Fogo.

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Assim que Luci sai do banheiro, posso ver uma jovem garota, totalmente empolgada para fazer algo que nunca fez antes. Ela escolhe algumas peças de roupa da sua cômoda, pedindo minha opinião.

- Esse? - perguntou, me mostrando uma jaqueta esquisita.

- Pode ser. - digo, seguindo para o banheiro.

A água do chuveiro não é quente, mas eu não me importo. Me dei o luxo de tomar um banho calmo e demorado, na esperança de que eu consiga organizar meus pensamentos enquanto a água cai sobre meu corpo pálido.

Diferente de Luci, visto a primeira roupa que encontrei. Eu não trouxe muitas roupas, já que as que tenho agora, foram doações de outros orfanatos. Uma calça jeans e um moletom devem ser o meu uniforme, já que uso isso quase todos os dias.

O lugar onde a festa acontece é realmente bizarro. Tivemos que passar por corredores subterrâneos do reformatório, que me lembravam masmorras ou algo do tipo, e agora estamos em uma espécie de floresta fria e escura.

- Ainda não acredito que estou indo a uma festa do Uriel! - Luci diz, batendo palminhas de empolgação.

O falatório dos jovens, as luzes e uma espécie de fogueira indicam que estamos no caminho certo. Todos olham para Luci e eu, certamente se perguntando o que as duas esquisitas estão fazendo aqui ou quem nos convidou.

- Vocês estão adoráveis! - Angel diz, nos cumprimentando. Fico tímida com seu elogio, colocando minhas mãos nos bolsos do moletom.

- Você também. - digo. - Como sempre.

- Obrigada. - Luci agradeceu.

- Vocês são umas fofas. - ela diz, antes de sair.


- É errado meio que não gostar dela? - pergunto a minha colega.

- Porque? Só porque ela é uma loira extremamente perfeita, com cheiro de mel e rosas, bronzeada, depilada e desejada pelo Tom? - Luci diz, enquanto podemos ver ela indo na direção do Tom, lhe abraçando.

- É. - digo. - Por causa disso.

- Bom, eu te entendo. - ela diz, me fazendo rir.

- UHUL! ALGUÉM AÍ ESTÁ COM SEDE? - Uriel gritou, fazendo com que nós duas tivéssemos um susto.

Alguns rapazes aparecem atrás dele, segurando alguns barris de chopp. Começam as bebidas, a música alta e as danças estranhas em volta de uma fogueira no meio da floresta.

Alguns se beijam, outros conversam, todos conectados de alguma maneira, enquanto eu e minha amiga, estamos totalmente perdidas nesse ambiente.

- Você quer uma bebida? - pergunto a Luci.

- Ah não, eu não bebo. - ela diz.

Concordo com a cabeça e sigo em direção a um dos diversos barris espalhados por aqui. Eu também não bebo, mas o lugar me obriga a fazer coisas novas, que talvez eu possa me arrepender depois.

- Ainda estou tentando entender como você veio parar aqui. - a voz de Daniel é rouca e aveludada, falando muito próximo ao meu ouvido, enquanto coloco a bebida em meu copo.

- Foi você que me convidou. - digo, me virando para encará-lo.

- Não foi isso que eu quis dizer. - ele diz, lançando um daqueles seus olhares penetrantes para mim, colocando suas mãos nos bolsos da calça jeans preta que ele usa.

- Com todos os outros é óbvio, não é? - ele diz, falando calmamente. - Drogas, depressão, vandalismo. - Daniel cita coisas sobre as pessoas que estão ao nosso redor, como se fossem uma identificação para cada um deles. - Porque você veio parar num lugar como esse? - insistiu.

- Talvez eu não seja tão inocente. - respondi, saindo dali, dando um gole na bebida amarga. Posso ver Tom nos observando, como se estivesse extremamente irritado com a nossa aproximação. Eles se encaram com ódio no olhar, separados apenas pelo fogo alto da fogueira.

- Oi. É a fórmula de um átomo? - Daqui consigo ouvir Tody perguntando a Luci.

- É sim. - ela respondeu, meio tímida.

- Meu Deus, você é tão nerd! - ele fala, mas a sua entonação é como se fosse um elogio para ela. - Tipo, você não está tentando ser descolada. Você É descolada.

- Bom, eu já fui chamada de várias coisas na vida, mas descolada é a primeira vez. - ela diz, dando risada junto com ele.

O jeito como ela parece estar gostando da conversa, me deixa com o coração quentinho. Luci não tem amigos aqui, então essa aproximação para ela é realmente importante. Fico constrangida por ter que me juntar a eles e acabar atrapalhando os dois.

- Oi. - digo, cumprimentando-o.

- Ah, oi. - ele diz, tímido. - O que é isso? - perguntou apontando para o meu copo.

- Chopp. - respondi, olhando para o meu copo quase vazio.

- Você quer beber? - Tody perguntou a ela.

- Quero sim. - aceitou, saindo de mãos dadas junto com ele, me esquecendo aqui sozinha.

Tom e Angel estão conversando, me deixando talvez um tanto quanto enciumada. Eles estão sorrindo, se tocando e próximos demais. Me pegando de surpresa, sinto alguém me empurrar e por pouco, não caio dentro da fogueira.

- Lembranças ruins? - Cam pergunta baixinho em meu ouvido. - Ainda pensa neles?

- Neles? - perguntei, confusa.

- Nas pessoas que matou. Você sabe, o orfanato. Paredes coloridas, crianças órfãs, adolescentes doces. Não sobrou nada para admirar. - ele diz, pegando uma espécie de tocha da fogueira, insinuando que vai me queimar. - Eu sei tanto sobre você. - Cam diz, inclinando a cabeça para a esquerda. - Talvez mais do que você mesma.

- Sai de perto de mim. - digo, tentando fugir do pedaço de madeira flamejante, que ele insiste em tocar em mim.

- Já chega! - Angel diz, aparecendo entre a tocha e eu.

- Cala a boca, ou eu faço uma cicatriz na sua cara, para combinar com a das costas. - ele diz, cheio de raiva em sua voz.

Daniel se aproxima, pegando Cam pelos braços, o afastando de perto de mim. Angel abraça meus ombros, me afastando o máximo que pode de perto deles, me tirando daqui como se eu fosse um animalzinho ferido, que precisa fugir de um predador.


"- O que tá fazendo? - pergunto a Cam, pressionando o mesmo em uma das árvores.

- Só estou brincando com a sua namoradinha. - ele diz, com sarcasmo em sua voz.

- Fica longe da Luísa. - digo por entre os dentes.

- Ah. - ele solta um gemido penoso. - Perdeu a noção, Daniel? Você sempre quer o que não pode ter. - respondeu.

A raiva é maior que eu e me vejo enforcando-o, apertando minhas mãos em volta do seu pescoço, sentindo o sangue pulsar em suas veias. Ele arregala os olhos, implorando por um pouco de ar, sofrendo em minhas mãos.

- Dessa vez ela vai ser minha. - digo, olhando no fundo dos seus olhos vermelhos.

- Me solta! - Cam diz, conseguindo se livrar de minhas mãos. Observo Uriel me olhar, sabendo que talvez eu tenha passado dos limites."

"- Cadê a Luísa? - pergunto a sua colega de quarto, que está conversando com um nerd.

- Eu não sei, achei que estivesse com você. - respondeu. Instantâneamente, sinto uma mão segurando o meu ombro, me impedindo que eu vá atrás dela.

- Ela não precisa da sua ajuda. - Tom diz, me encarando.

- Ah, é? E quem vai proteger ela? Você? - pergunto, sabendo que ele jamais poderá mantê-la segura.

- Opa, opa, opa. - Uriel surge entre nós dois. - Vamos relaxar, estamos em uma festa. - ele diz, com medo do que nós possamos fazer em público."

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