Batizada.

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Assim que o dia raiou, o despertador que estava na mesa ao lado da cama de Luci tocou, avisando que estava na hora de levantarmos. A privacidade de ter o nosso próprio banheiro me enche de animação.

Tomo um banho rápido, já que Luci está esperando para tomar também. Escovo os dentes e os cabelos, olhando o rosto pálido que surge no espelho sujo e velho.

- Qual a sua primeira aula? - Luci perguntou.

- Filosofia da religião. - digo, juntando meus lápis.

- Você precisa passar na biblioteca. - disse, retornando ao banheiro. - A Senhorita Sophia deve estar lá a essa hora.

- Acho que vou fazer isso, antes das aulas começarem. - digo, fechando a mochila que agora está pronta.

Saio de nosso quarto, seguindo até a biblioteca do instituto. Os corredores são movimentados, como os de um colégio ou orfanato comum. A biblioteca é a minha parte favorita.

São dois andares de paredes enormes, repletas de livros extremamente raros. Há um carpete colorido que cobre toda a área possível, deixando um ar mais colorido.

- "A fé não poderá protegê-la de uma explosão" - uma voz feminina diz, vindo junto com o barulho que o salto faz no piso.

- Anjos e demônios. - digo a senhora loura, que vem caminhando em minha direção. Ela me mostra a capa do livro, me mostrando que eu estava certa.

- Sou a Senhorita Sophia, sua professora de filosofia da religião. - me cumprimentou com um aperto de mão. - Você deve ser Luísa.

- Sou eu. - respondi, tímida.

- Bom, aqui estão os seus livros. - apontou para uma pilha de cinco livros. - Literatura, biologia, geografia, física, história e ... Nossa, acabei esquecendo seu livro de filosofia. Poderia pegar para mim? - perguntou.

- Claro. - respondi.

- Ah, obrigada. Está do outro lado, em cima da mesa de canto. - disse, apontando para uma prateleira de livros enorme, que dividia a sala em duas.

Caminho até lá, observando o tamanho do espaço que há aqui. Há uma poltrona em minha frente, virada de costas para mim. O rapaz de ontem a noite está sentado nela, dormindo em uma posição consideravelmente desconfortável.

Ele tem um rosto pálido, cabelos negros, traços fortes e parece dormir tranquilamente. Em seu colo estão uma pilha de papéis, com desenhos e eu não me controlo, decidi me aproximar para ver o que há nesses papéis.

Como desastrada que sou, acabo deixando minha mochila cair em seus pés, fazendo com que o rapaz acorde. Ele abre os olhos lentamente, como quem acorda relutante.

Sua expressão muda assim que ele vê que sou eu. Ele parece se assustar, ficar nervoso, como se me confundisse com alguém. Ele se levanta rapidamente da poltrona de veludo vermelho.

- Me desculpe, eu só... - tento me desculpar, mas ele simplesmente sai da biblioteca, me deixando sozinha e cheia de perguntas.

Deixo meus livros no dormitório, sabendo que chegarei atrasada na primeira aula. Por sorte, senhorita Sophia é a professora e sabe onde eu estava. Quando chego a sala, todos os outros já estão em seus devidos lugares. Luci reservou uma cadeira para mim ao seu lado.

Observo o rosto de todos que estão presente, reconhecendo Angel, a moça que me ajudou assim que cheguei ao lado de um rapaz muito bonito, estupidamente parecido com ela.

Ele tem cabelos cacheados e loiros, como um verdadeiro anjo. Olhos azuis e um sorriso largo, um dos mais bonitos que já vi. A mão de Angel está sob o braço do rapaz e me pergunto se eles são namorados.

Mais ao lado posso ver Cam, o garoto que foi extremamente ruim comigo logo que cheguei e o rapaz que vi dormindo na biblioteca. Seus olhos estão focados naqueles papéis, desenhando alguma coisa com uma espécie de giz preto.

- E se os anjos vagassem aqui, agora, por entre nós. - Sophia diz, me fazendo soltar um riso nasalado. Sim, bem provável que isso aconteça.

- Anjos. Exilados dos céus, obrigados a viverem entre nós, meros mortais. - continuou. - Quem pode me dizer sobre o que se tratava a guerra entre o céu e o inferno? - Sophia pergunta enquanto caminha pela sala, batendo o seu salto a cada passo que dá.

- Toddy? - pediu ao rapaz do meu lado.

- Ah... O bem e o mal? - Toddy respondeu sem muita certeza.

- Não, isso é "vago" demais. - disse. - Lúcifer era o anjo favorito de Deus, a sua luz mais brilhante. O que o fez se rebelar contra o próprio pai? - perguntou.

- Ele levou um fora da namorada. - uma garota de cabelos roxos, respondeu. Ela ri, junto com Cam e sua turminha.

- Mas o que aconteceu com os outros anjos? - pergunto, levantando a mão.

Todos da sala me olham de uma maneira estranha, como se isso fosse um assunto delicado.

- Os que apoiaram Satã foram banidos para o inferno e os que apoiaram a Deus permaneceram no paraíso, Luísa. - Sophia respondeu vagamente.

- Não, os outros anjos. Os anjos que não escolheram nenhum dos lados. - explico.

- São os anjos caídos. Presos aqui na terra, obrigados a vagar entre nós, até que o anjo rebelde escolha o lado. - Sophia diz, lançando olhares para o rapaz da biblioteca e o garoto de rosto angelical.

- Mas você deve ter aprendido isso com seus pais, Luísa. - Angel diz, olhando para mim.

- Hã, não. - digo, soltando um sorriso desconfortável. - Eu não conheci os meus pais.

- Você não frequentou a igreja quando era pequena? - perguntou, confusa.

- Não. Nem se quer fui batizada. - respondi. Sinto o olhar de todos sobre mim, o que me deixa extremamente tímida.

- Mas você não veio de um orfanato comandando por freiras? Elas deveriam ter te batizado. - Sophia entrou no assunto.

- Pois é, também não sei explicar o porquê. - digo, confusa por todo mundo estar tão surpreso pelo fato de que não sou batizada.

ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs Where stories live. Discover now