Dejavu.

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Depois dos olhares confusos e de julgamento que recebi durante a aula de ontem, tive ainda mais certeza de que aqui não é o meu lugar, mesmo que no fundo eu sinta que algo me trouxe aqui por um propósito.

Para que eu pudesse fugir possíveis constrangimentos, decidi não ir à aula hoje. Escolhi um dos livros de Luci para que eu pudesse ler, me desconectando deste lugar, nem que fosse apenas pela leitura.

Escolhi um lugar retomo no jardim, entre tantos do reformatório. Às cercas vivas se misturam com o verde da grama, dando um ar de liberdade, mesmo que eu saiba que estou presa em um enorme quadrado de paredes altíssimas.

Tomei a liberdade de pegar também um mp3 da minha colega de quarto. Ouço música clássica, enquanto meus olhos passeiam sobre as linhas de anjos e demônios, livro que escolhi desta vez.

Pelo canto do olho, posso ver o grupinho passeando pela área que achei ser deserta. Cam, Uriel, Layla e Tom caminham lentamente enquanto conversam. Desde que cheguei aqui, percebi que Tom me evita ao máximo, e me sinto como se tivesse uma doença contagiosa.

Sinto pequenas pedrinhas caindo sob minha cabeça, imaginando que Cam está novamente procurando um jeito de me provocar, assim como fez quando eu cheguei. Olho para ele, que agora está olhando para a torre, assim como todos os outros.

Puxo os fones de ouvido, que me impediam de ouvi-los, e consigo ouvir um barulho forte, como paredes quebrando. Direciono o meu olhar, na mesma direção que a dele e sou surpreendida pela enorme estátua em formato de anjo caindo sobre mim.

Antes que eu possa me levantar e sair, sinto minha pressão baixar pelo medo e simplesmente desmaio, nos braços de alguém.

Enquanto estou desacordada, tenho uma espécie de dejavu, voltando a muitos e muitos anos atrás. São pequenos flashes de um enorme salão de baile, vestidos armados, uma valsa ao fundo e  ele. Tom dança comigo, girando e girando pelos salões, como um casal normal faria.

Em um dos flashes posso vê-lo me presenteando com um colar e colocando-o em volta do meu pescoço. Seus dedos são leves em minha pele, seu cheiro se funde com o seu de agora e acordo justamente no momento em que nossos lábios se encontravam em minhas visões.

Quando abro os olhos, ele está a me olhar, com seus olhos arregalados, assustados, como se procurassem algo dentro dos meus. Estou viva, pensei comigo mesma.

- Luísa! - ouço Luci me chamar, aos gritos.

Antes que eu possa agradecer, Tom apoia minha cabeça no chão e simplesmente sai caminhando dali, como se não tivesse acabado de salvar a minha vida. Começo a me perguntar como ele conseguiu me salvar, já que não estava tão próximo a mim.

- Você está bem? - Luci perguntou enquanto me ajudava a levantar. O grupo agora segue caminhando contra toda a multidão que certamente ouviu o barulho gigantesco que a quebra da estátua fez.

- Como isso aconteceu? O que aconteceu? Você se machucou? - As pessoas começam a chegar, perguntando curiosos.

- Vamos sair daqui. - peço a Luci, que segura minha mão e me leva de volta até nosso dormitório.

No caminho, tenho a sensação de estar sendo observada. Em uma das diversas janelas, vejo Daniel e Angel a me olhar, certamente devem ter visto todo o ocorrido, já que a vista deles é privilegiada.

" Você só pode estar de brincadeira! - Angel diz, se aproximando de mim. - Daniel está apaixonado. - continuou.  - Daniel está apaixonado. - continuou.
Angel observa junto a mim a cena acontecendo lá embaixo.
- Isso pode dificultar a sua vida. - disse enquanto saia daqui. - Só não esqueça para quem você trabalha e o que você deve fazer."

Assim que saio do banho, vejo a figura de Luci estudando em sua mesa. Ela parece concentrada no que faz, mas me pego pensando no quanto ela é misteriosa, já que ainda não sei nada sobre ela.

- Há quanto tempo está aqui? - perguntei, enquanto enxugava os cabelos com a toalha.

- Cheguei junto com você. Você bateu a cabeça? - perguntou, preocupada.

- Não. - digo, sorrindo. - Há quanto tempo chegou em Sword and Cross. - explico.

- Há 6 anos. - respondeu.

- Ainda não te vi usando a ligação. - digo, já que só temos direito a uma ligação na semana.

- Todo mundo que conheço está aqui e todo mundo com quem eu queira conversar está nesse quarto. - respondeu, tranquilamente.

- Como veio parar aqui? - perguntei, penteando meus cabelos.

- Meus pais são separados. Nenhum dos dois quis ficar comigo. - Luci disse, se virando para me olhar. - O panfleto era realmente muito convidativo. A natação, esgrima, aulas de hipismo e francês iludiram a minha mãe, que paga uma fortuna para me manter aqui. - sinto que o clima ficou tenso e decido brincar com ela.

- Então você não é uma vândala cleptomaníaca, anoréxica e depressiva? - brinco.

- Não. - ela ri. - Meu caso é pior. Tenho PTD.

- PTD? - pergunto, sem entender.

- Pais totalmente desinteressados. - respondeu, brincando também.

- Veja pelo lado positivo: tem uma piscina. - digo, dando risada e ela me acompanha.

Agora que meus cabelos secaram, Luci já se entregou ao sono e dorme tranquila. Pela janela, posso ver meia dúzia de homens retirando os restos da estátua que quase ceifou a minha vida. Como de costume, Tom está ali, caminhando sem rumo na escuridão da noite, chutando algumas folhas secas e observando junto comigo o estrago que a estátua fez no chão.

Tenho vontade de confronta-lo, de perguntar o porquê de me evitar assim ou o porquê de fugir de mim e decido que é o que vou fazer.

Vídeo no ttk 🙈✨🩷

ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin