VIII.

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Hariel

Passamos pelo menos duas horas fazendo compras. Enchemos o carrinho de compras de carvão, carne, pão de alho e tudo o que se precisa para um churrasco. Conversamos durante todo o tempo que ficamos no mercado, compartilhando nossas preferências em relação à comidas, bebidas e trilha sonora de churrasco. Tem algum tempo que não tenho assuntos que não são resumidos a transa com uma mina — principalmente se é uma mina que eu quero comer — mesmo que ouvi-la falando qualquer coisa e sendo tão boa de papo me deixe com um tesão do caralho.

— Pegamos tudo? — Vitória pergunta, enquanto terminamos de passar as compras no caixa.

— Acho que os dois carrinhos cheios mostram que sim — digo, rindo e ela sorri. O celular da preta vibra no bolso e ela lê uma mensagem, fazendo uma careta logo em seguida — Qual a fita?

— As meninas esqueceram de levar um biquíni e uma muda de roupa para mim.

— Ah, mano, mentira que ficou na neurose por isso — digo, rindo — Nós passa ali e compra.

— Mas estão esperando a gente levar coisas, vida e se até as gêmeas que eu chamei em cima da hora estão chegando, imagina o resto.

— Vai por mim, todo mundo está na mesma — digo e ela faz uma expressão de desconfiança — Você se preocupa muito. Eu assumo que fui eu se meterem o louco, parceirinha.

— E vai falar o quê?

— Que você caiu no conto do pescador — digo do modo mais cafajeste possível, fazendo-a dar risada.

— Seu bobo.

Terminamos de passar as compras e logo, pago o valor dos itens. Caminhamos até o estacionamento e colocamos as sacolas de compras no porta malas, entrando no carro e dando partida logo em seguida.

— Tem certeza que esse é o caminho de volta? — pergunta depois de alguns minutos de estrada e eu dou uma risada — Está me levando para o shopping, é?

— Eu disse que íamos passar lá, não disse? — pergunto e ela sorri, balançando a cabeça negativamente.

Continuo seguindo o caminho para o shopping e pouco tempo depois, chegamos no local. Estaciono o carro no estacionamento e subimos de elevador logo depois. Vitória tira o celular do bolso, tirando uma foto na frente do espelho logo em seguida.

— Vai um pouco mais para o lado por favor?

— Mas aí eu não vou aparecer.

— Esse é o intuito.

— Caralho, o que eu te fiz?

— Quero postar e não quero que vejam que estamos juntos.

— Essa fita de novo? — pergunto e ela faz um biquinho. Impossível não ceder — Beleza, eu fico de canto.

Me afasto e ela tira algumas fotos. Dou um jeito de aparecer na última foto, fazendo-a rir.

Descemos do elevador e começamos a caminhar pelo imenso corredor, vez ou outra parando para a preta analisar alguma vitrine e fazer uma careta depois de verificar o preço. Minutos depois, Vitória decide parar em uma loja. Observo enquanto ela olha as roupas com entusiasmo, passando os dedos pelo tecido e a colocando por cima do corpo. Noto que tem um segurança pousando em nós, principalmente na preta, com uma expressão de desconfiança, fico encarando-o.

— Perdeu alguma coisa, parceiro? — pergunto, cruzando os braços.

— Só estou tomando cuidado com as peças, senhor — diz. Nojento.

— E aquelas madame ali? Por que não cola nelas também? — pergunto, alterando um pouco o tom de voz — Sei que você não costuma ver preto e favelado por aqui mas nós somos artistas e estamos muito bem acostumados.

— Vocês são artistas? Perdão, eu não sabia.

— Perdão é o caralho, você tem que nos tratar bem independente disso — Vitória diz, devolvendo a peça para a arara — Vamos em outra loja.

Saímos da loja e adentramos o extenso corredor mais uma vez.

— Mano, que ódio, na moral. Odeio shopping de boy, papo reto — digo.

— Esses vermes do caralho.

— Mas pode deixar que eu gravei bem o rosto dele e o nome da loja. Esse comédia está lascado — digo.

Ficamos falando do assunto por mais alguns minutos até ficarmos em silêncio, assimilando o que acabou de acontecer. É comum que eu entre numa loja de marca e desconfiem da minha condição porque tenho aparência de quebrada mas para Vitória é uma situação muito mais recorrente e incisiva e não é tão difícil entender o porquê.

Algum tempo depois, entramos em outra loja. Vitória fica alguns minutos olhando algumas peças e escolhe uma saia jeans curta e escura e uma camiseta larga e da cor marrom. Logo depois, ela se encaminha até o fundo da loja onde há algumas prateleiras com biquínis de diversos jeitos e percebo que ela parece indecisa.

— Estou muito indecisa. Me ajuda? — pergunta. Que maravilha.

— Claro. Qual ficou em dúvida? — pergunto e ela aponta para um biquíni de cor marrom, outro da cor preta e um maiô também da cor preta com algumas aberturas na parte da barriga. Fico imaginando as três peças no seu corpo e acabo sorrindo involuntariamente — O marrom vai combinar muito com você e o seu tom de pele. Vai ficar muito gostosa.

— Eu já sou filho, se orienta — Ri.

— Tenho que concordar — Coloco as mãos para o alto em rendição.

— Mas obrigada pelo palpite. Vou levar o marrom mesmo — Sorrio.

No minuto seguinte, nos encaminhamos até o caixa, Vitória paga pelas peças e deixamos o estabelecimento. Enquanto descemos de elevador para o estacionamento, penso que esse é o tipo de programa que não costumo fazer com uma mina. Isso torna tudo meio estranho.

— O que o Hariel anda pensando? — pergunta sorrindo enquanto nos encaminhamos até o carro.

— Hum?

— Está quieto, com cara de quem está na neurose como você diz.

— Ah, é que eu estava pensando aqui que deveríamos ter levado mais bebida — Minto e ela revira os olhos, entrando no carro.

"Isso tudo tem que valer a pena, Hariel", penso.

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⏰ Last updated: Jun 06, 2023 ⏰

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