Capítulo 03 - Tem que ser macho para ganhar o meu respeito, e não machista.

1K 114 12
                                    


Novo Horizonte é uma cidade linda, e aproveito o máximo que posso. É muito agradável passar o tempo com a minha filha, vivenciando suas descobertas e sua evolução, que é diária. Sempre tem uma palavra nova, algumas pequenas frases, e bastante independência. A primeira infância é um período muito gostoso e especial, e passa muito rápido.

Não quero mais lamentar o tempo que fico longe dela, nem me sentir mal por perder momentos importantes. Aprendi na pele que ser mãe é ter culpa. Nunca vou achar que sou suficiente para ela, que faço o bastante. Sei que tenho que aprender a equilibrar meu lado mãe, profissional e mulher. Embora tenha a impressão de que é uma vida na corda bamba.

Ignoro as mensagens do Miguel. Ignoro sem culpa. Aliás, meu telefone passa mais tempo desligado. De vez em quando, ligo, para a Flávia falar com o pai, e só. Ela, por ser pequena, nunca dá muita atenção ao telefone.

Meus primeiros quinze dias estão quase no fim, e os únicos momentos ruins foram uns dias que a Flávia passou um pouco resfriada, com uma febre que demorou a ceder. Tirando isso, são as melhores férias dos últimos tempos. O problema é que eu ainda não decidi nada, mas algo que a Tânia fala, me faz brilhar os olhos.

Estamos todos na praia: Lua e Tânia, com maridos e filhos, mais a Natália, amiga delas, e o filho, Vicente. Crianças brincando, e maridos incluídos no papo.

A barriga da minha amiga está enorme, e pela altura, esse bebê não vai demorar. Não sei como ela está aguentando trabalhar nessas condições, e acabo comentando sobre isso.

– Ah, nem me fala! – A gravidinha reclama. – Não vejo a hora de largar tudo, mas não aparece ninguém que preste para me substituir. Falei com o Espinho esses dias sobre o assunto, mas ele disse que só se candidataram recém-formados para a entrevista, e que não vai colocar médico verde no hospital.

– Espinho? – Estranho, será algum sobrenome da região?

– É o apelido do Fabrício, – ela explica – o diretor do hospital. – E do nada ela para e me olha de um jeito estranho, depois curva os lábios para cima, antes de recomeçar a falar:

– Amiga, por que você não me substitui?

– Eu?

– É! Você tem total capacidade técnica! E seriam seis meses aqui! Não seria maravilhoso?

Não sei. Não faço ideia. Passar uns dias longe de casa é uma boa, me afastar dos problemas, é uma ótima. Mas seis meses?!? Seis meses é metade de um ano. Passar isso tudo longe de casa, longe do meu marido? Nem sei se terei um marido me esperando na volta. E para falar a verdade, não tenho certeza se gostaria de ter.

– É algo a se pensar. – Respondo finalmente. E não dá mesmo para pensar em outra coisa depois disso. Passo a imaginar como seria e o que eu poderia fazer para dar certo, mas antes de tudo, eu preciso conseguir da vaga.

A Tânia passa uns dois dias insistindo no assunto. Ela está tão empolgada que inclusive me envia a lista de documentos que o hospital exige para os candidatos, que são basicamente: o currículo e a cópia do diploma e certificados, arquivos que tenho no meu e-mail. Acesso minha caixa de entrada e encaminho, decidida a arriscar.

Poucas horas se passam, e no meu celular, esquecido ligado depois da última ligação que fiz para a minha irmã, um número estranho chama, com o DDD de Santa Catarina.

Sou convocada para uma entrevista no hospital local. Agendo para o dia seguinte.

A Lua fica com a Flávia para que eu possa ir. Não tenho muita opção do que vestir, não coloquei na mala nada que fosse adequado para uma entrevista de emprego, mas me viro com o que tenho e compareço na hora marcada.

Confissões de HeloísaWhere stories live. Discover now