Capítulo 22

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"Estou no fogo cruzado de meus próprios pensamentos,
A cor do meu sangue é tudo o que vejo nas pedras,
Enquanto você se navega para longe de mim,
Alarmes tocarão eternamente,  
Meus ossos vão branquear, minha carne me abandonará,
Então ajude meu corpo sem vida a respirar"My Blood, Ellie Goulding.


     Quando eu acordei, eu não era eu. Quando meus olhos se abriram eu senti que estava em outro corpo, porque certamente esse não era o meu.

     Eu vestia algo que cobria a parte de cima e a de baixo, mas entre essas peças faltava algo. Pele, faltava tanta pele. Eu não entendia o fato de ser uma dor ardente e constante.

     Me colocaram em outro corpo, esse não era o meu.

     Eu quero meu corpo de volta.

     Minha boca se abriu e eu deixei que a dor se comunicasse comigo. Por que doía tanto? Por que a dor soava tão alto? Era maior que meus sentidos, meu cérebro mal conseguia processar.

     Minhas células estavam vulneráveis. Uma vulnerabilidade que corroia, algo que nunca esperei sentir na vida. Minha cabeça não processava nada além da dor se irradiando em mim.

     A porta se abriu com tanta rapidez que ela acertou a parede e voltou. O porte alto de Azriel passou por ela enquanto a dor ainda se expressava. Eu fechei meus olhos apertando minhas pálpebras esperando que aquilo passasse, que a dor fosse imaginária, um sonho que vazou para a realidade, mas não doía de forma imaginária.

     Ela era tão real que doía na alma, atravessa os ossos, tão longe que minha mente revirou. Nunca senti isso antes, jamais tinha experimentado tal coisa. Quando Azriel pôs as mãos em mim eu não conseguia fazer nada além de colocar a dor para fora. Era alto, torturante e cansativo. O Caldeirão estava me fervendo. Borbulhando minha pele, me tirando a consciência.

       — Silena, você está bem – Ele apontou. Azriel disse mais algumas coisas que não entendi. Meus olhos se encheram de lágrimas e transbordaram. — Você está bem, meu amor. Está tudo bem.

     Eu me encolhi, me retraindo até estar enrolada em meus próprios braços. Azriel tocou em meus cabelos e repetiu que eu estava bem.

     Eu não me sentia bem.

       — Az...

     Os lábios de Azriel aterrissaram no topo da minha cabeça e seu semblante deprimido me fazia entender o porquê a dor havia chegado, e o motivo de ter permanecido. No fundo da minha mente eu me lembrava. O cheiro de fumaça ainda tomava conta das minhas narinas.

       — Tudo está bem, meu amor. Estou aqui com você.

     Era como se eu pudesse ler a íris de Azriel, ver dentro da sua mente o que ele não me dizia em palavras.

       — Estou morrendo? – Minha voz se quebrou como ondas

       — Não – Ele sorriu sem mostrar os dentes e seus olhos brilharam, um brilho de lágrimas não derramadas. Ele também sentia dor — Está bem.

     Essa palavra não se encaixava para definir o meu estado. Não quando parecia que o fogo corria pelas minhas veias. Em algum momento minha garganta sufocou, o ar entrou com dificuldade.

       — Você precisa se sentar – Azriel me disse, mudando a posição da sua mão para minha coluna. Sua mão estava gelada, o que era um péssimo sinal. Nós sempre estamos na mesma temperatura.

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⏰ Última atualização: Oct 20, 2023 ⏰

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