𝑪𝑨𝑳𝑰𝑭𝑶𝑹𝑵𝑰𝑨

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ELE

Essa história começa da minha forma preferida: inesperada e muito, muito, bonita. E já adianto que não quero contar como ela termina. Pelo menos não agora. Prefiro pensar, compor e cantar sobre todas as linhas que vieram antes do ponto final. Talvez por causa da insistência em sustentar a esperança que nunca tenha, de fato, acabado.

Sete meses atrás

Como um domingo típico da Califórnia, estava ensolarado e a multidão de pessoas iam e viam em diversas direções. Algumas tomavam água de coco enquanto pedalavam debaixo do sol de 28°, outros corriam e outros nadavam; e bem ao meu lado havia uma turma jogando voleibol. Eu estava sozinho aquele dia, dropando as ondas apenas na companhia do mar. Resolvi voltar pra areia, indo atrás de uma azeda e refrescante limonada que era especialidade da dona Rosa, dona da banca de sucos mais famosa dali. Depois que trouxe meu pedido com um sorriso simpático, disse o que frequentemente dizia toda vez que eu passava por ali: como achava meus "olhos de águia" muito bonitos e encantadores, e junto ao seu sotaque latino carregado tudo ficava ainda mais divertido de ouvir. Agradeci beijando sua mão dessa vez, como um galã das novelas que a mulher certamente assistira. Então peguei a bicicleta e mochila que havia pedido pra guardar ao lado da banca, coloquei The Neighborhood nos fones e parti em direção a minha casa.

Sentir o ar bater no rosto e o sol queimar minhas costas trazia uma vibe indescritível, uma que só LA conseguia trazer. Por isso gostava tanto de morar aqui, mesmo que sozinho e sem tanta aprovação dos meus pais. Mas eu sentia que aqui eu conseguiria as inspirações que precisava pra embarcar de vez no meu sonho. Um dia toda a Califórnia e muitos outros cantos do mundo saberia, só de ouvir minha música, que aquele artista se tratava de Kim Woosung - ou o famigerado "Sammy", o amigão da galera.

- AI MEU DEUS! EU VOU BATER EM VOC...

Só deu tempo de virar o guidom bruscamente pra o lado contrário. Mas o problema é que por causa disso bati com tudo em um banco de concreto, que fez com que a bicicleta caísse me jogando pra frente. Pela percepção geral daquele mini acidente senti que a garota também havia sido derrubada de sua bicicleta. Contudo, naquele momento, os meus olhos só se atentaram a conferir minha prancha, se não tinha nada quebrado, pois o impacto havia sido suficiente pra que isso tivesse acontecido. Por sorte estava tudo certo com a prancha e em mim só haviam alguns arranhados, mas nada demais. Já a garota, aparentemente havia machucado seu tornozelo, já que ainda estava sentada no chão quente segurando o local dolorido.

- Tudo bem aí com você?

- Acho que quebrei meu pé. Ela falou em um tom quase inaudível de tão agudo.

- Quebrou? - Indaguei assustado, indo conferir o machucado.

- Isso dói? Movi seu pé em um ângulo clássico pra saber se realmente estava quebrado.

- Não... Não tant- AI! ISSO DOEU!

- Você só torceu de leve. Tá tranquilo. Mas precisa colocar gelo.

- Onde encontro gelo por aqui? Só então levantou a cabeça, afastando o cabelo da frente dos olhos deixando seu rosto completamente visível.

Embora fosse um rosto comum, tudo, exatamente tudo, nele se harmonizava perfeitamente. Não precisei de mais que meio segundo pra declarar mentalmente como era linda.

- Hm... Ah, já sei! Vem, arranjo aqui pertinho pra você.

Levantei as bicicletas do chão e comecei a andar, guiando cada uma de um lado. Atrás de mim, a garota andava com certa dificuldade, analisando cada pedaço do lugar. Talvez estivesse ali pela primeira vez.
- E aí, dona Rosa? Voltei! - falei sorrindo - Acontece que essa chica machucou o pé e precisa colocar gelo antes que inche e crie um hematoma. Será que a senhora poderia nos ajudar com isso?
- Claro que sim, querido. Aqui, tome.
- Gracias! - agradeci a mulher que havia sido simpática e acolhedora mais uma vez - Tá aqui. Deixa por uns 15 minutos. - me direcionei à garota que sorria em agradecimento pra dona Rosa e, eu pude notar duas covinhas que desapareceram rapidamente, pois logo depois olhou pra mim com um olhar de dor ligeiramente engraçado.

Durante os 15 minutos que passamos ali perguntei se era a sua primeira vez na Califórnia, querendo tirar minha dúvida de mais cedo. Obtive a resposta de que, na verdade, ela já estava na cidade há alguns dias, veio em uma viagem de férias, mas que era a primeira vez visitando aquela praia em específico. Enquanto falava aproveitei pra reparar em muitos detalhes nela. Seus olhos refletiam ocidentalidade, os cabelos formavam ondas selvagens, como as do mar atrás de nós, e pra quem estava visitando uma praia sua roupa não era a mais adequada. Ela também falava de um jeito divertido, mas estranhamente atraente. Seus olhos nunca repousavam nos meus, sempre ficavam passeando pelo lugar. Em um desses passeios girei o corpo pra olhar na mesma direção rapidamente, procurando o que poderia ser mais interessante do que o que estávamos fazendo.

- Ah, então você tá com fome... Soltei em uma gargalhada única.

- Na verdade... Sim! Muita fome! O problema é que minha carteira não tá comigo.

Ri daquela situação. Sem entender muito bem o porquê fiz isso, mas realmente havia achado engraçado.

- Será que devo acreditar nesse papo? Vai que você só tá tentando descolar um lanche de um rapaz inocente...

- Bem, há certas coisas das quais nunca vamos saber

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- Bem, há certas coisas das quais nunca vamos saber. Você tem 50% de chance de está sendo enganado e 50% de chance de que eu seja apenas uma pessoa que foi expulsa do hotel e que teve que deixar as malas na casa de uma amiga pra aproveitar o que pudesse no último dia de viagem.

- E por que essa "amiga" não está com você? Insisti, cerrando os olhos, mesmo que a verdade fosse que eu já tivesse sido convencido.

- Namorado que queria ficar em casa é a resposta. E então rolou os olhos.

A analisei rapidamente e pensei um pouco antes de dizer:

- Sendo assim, o que acha de fazermos inveja a eles? Afinal é o seu último dia, precisa aproveitar tudo o que der.

So I Gonna Call You Beautiful Girl | WoosungWhere stories live. Discover now