Notícias de Casa

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Naiáde quebrou o selo com o brasão da família Duzzani e abriu com o coração ansioso, faziam mais de 20 dias desde a partida de Otto, mas não era realmente dele que mais sentia saudade, encarou as letras elegantes no papel e sorriu em nostalgia antes de começar a ler.

Querida irmã, como você está?  Eu não sabia exatamente o que dizer quando pensava em escrever essa carta mas creio que nada seria melhor do que a verdade. Estamos sentindo sua falta, não apenas eu e os meninos, mas também cada uma das pessoas que servem a família Duzzani. Até mesmo Otto, que não tem um temperamento muito acolhedor também carrega constantemente um olhar culpado.
Fabio pergunta diariamente sobre as aulas de arco e flecha e sobre o roubo de biscoitos, esperamos te ver logo.

Minha irmã, conhecendo você sei que deve querer saber como o país está lidando com o conflito com Belfort, não sou muito esclarecida com esse tipo de assunto mas direi que o exército não retornou ao país, e o rei convoca os generais e meu pai, o ministro da guerra, com frequência para reuniões.

Minha querida, peço que se preserve e faça tudo que puder para se manter em segurança, sempre foi inteligente e perspicaz, acredito que suas habilidades e seu bom julgamento te ajudarão em qualquer dificuldade que venha a enfrentar. Peço que responda essa carta quando receber e que diga se houver algo daqui que precise, te enviarei imediatamente.
                     Atenciosamente, Liana Duzzani.”

Um misto de sensações tremulavam em sua mente, se o exército não voltou a capital de Cargia então poderiam ainda estar lutando, ou pior, tramando um ataque obviamente suicida a Belfort, se houvesse um ataque a capital não haveria um lugar seguro para se estar e muitos dos moradores morreriam na ocupação, mesmo que estivessem desfalcados ainda eram milhares.
Mas o que poderia fazer sem saber mais? Suas informações eram escassas, estava sozinha e distante, se ao menos tivesse um meio de escrever para ele, poderia não se sentir tão inútil.

— Senhorita?— ouviu Freya chamar e afrouxou o aperto do punho colocando a carta sobre a cama.— Algo errado ?

— Não tenho certeza, acho que algo ruim vai acontecer em breve.— admitiu seus pensamentos com um olhar sério, ainda pensando, as cartas costumavam ser enviadas por um mensageiro a cavalo, muito mais rápido do que a carruagem. Pelos seus cálculos, Otto já estava na capital Cargiana a pelo menos dez dias e a carta saiu das mãos de Liana a pelo menos cinco dias. Ponderou por mais algum tempo, duvidando que Otto pudesse orquestrar um ataque surpresa a Belfort ou ao seu exército, era impossível considerando a capacidade tátil. O país com a melhor defesa do continente não ganhou fama atoa. Belfort tinha um exército maior e melhor preparado enquanto Cargia, tinha um filho de um general lendário comandando o seu exército com fama emprestada. Definitivamente estava errado, seus sentidos avisaram aos gritos.— Preciso falar com Sua Majestade.— disse prendendo os cabelos e caminhou para fora levando a carta consigo. O rei era um homem ocupado, obviamente, governar um país tão grande deveria ocupar muito do seu tempo mas não estava disposta a ser compreensiva, precisava fazer algo, qualquer coisa. Parou com o andar apressado quando avistou Augusto caminhando com um bule de chá em uma bandeja de prata e o seguiu. Talvez pudesse se esgueirar para dentro do salão atrás do mordomo do castelo, mas não precisou.

— Senhorita, por favor, queira me acompanhar.— disse o ancião sem se virar. Era alto e estava sempre impecavelmente arrumado, com os cabelos brancos e um olhar calmo.— Sua Majestade solicita sua companhia para o chá.— completou ele surpreendendo-a, a oportunidade perfeita se apresentando quando mais precisava, como poderia recusar?
Ouviu sapatos batendo contra o piso e a voz estridente veio em seguida, fazendo Naiáde morder o lábio para evitar a careta.

— Estou aqui para ver o príncipe James.— disse a mulher e caminhou para dentro sem esperar que a criada a atendesse.

— Senhora, o príncipe não está disponível para visitas hoje, não pode entrar dessa forma.— disse a criada sem se aproximar muito, carregava um olhar assustado. Naiáde se irritou, os criados eram mais educados e responsáveis quanto mais alto a posição da casa que serviam, também precisavam ser esclarecidos, confiáveis e de boa índole. Aquela trabalhava no palácio e estava cumprindo seus deveres mas foi ignorada.

— Céus, que bobagem, é claro que ele vai me receber.— responde a mulher. Naiáde a olhou dos pés a cabeça reprimindo o olhar de julgamento e se virou novamente para seguir o mordomo.— Oh, então essa é a mulher que vale um reino ?— indagou a mulher fazendo Naiáde parar e se virar outra vez.

— Senhorita, essa é Ashley Lewis, filha de Durant Lewis, marquês de Villena.— disse o mais velho.— E essa é a convidada de Sua Majestade, senhorita Naiáde Duzzani.— completou ele em tom cadenciado e constante, Naiáde fez uma leve reverência mas não falou. O rosto fino, as joias e os cabelos dourados arrumados em cachos a faziam parecer realmente de família nobre mas o sorriso debochado que ostentava fez Naiáde se irritar outra vez.

— Não parece valer um reino, os boatos que estão circulando na capital são exatamente isso, boatos, e completamente infundados.— disse Ashley tocando o colar pesado com um sorriso venenoso na face.

— Ficaria surpresa com o que é capaz de realizar uma mulher que foi devidamente instruída, senhorita Lewis. A beleza pode garantir que se case de forma mais vantajosa do que outras mulheres, mas no final, esse é o máximo de poder que vai ser capaz de alcançar, o de uma esposa. Ficará em casa tendo herdeiros e definhando enquanto seu marido se diverte com os privilégios de sua boa posição. E a beleza não dura para sempre, ainda mais se tiver muitos filhos.— disse olhando a loira de cima, as mãos coçaram para apertar o pescoço pálido da mulher odiosa à sua frente mas se conteve com graça.— Com sua licença, Sua Majestade está me esperando.— completou antes de se virar seguindo Augusto que sorria com os olhos. Foi atrevida e desrespeitosa no tratamento com a filha de um marquês mas não se arrependeu, o que ela poderia fazer para revidar de qualquer forma? Nada que a surpreendesse nessa altura.

A FILHA DO GENERAL Where stories live. Discover now