Capítulo 11

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Lane Kenneth era uma criança magrela e atlética. De olhos claros e cabelos cacheados, tinha um esplendor dígino de uma garota negra que vivia correndo pelos cantos do bairro, sem medo de ter que lutar pelo que deseja. Os cachos castanhos viviam, na infância, presos de forma simples ou trançados numa tentativa, falha, de evitar comentários desagradáveis das outras crianças. Por conta da pele e dos cachos, Lane conheceu o preconceito de perto, cara a cara e de forma agressiva. Kenneth o transformou em amigo, força e aliado. 

A mulata lembrava bem dos pais, que faleceram enquanto ela crescia e ganhava conhecimentos preciosos para as diversas empresas em que ela já tinha trabalhado. Lembrava de como eles lhe incentivavam a estudar e como eram visionários. Acima de tudo, lembrava do maior concelho que seu pai poderia lhe dar: Ame a tecnologia e saiba como desvendar seus segredos. O mundo não viverá sem ela.

Foi graças a este concelho que a criança cresceu estudando cada grão da evolução tecnológica que tivesse algum relacionamento com a internet que, atualmente, a sociedade é refém.

A internet era o um pedaço de seu mundo e Lane sabia como usufruir deste pedaço.

Mike Tevee podia ser um gênio, mas Kenneth conseguia ser muito mais do que ele. E a prova estava em como ela conseguiu invadir os sistemas de Willy Wonka e ele se quer perceber que havia sido vigiado. Lane estudou cada coisa que a fábrica lhe fofocava pelos computadores simples e bem protegidos que Wonka usava. Estudou, caçou e reparou cada falha que havia na rede daquele mundo.

E fez isto por amor.

O mais puro amor que podia sentir.


Ϣ.Ϣ.


- Está melhor?

Willy Wonka estava verdadeiramente preocupado com Charlie Bucket. E o mais novo percebeu isto pela simples sonoridade da voz tão conhecida.

Entretanto, Charlie ainda sentia o estômago tenso pelo que tinha presenciado e a mente mergulhava em uma descrença dígina de lhe ofertar uma boa dor de cabeça.

O chá de boldo, feito com as folhas coletadas do parapeito da pequena cabana que ainda se mantinha firme e forte dentro da fábrica, deixou um rastro amargo em sua garganta e automaticamente começou a acalmar seu estômago fraco.

- Já podemos conversar? - Willy voltou a questionar.

- Desculpa. - Pediu o pupilo. - Eu, só.

Não sabia ao certo o que queria passar ao tutor, mas sentia que tinha que falar algo. Talvez alguma coisa simples ou, pelo menos, verdadeira. Algo que explicasse o quão grande fora o baque que sofreu, mas que não ofendesse Willy.

- Você - Wonka mordeu a parte interna da bochecha, dando uma pausa para caçar as palavras - Achou que eu tinha matado ela?

- Não o fez? - A pergunta vazou dos lábios vermelhos de Charlie. O tom revelava que ele realmente tinha pensado em assassinato e que estava surpreso e feliz por ter errado.

- Eu não sou assassino. - Willy respondeu. - Mas confesso que sei como matar alguém apenas com uma bengalada. - Soltou, por fim, uma risada sem ânimo e que não quebrou a tensão do momento.

Willy apoiou a cabeça na mão, ficando com ela levemente inclinada para a esquerda. Charlie estava do outro lado da mesa, olhando para a caneca em que outrora tinha uma boa quantidade de chá de boldo - o pior chá que Willy já tinha tomado, mas que parecia milagroso quando o assunto era estômago.

- Você poderia ter tentado conversar com ela. - Charlie anunciou.

- Ela invadiu minha fábrica.

A Fantástica Fábrica é invadida.Onde histórias criam vida. Descubra agora