Capítulo 34

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Nathaniel e eu nos entregamos a beijos apaixonados, mergulhando em um mar de desejo e carinho, durante horas ficamos ali, apenas sobrevivendo da presença um do outro. Até sermos arrebatados pelo sono, cansados demais para continuar nos beijando, deitamo-nos abraçados na cama estreita e logo caímos num sono profundo e sereno.

Acordo bruscamente ao amanhecer, com a perturbação sonora do meu celular, berrando estridente em meu ouvido. Nathaniel ainda tem os braços em volta de mim e se remexe na cama, incomodado com o som.

Levanto-me e pego o aparelho, saindo do quarto para não perturbar ainda mais o sono de Nathaniel. Não reconheço o número quando atendo o telefone.

— Alô? — Digo com o cenho franzido, curiosa para saber quem estaria ligando.

— Bom dia, estou falando do complexo de detenção de Manhattan, poderia falar com a senhorita Aurora Turner? — A voz do outro lado da linha diz, fria e inexpressiva. 

— Sou eu mesma, aconteceu alguma coisa? — Respondo, já ficando ainda mais apreensiva.

— Temos uma ligação de um dos detentos para a senhorita. Deseja aceitar a ligação? Se trata do senhor Lucas Ferrero.

Meu coração acelera quando ouço o nome dele, não sei o que fazer, então simplesmente permaneço em silêncio por alguns segundos.

— Senhorita?

— Oi, claro, pode passar. — Digo sem pensar.

Após alguns segundos que parecem uma eternidade, ouço a movimentação do outro lado da linha, vozes se aproximando e se afastando, até que finalmente ele atende o telefone.

— Oi, Aurora? — Sua voz soa insegura. Meu coração dispara de medo.

Fico tão nervosa que por alguns segundos não consigo proferir uma única palavra. Minha mão começa a tremer e o suor frio começa a escorrer pela munha pele.

— Está aí, Aurora? — Ouço-o perguntar.

— Lucas? — Respondo com a voz baixa, tensa.

— Ah, graças a Deus. Pensei que você não atenderia. Só tenho direito a uma ligação, sabe… — Ele diz e deixa a voz morrer em seguida.

— O que você quer? Por que está me ligando do presídio? 

— Preciso que você fale com minha mãe. Ela ainda não sabe que estou preso, acho que seria bom se ela soubesse, mas, se puder, por favor não dizer o motivo da minha prisão…  

As informações correm pela minha cabeça com rapidez, paro de ouvir o que ele diz conforme me perco nas informações pela metade que ele passou. Sei que ele continua falando, mas ouvi-lo dizer que está preso parece fazer meu coração voltar ao ritmo.

— Você está preso? — Pergunto sem me importar em interrompê-lo, necessitando apenas de uma confirmação em todas as letras.

— Estou, eu… Bem, eu me entreguei. Contei o que aconteceu, o que fiz com você… — Ele para de falar por um momento e quando percebe que eu não falaria nada ele volta a falar. — Escuta, será que você poderia vir me ver? Precisamos conversar. Sei que sou a última pessoa que você deve querer ver nesse momento, mas… Por favor.

Novamente demoro a responder, minha cabeça dói pelo esforço que estou fazendo tentando entender o raciocínio de Lucas. 

— Não sei. — Respondo uma eternidade depois.

— Ah, certo… — Ele diz com a voz claramente decepcionada. — Preciso ir… Essas ligações têm um tempo. Por favor, só… Conte para minha mãe, mesmo que decida não vir.

— Certo. — Respondo e no mesmo minuto a ligação se encerra.

Demoro alguns segundos para voltar ao quarto, levo esse tempo para assimilar tudo o que me foi dito. Foi preso, ele se entregou e agora me pede para visitá-lo… Na cadeia.

Inicialmente, a mera ideia parece absurda, algo digno de risos — como eu, a garota que ele forçou, poderia considerar a hipótese de visitá-lo atrás das grades? No entanto, à medida que reflito sobre o assunto, percebo que talvez seja uma decisão sensata.

Existe a necessidade de encerrar essa história de uma vez por todas. Sinto um peso angustiante em meu peito e acredito que essa visita seja o passo necessário para expurgar esse sentimento negativo, não por ele, mas por mim mesma.

Entro no quarto e me deparo com Nathaniel, sentado na cama, aguardando minha volta. Apenas olhando para ele já sei que essa não será uma conversa fácil em que resolveremos as coisas sem maiores discussões.

Respiro fundo e me sento ao seu lado, consciente de cada movimento e respiração que ele faz conforme conto sobre o telefonema e minha vontade de comparecer no local.

— Nem ferrando Aurora. — Nathaniel diz, pela décima vez, enquanto tento explicar os motivos de eu querer ir ver Lucas no presídio. — Você não pode estar falando sério. 

— Nath, vão ter policiais lá, é um ambiente seguro. Você está problematizando à toa.

— Não é exagero, o cara te estuprou, Aurora. Você está vulnerável e traumatizada. Não é preciso ser um gênio para entender isso.

— Ok, me chame de burra se acha que isso vai ajudar em alguma coisa. — Grito frustrada. 

— Não foi isso que eu quis dizer Aurora, você sabe disso. Vamos discutir isso mais tarde ok? Preciso sair. — Nathaniel diz, passando mão pelos cabelos. 

— Claro, você vai fugir, porque adora fugir dos seus problemas. 

— Pelo amor de Deus, Aurora. Você não é a única com problemas aqui. Pare de achar que tudo gira em torno de você. Preciso ver minha mãe, droga. Use esse tempo para refletir sobre o que realmente quer. Nos vemos à tarde.

Ele diz e sai sem olhar para trás. Como não tínhamos aulas pela manhã, nada o impediria de ir ver a mãe, o que por alguns momentos me deixa ainda mais frustrada. Simplesmente queria resolver isso de uma vez.

Sento-me em sua cama e respiro fundo. Por que é tão difícil conversar com Nathaniel? Por que ele nunca entende o meu lado das coisas? Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto pego o celular.

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De: tur.p.aurora@gmail.com 
Para: CoNan.o.Barbaro@gmail.com 
Assunto: Escolhas de merda

Você já sentiu que está cometendo um erro? Estou tão confusa em relação à minha vida e sinto que não tenho ninguém com quem conversar.

Sinto que não deveria estar te mandando um e-mail agora depois de tudo o que aconteceu… Depois que tudo ficou num clima tão ruim… Mas realmente preciso de alguém. 

Aconteceram coisas terríveis e tudo parece estar desmoronando. Não quero falar sobre o que aconteceu… Só… Estou tentando resolver tudo, mas parece que ele simplesmente… Não me escuta. 

Me diga que você escuta sua pessoa especial mesmo que não seja o que você quer ouvir.

 Abraços, tur.
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Simplesmente aperto o botão de enviar, ignorando tudo o que passou, Collin disse que eu poderia contar com ele… E agora, nesse momento, tudo o que preciso é de Conan.

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