Capítulo 16

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Joaquim

Encaro o céu nublado da janela do meu escritório já passa das meia noite e ainda não fui para casa, aquele apartamento parece vazio sem ela. Melinda trás vida para nosso lar, sempre que chego ela está dançando com uma taça de vinho com uma colher de pau na frente do fogão. O cabelo preso num coque desajeitado um pijama de cetim minúsculo é um colírio para meus olhos. 

Rafael e Helena parecem estar adiantando a lua de mel e está sendo uma injeção de glicose com aqueles dois cheios de amor, para colaborar com minha falta de sorte, Gabi foi fazer uma viajem com as amigas justo nesse final de semana.

Me viro para olhar a foto encima da mesa pegando a mesma nela estamos Thomás, Rafael, Camila, Melinda e eu na cachoeira nas férias de final de ano. Impossível não sorri com a lembrança na fotografia estou abraçando a Boazinha por trás descansando o queixo na sua cabeça, suas mãos cobrem a minha. Parecíamos um casal de verdade. Melinda foi meu primeiro amor, mais hoje só me resta as lembranças, ela nunca me amou! Seu coração sempre pertenceu ao Matteo e hoje mesmo separados ela continua amando ele.

No fim daquele verão, quando as aulas começaram e ela foi se distanciando e jogando sua colega de quarto no meu colo, guardei esses sentimentos numa gaveta bem no fundo do meu coração. Minha vida seguiu outra rota e a dela também.

Devolvo a foto para seu lugar, porque não tem como voltar no tempo, desligo o computador pego carteira e chaves indo para o elevador, afrouxo a gravata tirando o terno. Sinto o telefone vibrar no meu bolso direito, meu coração erra as batidas com o nome dela na tela.

- Oi, Mel. - atendi com ansiedade para ouvir sua voz suave. - Tudo bem ?

- Tudo e você?

- também, como está aí com as meninas? - perguntei saindo do elevador. O prédio está vazio, apenas com os seguranças no saguão. - ainda não enlouqueceu ?

- Céus! Estou a beira de um colapso. - brinca dando risada.

- imagino que sim. - sorrio entrando no carro, me posicionando atrás do volante.

- Quim... - chama tímida. - posso te fazer uma pergunta?

- Claro! - o silêncio ensurdecedor preencher o ambiente por alguns segundos - Mel? Esta tudo bem ?

- Se eu não tivesse me afastado, onde estaríamos? - sinto um nó se formar na minha garganta, que pergunta era aquela?

- Mel, você foi apenas para o aniversário da sua afilhada! Não é como se fosse ficar aí.

- Estou falando na adolescência, e na faculdade. - sua voz embargou, e pude ouvi-la fungar . - o que você fazia se eu tivesse falado que estava apaixonada por você ?

- Eu teria te beijado, até perder o fôlego! - pensei auto demais. - No fundo, sei que poderia ter tomado uma atitude, mas era jovem demais para ter coragem. Mas por que esse assunto agora? Depois de tantos anos.

- Ontem caiu a ficha que nunca vivemos a nossa história, por mais que depois daquele verão eu tenha evitado você, e depois veio a Pamela...

- uma parte de mim tinha esperança de que você se desse conta que era você que eu queria! só que desisti quando te vi com o Nicolas, eu tentei fingir que não estava doendo.

- então pediu a Pamela em casamento? - acusa com a voz carregada de mágoa. - Thomás me contou o que aconteceu no dia que ela morreu. Aquilo é verdade?

Me dói confessar isso, deixo as lágrimas rolarem pela culpa, cada poro da minha pele ecoa que elas poderia estar viva se eu não fosso tão apaixonado por essa mulher. - Sim - digo num fio de voz.

- Joaquim eu...

- Mel isso foi há muito tempo,já  passou. - Não, não passou porra nenhuma, Meu peito está vazio, e a única que poderia preencher essa lacuna é exatamente quem deixou o buraco. E Melinda não vai.- Não se martirize por algo que não foi sua culpa.

- Eu sei, só que eu cometi um erro acontece que o Matteo não era o cara certo, muito menos o Nicolas! - a cada palavra que sai da sua boca meu estômago se contorce em ansiedade. - Miller, demorei para perceber que você é o cara certo para mim.

- Melinda, er...eu... - tento dizer algo mais as palavras não saem.

- Me desculpa por demorar quinze anos para perceber! - o meu coração imediatamente se acelerou com sua declaração.

- NOSSA! - alguém gritou do outro lado da linha. As meninas.

- Mel, somos amigos há muito tempo. - Digo passando as mãos nos cabelos. Sei que vou me arrepender do que vou dizer mas não posso ficar com ela. - Não vamos estragar o que temos, nos envolvendo. Eu preciso desligar!

- Joaquim! - Posso ouvir meu nome saindo num fio de voz antes antes de desligar o celular.

Soco várias vezes o volante, até senti meu punho dolorido. Merda! Ligo o carro e seguindo para casa, o trânsito tranquilo faz com que finalmente posso descansar desse dia infernal. O que não acontece já que suas palavras ecoam na minha mente.

Vou para academia que tenho em casa, pego as luvas de boxe e começo a socar o saco de areia - você é o cara certo para mim.... - mais um soco.

No fundo da sala toca um rock no volume máximo. E nesse momento agradeço por ela ter dado a ideia de abafadores nas paredes. Melinda costuma pensar em tudo, algumas das nossas melhores noites haviam sido aqui nesse tatame. Depois de um dia exaustivo de trabalho vínhamos aqui, ela precisava extravasar toda raiva que sentia pelo Sullivan. E, também tinha as noites que ela ficava frustrada por perder algum cliente importante, e me batia como se a culpa fosse minha, eu ficava louco para beija- la.

Para um homem na minha posição era fácil consegui sexo em outros lugares. E, eu conseguia! Mas nenhuma era ela, não dava para conseguir com mais ninguém o que tinha com ela. Melinda é minha melhor amiga, já passamos por tantas fases e não importava o tempo que passasse ela nunca sairia verdadeiramente do coração. Mulher nenhuma tinha força o bastante para arrancá-la do seu lugar ali.

Suspiro segurando o saco ofegante, fecho meus olhos e vejo seu enorme sorriso. Volto a bater no saco de areia. Sempre achei ela bonita, mas nunca ficava tão bonita como quando estava sentada nesse tatame suada e descabelada. Som para me trazendo para a realidade. Olho meu irmão parado no batente da porta com a sobrancelha escura arqueada e um olhar questionador.

- já se passa das 3h. - ele aproxima segurando o saco - Imagino que esteja imaginando o rosto de um chef cretino de olhos verdes.

- O que ? - pergunto voltando para minha briga.

- Se não é o fato da Boazinha estar numa fazenda com o Sullivan, o que está tirando seu sono? - paro e encaro meu irmão.

- Melinda me ligou. - tiro as luvas e jogo no chão.

- E ? - me encorajou a conta sobre a conversa.

- perguntou o que eu faria se ela estivesse apaixonada por mim.

- E você é claro disse que ama ela né. - ele parecia estar eufórico. Nego vendo seu sorriso se desfazendo. - Cara, tu é muito idiota! Você vai perde essa mulher, e não vem chorar no meu ombro depois que vê-la com o Noah. Você sabe muito bem que ele está afim dela.

Sim, realmente eu era burro demais, levei tanto tempo para ouvir que ela também me queria que simplesmente à rejeitei. Enfim, eu percebi a merda que acabei fazer. Vendo meu desespero meu irmãozinho, sorriu de lado deixando claro tinha um plano.

Você Nunca Saiu Verdadeiramente Daqui Where stories live. Discover now