Capítulo 1 - Luto

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Texas, Estados Unidos4 de março, 2023

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Texas, Estados Unidos
4 de março, 2023

no primeiro dia parece surreal; no segundo a ficha ainda não caiu; no terceiro vem o choro, a insônia e as crises; na primeira semana você vive a vida se arrastando e pedindo para que tudo seja um pesadelo; em um mês você só chora se for ver fotos ou se tocar no assunto.
ao passar do tempo você sorri ao ver as fotos, mas você não lembra mais do som da voz, você chora em dias específicos. e quanto mais o tempo passa você acha que a dor passou mas ela continua ali, na forma de saudades mas você segue a vida, não tem como superar ou esquecer, perder alguém que ama dói que chega a faltar ar, fazer tudo girar e a vista embaçar, mas a vida tem que continuar e tá tudo bem, dói mas você sobrevive, porque tem que viver.

5 de outubro foi o dia que você morreu Beijamin, o dia em que eu recebi a pior notícia da minha vida e eu não queria acreditar no que eu estava ouvindo. agora é raro eu chorar por você, mas nos primeiros dias foi muito doloroso, chorei por 3 dias seguidos sem parar e depois que me desidratei que me recompus. tentei não pensar e não consegui nem ir ao seu velório porque imaginei o quanto ia doer mais ao ver você no caixão. tento segurar ao máximo e não pensar em você, mas teve dias em que não aguentei ao encontrar suas fotos e então chorei, chorei muito. você foi como um pai que eu nunca tive, sempre me tratou como uma filha, sua presença, suas gargalhadas, suas brincadeiras, seus conselhos e seus puxões de orelha. sem dúvidas minha mãe acertou em cheio ao escolher você como meu padrasto e eu amava te chamar de pai padrasto.

amanhã fará 5 meses que você morreu e lá no fundo sinto uma dor angustiante mas eu tento enganar essa dor de todas as formas, então eu e minha mãe decidimos vender nossa casa e morar em outro estado, achamos melhor assim porque você estava em todo lugar da nossa casa, seu cheiro, suas roupas. e cá estamos nós dentro do carro indo para Texas cheio de coisas dentro.

sentada ao banco da frente, uma música antiga em inglês tocava ao rádio enquanto mamãe batucava seus dedos ao volante. suspiro fundo e encosto minha cabeça no vidro vendo a estrada.

nossos móveis está logo atrás em um pequeno caminhão. confesso que sinto meu estômago embrulhar só de pensar que estamos indo para um estado totalmente diferente da que nós morávamos, pessoas diferentes e faculdades diferentes. o lado bom é que minha melhor amiga, Heloísa, já mora lá então não vai ser tão ruim, mas não quero pensar só pelo lado negativo. talvez seja muito bom que nos mudamos para um estado longe, podemos fazer uma vida nova, não que seja para esquecer de Beijamin, isso nunca, mas podemos recomeçar porque precisamos viver, principalmente a minha mãe que depois que ele nos deixou ficou em depressão por 3 meses, foi difícil sem ele para cuidar dela, durante esses 3 meses eu só saía de casa para fazer compras de necessidade básica.

uma parte de mim implora para voltar para a Flórida, voltar para a nossa casa, sentir o cheiro do mofo velho e comer no Taco's Ropper. mas a outra anseia por uma nova vida, um novo lugar e novas pessoas.

Medo de amar vocêWhere stories live. Discover now