Onze

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O contraste exuberante da cena se dava de forma dificilmente explicável. O salão gigantesco fazia-se perder a vista o seu fim, com as colunas colossais subindo para um teto tão alto que sequer era alcançável à vista. Uma fina e densa camada de névoa levemente esbranquiçada quase sumia, mas contraditoriamente existia não-existindo, como um manto tímido e ilusório cercando ao redor.

Ao longe, quase inaudível, quase inexistente, um assobio agudo e constante ecoava fraco. Não chegava a ser incômodo, mas a constância do som chegava como um arrepio na nuca de todos os presentes naquele salão.

Ao centro do local estava a garotinha, com seu longo manto de textura plastificada, e seus três coques despontando para cima num moicano volumoso. Ela estava parada, encarando o grupo estático bem diante de si — Trena permanecia com uma expressão serena em seu rosto juvenil, quase que como se quisesse imitar um paciente monge.

E, diante a metamorfa extra-dimensional, o grupo improvável olhava ao redor assustadíssimos. Nada neles combinava com a cena, estavam feridos, com roupas sujas e maltrapilhas, armas marcadas por sangue seco, e expressões que iam do horror ao trauma numa linha tênue à insanidade. Dona Odete, Jonas, e Rafa, Scarlet, Fred [Fandangos], Jéssica [Kimico], Erica e sua mãe. Oito pessoas horrorizadas e confusas, paralisadas ombro a ombro.

— Sejam bem-vindos, eu...

Trena foi abruptamente interrompida. Dona Odete não deu chances ou tempo para que a garotinha esquisita continuasse o discurso. A velha rapidamente puxou sua espingarda e disparou um tiro certeiro bem no meio da cabeça da menina.

Fred berrou em horror com o susto, cobrindo as orelhas em um gesto assustadíssimo. A mãe cobriu a cabeça de Erica no mesmo instante, impedindo a filha de ver uma estranha garota com uma cabeça estourada e pendurada para as costas. Jonas, incrédulo, olhava para Dona Odete e depois para a menina com um buraco enorme no meio da testa, e depois de volta para Odete.

— O que????!! — Jonas  soltou um grito rouco.

— Tô cansada dessa palhaçada! — Odete pronunciou, com sangue nos olhos — Eu ein?! Garota esquisita!

— Você atirou nela?!!!!!

— Quer que eu atire em você também? — Dona Odete imitava o mesmo tom gritante do homem, tão nervosa que as rugas se misturavam com as veias saltando em seu rosto avermelhado — Eu tô é pistola! Quem ela pensa que é pra ficar abduzindo as pessoas assim???!!! Eu cansei!!! Palhaçada!!! [Muitas exclamações!]

— Vó???

— Cala a boca você também! — A velha interrompeu Jéssica, bufando.

Trena estava com sua cabeça pendurada para as costas, como se seu pescoço estivesse quebrado com o tiro, mas de forma sobrenatural, a cabeça voltou ao lugar. Ainda com o enorme buraco no meio da testa, sendo possível ver o outro lado do salão, a garota esforçou em soltar um sorriso calmo no seu semblante estourado.

— Calma, está tudo bem! Como que diz? Ah Eu vim em paz.

Os oito voltaram a atenção para Trena em puro choque.

Por uma fração de um microssegundo, Trena não era uma garotinha humana. Aquilo estava longe de ser qualquer coisa possivelmente descritível. Uma massa de energia, algo como uma asa, que se abria em uma centena de outras, misturando-se com Anéis flutuantes que rodeavam em si, saindo e entrando num movimento eterno de algo semelhante ao ferrão de um escorpião? Depois disso, era a mesma Trena de antes, sem o tiro.

— Agora entendo o porquê você ser uma das favoritas de nossa audiência! — Trena se direcionou para uma Odete boquiaberta [claramente traumatizada].

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⏰ Last updated: Dec 02, 2023 ⏰

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P.P.P. - Projeto: Pode piorar?Where stories live. Discover now