Desenhos.

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Quando o sinal tocou, avisando que as aulas haviam acabado, Luci Teddy e eu saímos juntos, caminhando pelos corredores do reformatório, evitando esbarrar em quem quer que fosse, para evitar possíveis confusões.

- Ouviu como Angel respondeu? - Teddy perguntou, totalmente desacreditado e com certa empolgação, eu diria.

- Sim! - Luci respondeu, tão empolgada quanto.

- Acha que vai ter alguma punição? - ele perguntou.

- Duvido muito. Aquele grupinho se livra de todas. - ela diz, revirando os olhos.

Enquanto fico para trás e os alunos passam por nós, percebo que Tom e a Senhorita Sophia não passaram por nós. Com a minha curiosidade gritando, decidi voltar à sala em busca de respostas, respostas que nem eu mesma sei.

Retorno para sala, seguindo na direção contrária de todos os outros e me afastando dos meus colegas sem que eles percebessem a minha ausência. Quando estou próxima a porta, posso ouvir alguns sussurros que saem de dentro da sala e me concentro para ouvir o que eles dizem.

- Você precisa ficar de olho no Daniel e no Cam. - Sophia diz, sussurrando.

- Do que está falando? - Tom perguntou, no mesmo tom de voz que ela.

- Não acho que a estátua tenha sido um acidente. - disse, nervosa. - Me lembro de ter visto o Daniel no último andar.

- Mas porque ele faria isso? - perguntou, assustado.

- Você ouviu ela dizer que não era batizada. Ela precisa da sua proteção.

Com a fala de Sophia em relação ao batismo, tive a certeza de que falavam de mim. Tentando ouvir melhor, acabo encostando meu rosto na porta que infelizmente não estava fechada. A porta acaba rangendo, fazendo um barulho que ecoa pela sala, chamando atenção para mim.

Seus olhares imediatamente se direcionam a mim e eu preciso pensar em alguma coisa que possa justificar a minha presença ali. Olho para os lados, me deparando com uma mesa ao meu lado, cheia de livros. Pego o primeiro da pilha e balanço em direção a eles.

- Desculpa, só vim buscar o meu livro. - digo, saindo dali.

Quando cruzo a porta, ouço a voz dele dizendo "Vou conversar com ela" e me apego a essa frase, desejando que ela possa me explicar sobre o que falavam. Odeio a sensação de estar confusa e ultimamente, isso é a única coisa que sinto.

Procurando por ar fresco, sigo em direção a saída do castelo, seguindo para o jardim. Enquanto respiro fundo, sentindo a brisa fria da temporada, percebo que trouxe o livro comigo. Nele, há uma folha que se sobressai, chamando a minha atenção.

Puxo o papel lentamente, me deparando com um dos desenhos belíssimos que Tom faz com carvão. No desenho há um casal apaixonado, que caminha carinhosamente abraçados pelas ruas de Londres, cheias de pequenas lojas e cafeterias. A cabine telefônica é o charme da imagem, e por questão de segundos, sinto o cheiro daquela rua, o gosto do café e o calor do corpo dele ao meu lado: um dejavu.

- Luísa, espera. - Tom diz, me impedindo de entrar na minha visão e me pegando de surpresa.

- O que foi? - pergunto, escondendo o papel no bolso da minha jaqueta.

- Nada. Achei que poderíamos conversar. - ele diz, chutando algumas folhas secas.

- Tudo bem. - respondi.
Seu convite jamais seria feito, mas pelo que pude ouvir de sua última conversa, ele disse que iria falar comigo e aqui está. Começamos a caminhar juntos pelos jardins, seguindo para o centro dele, onde há uma fonte desativada.

ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs Onde histórias criam vida. Descubra agora