16.GENERAL VILELA

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Após Javier sair e fechar a porta do quarto, a expressão carrancuda do general desapareceu dando lugar a de um pai preocupado, cansado. Ele se aproximou mais de Analu, que ainda carregava seu olhar furioso. Ela estava ereta, queixo erguido e firme.

- Filha, ficamos muito preocupados quando soubemos o que aconteceu com você. Sua mãe, seus irmãos estão todos aflitos. Só queremos que volte pra casa.

- Eu já disse, eu não vou embora enquanto não por fim no Felipe Castro.

- Você não tem mais condições pra essa operação. Já estou ajeitando tudo com a embaixada para o seu retorno e do Rodrigo.

- Com que direito?

- Ainda sou seu pai.

- Mas eu sou maior de idade e dona do meu nariz, general.

- O quê você quer provar com isso, Aninha? Você sempre foi melhor em tudo que fez. Sempre se destacou, foi uma das poucas brasileiras a serem destaque no FBI durante seu curso. Foi nomeada na Polícia Federal na capital. Isso não é o bastante?

- É o meu trabalho, a minha vida. Isso aqui sou eu.

Vilela começou a esfregar seus olhos, provável cansaço da viagem, da preocupação com a filha. Isso era visível até pra Analu.

- Quando você resolveu seguir com a vida militar - ele continuou - acreditei que trabalharia com a parte burocrática, não em campo. Nenhum dos seus irmãos quis seguir. Marcos se tornou bancário, Caio médico e o Lucas um advogado. Quando quis fazer Direito, acreditei ser por influência do Lucas.

- Me desculpe se desapontei o general - a voz dela estava irônica.

- Não Aninha, você nunca me desapontou. Mas nunca imaginei que a minha princesinha se tornaria agente Federal e passaria por isso.

- Ossos do ofício - ela dava de ombros.

- Sua mãe e eu imaginávamos um futuro diferente pra você.

- Qual futuro? Ser educada pra ser dona de casa? Mãe? Ter filhos? Não senhor. Eu nunca vislumbrei a vida da mamãe.

- Não foi isso que eu quis dizer. Mas imaginávamos um futuro onde você não se arriscaria. Do que adianta correr atrás desse Castro, olha como ele deixou você. Pelo que entendi, se não fosse o agente Peña, essa hora eu estaria era levando seu corpo para o Brasil.

- Mas não aconteceu. Eu estou aqui e só saio daqui, com ele vivo ou morto.

- Já chega Ana Lúcia - a voz de trovão do general ressoou no quarto, fazendo ela dar um sobresalto - vou conversar com os embaixadores e vou por fim nessa loucura e quando voltarmos ao Brasil, será transferida onde possa ficar perto da gente.

- Para o inferno que eu vou - agora era ela quem gritava - eu não sou sua subalterna, você não é meu oficial superior. E não estamos mais no seu auge da Ditadura. Aqui você não manda porra nenhuma!

- Olha o linguajar comigo, menina!

- O CARALHO!!!! Viajou a toa vindo aqui. Eu não vou a lugar algum. E o senhor não moverá nenhum dedo pra me tirar daqui. Se quer levar alguém, leve o Rodrigo. Infelizmente ele ainda precisa se recuperar mais do que eu. Mas daqui eu não saio.

- Aninha, - a voz dele saía mais suave, mais doce - sua família está preocupada com você.

- Agradeço a preocupação deles. Mas minha resposta continua sendo essa.

- Ana Lúcia - a voz dele ficou rispida - se continuar com essa ideia...

- Vai fazer o quê? Vai me torturar como fez com aqueles pobres coitados no passado?

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