Segundo capítulo

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Alguns dias haviam passado desde a chegada.

Camila levantou-se cedo de sua cama, observou o homem que dormia ao seu lado e andou com cuidado para não fazer barulho. As manhãs ganhavam uma atenção especial. Adorava caminhar ao redor do lago assim que ficava de pé, sentia a calmaria dos ventos como em Baltimore, só que muito mais frio. E a diferença, era que agora não eram mais férias em família, precisava ajustar sua rotina, moraria por um longo período ali. O que para ela, não faria diferença alguma.

Assim que abriu a porta que dava acesso ao jardim, viu uma moto encostada próximo a um carvalho antigo, ao redor da casa não tinha muros, era livremente conectada as árvores. Camila não se esforçou muito para avistar quem estava procurando.

Lauren tava um pouco distante, nadava em direção ao tronco quando percebeu a presença da outra mulher. Sua pele esbranquiçada entrava em contraste com o azul escuro do maiô que usava, seus cabelos escuros estavam flutuando na água.

Era lindo.


— Não sabia que fazia do tipo psicopata, senhorita. — disse lauren, a fazendo despertar de seu transe.

— Não, não é isso. — Rapidamente Camila respondeu envergonhada. — Estava tentando te reconhecer, mas não queria incomodar.

— Relaxa, eu tô brincando. — disse entre risadas. — E você não incomoda, é bem-vinda no meu lugar de paz particular. Não quer entrar? A água tá boa.

Jogou seu cabelo pro lado, tirando o excesso de água com uma toalha. Não tava tão frio, mas dava para perceber que o frio atingia sua pele, suas bochechas estavam ruborizadas levemente, o que só realçava o verde de seus olhos.

— A essa hora? Não, de jeito nenhum, obrigada. Não quero ter uma hipotermia. — falou, enquanto observava de um jeito desprovido. Tinha uma mania de cruzar os braços quando estava com vergonha, a mulher quase desnuda em sua frente, a deixava intimidada. Não queria parecer que estava olhando.

Mas não podia dizer que não ficou tentada. Lauren despertava algo, alguma curiosidade que Camila fazia questão de deixar indecifrável nas profundezas de seus pensamentos.

A mulher se aproximou de repente, envolvendo Camila com o braço livre e pressionando os dedos em seu ombro, um tipo de abraço-massagem. Seu corpo inteiro se arrepiou com o toque, tanto que se esquivou com vergonha que a outra percebesse.

— Desculpe, te deixei desconfortável? — perguntou Lauren.

A outra mulher logo se prontificou em negar, estava acostumada com a maneira invasiva dos italianos serem gentis, não faziam por mal. Então fechou os olhos enquanto aproveitava, ela podia sentir os respingos da água deslizando por sua pele, a mão gelada de Lauren, estava lhe causando arrepios.

— Aqui. Bem aqui tem um ponto de tensão. — Tocou uma parte de suas costas. — Precisa relaxar mais, está cheia de nós.

— É, eu ando muito estressada. Obrigada por isso. — disse camila.

— Eu tenho que ir agora. Bom te ver de novo, senhorita. — Disse. Diferente de Cristian, o sotaque de Lauren era quase imperceptível


— Me chame pelo meu nome, Lauren. Não precisa de formalidades.

— Está bem, senhorita. — disse propositalmente, rindo. — Ah, mais uma coisa. Minha mãe contou que gostou da sobremesa que eu fiz, deveria aparecer no meu restaurante qualquer dia desses. Faço uma especialmente para você.

Lauren deu de costas e saiu sem ter uma resposta do seu convite. Não pôde ver, mas conseguiu fazer a outra mulher sorrir. Camila estava intrigada, queria muitas respostas de perguntas que ela não sabia por onde começar. Talvez Lauren pudesse ser a chave pra tudo.

Suspirou enquanto se deixava levar por devaneios mais uma vez, mas logo sua tranquilidade foi tirada de cena.

— Com quem estava conversando?

Camila se assustou ao ouvir a voz de Cristian. O homem estava escorado na varanda, segurando uma caneca na mão.

— Com Alba, ela veio avisar que a mesa de café da manhã estava pronta. — Respondeu ela. Não gostava de mentir, mas seguiu sua intuição, sabia que Cristian não ia gostar de saber. Ainda não tinha tocado no assunto.

— Sei. — respondeu ele. — Pode ir na frente, não vou me juntar a vocês.

Cristian tinha um semblante sério, parecia com raiva.

— Desde que chegou, não foi uma vez sequer. Se é por causa da sua irmã, está na hora de você amadurecer mais, querido.

Camila tinha a intenção de aconselhar, mas Cristian era um homem de humor imprevisível. Sua reação não a gradou muito.

— Não me diga o que fazer. — disse ríspido. — Se não sabe do que se trata, não deveria se meter assim.

Camila precisou respirar fundo para ser paciente.

— Está sendo infantil. Quis dizer que ela não parece ser uma pessoa ruim, então por que foge dela desse jeito? O que ela fez?

— O que ela fez? — riu, debochando. — Ela é tudo o que sua mãe te ensinou a desaprovar em uma pessoa, Camila. Ela é uma maldita pecadora, que só tem escolhas ruins. — falou, com indignação. Cristian tinha um olhar frio, demonstrava sua raiva em cada palavra que proferia. — Se quer santificar, pelo menos saiba onde estar se metendo, espero que você não seja como minha família, seria tola demais se apoiasse uma atitude assim.

— Vou avisar ao seus pais que não irá se juntar a eles.

Foi tudo o que Camila conseguiu formular antes de virar e deixá-lo sozinho. Viveu a vida toda fugindo de assuntos como esse, sua mãe sempre foi uma mulher religiosa que desaprovava qualquer atitude que desrespeitasse seu templo divino. Foi inevitável não ficar nostálgica, lembrou-se quando se apaixonou pela primeira vez, pareceu mágico até sua mãe tornar um trauma. A jugou de todas as formas quando descobriu que era uma menina.

Todos os dias sendo obrigada a orar de joelhos pelos cantos da sala, a repetir em voz alta que era uma vergonha e que arderia no fogo do inferno se continuasse com tamanha blasfêmia, a faz desisti de ser feliz, de ser quem realmente era. E por muito tempo esteve dentro da bolha que sua mãe criou.

Mas a ideia do marido perfeito estava desmoronando

As lágrimas escorriam pelo seu rosto toda vez que lembrava.

Sinuhe Cabello não era uma mulher fácil de se lidar. Camila gostava de pensar na vida como era antes do seu pai morrer, era tudo diferente, tudo parecia ter um sentido. Porém, tudo mudou com o acidente.

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