demais e...

— Eu estou falando de carne! É um churrasco, cabeção.

— Pode pá.

— Já está cheio de bebida aquela casa. Haja fígado! Vamos pegar logo o que precisa.

SUPERFICIAL hariel denaroWhere stories live. Discover now