2. UMA BATALHA DOLOROSA

1 0 0
                                    


"— Isso, meu amor! Vem para o papai, — esticou os braços em minha direção com um enorme sorriso sobre seu rosto.

— Eu tô com medo, papai, a Nala não consegue. — Coloquei meu pé direito no chão e senti meus olhos sendo embaçados pelas lágrimas.

Apressado e preocupado, ele correu até mim e segurou meu rosto em suas mãos.

— Ei, minha princesa, toda grande bailarina precisa encarar o medo, certo? Prometo que vou ser seu super-herói e te pegar no colo se cair, mas você precisa dar o primeiro passo. — Beijou a minha testa e voltou para onde estava, alguns passos à minha frente.

Coloquei de novo o pé no pedal, respirei fundo limpando algumas poucas lágrimas que caíram e dei algumas pedaladas com a bicicleta em sua direção, logo que me viu começou a vibrar e a dizer que eu iria conseguir. Quando faltava bem pouco acabei derrapando sobre uma porção de areia e como prometido, me segurou em seus braços antes que eu pudesse ir ao encontro do chão me ralando por inteira.

— Você conseguiu meu amor, — rimos juntos. — O papai ama a princesinha dele, — me abraçou e deixou milhares de beijos em meu rosto."

Sentei na cama ofegante, mal conseguia controlar a respiração, comecei a transpirar e as lágrimas caíram sobre minha face. Mais uma vez havia sonhado com uma das recordações de infância que não consigo esquecer, quando meu pai ainda morava comigo.

Sentindo meu peito subir e descer de maneira acelerada, fechei os olhos e passei a mão sobre o pequeno móvel ao lado da minha cama. Peguei o vidro de remédio e joguei três comprimidos de uma vez em minha boca, porém minha mão começou a tremer demais e o choro se instalou em minha garganta me impedindo de pegar o copo com água e engolir o remédio. Apressadamente apertei o botão de emergência na lateral direita da minha cama, que é como um alarme, avisando a todos da casa que preciso urgentemente de ajuda.

Levei minha mão até o meu couro cabeludo atrás da minha orelha e comecei a arrancar os fios do meu cabelo em um ato de desespero.

— Nala, meu amor, — mamãe logo apareceu ao meu lado. — Aqui, bebe a água querida, — colocou o copo em minha boca e tomei uma boa quantidade de água.

— O que aconteceu? — Ouvi outra voz distante.

— Pare com isso filha, — segurou as minhas mãos e retirou os fios de cabelos que estavam entre os meus dedos. — Vem cá meu amor, já vai passar. — Se sentou ao meu lado, me consolando em seu colo.

Não sei quanto tempo passamos ali, mas foi o suficiente para a minha mãe perceber que estou agitada demais. Ainda em seus braços, ela adiantou em colocar a máscara do nebulizador sobre meu rosto, que sempre fica ao lado da minha cama, me fazendo inalar aquela fumaça misturada com algumas gotas de calmante.

Ultimamente as memórias com o meu pai tem me feito ter crises de pânico constantes, tomar remédios de forma descompensada e não conseguir ter uma noite de sono tranquila.

— Pode ir se deitar Margaret, eu vou ficar aqui. — Alisou os fios do meu cabelo.

— Qualquer coisa só me chamar, estarei à disposição! — Se retirou em passos lentos e logo ouvi o bater da porta.

Ali sobre o colo da minha mãe pude me sentir criança outra vez sendo ninada pelo seu afago e cercada do seu carinho, da sua proteção. A doce voz da sua cantoria me fez começar a relaxar os músculos, tendo a certeza que estou com o meu porto seguro, com aquela que enfrentaria tudo e todos para que eu tenha uma simples noite de sono.

Diferente de algumas meninas, eu sempre fui mais próxima ao meu pai, o tinha como referência para tudo. Ele era a pessoa para quem eu corria quando ralava os joelhos, sentia dor de cabeça ou queria escolher uma roupa para aula de balé. Nunca fui tão próxima da minha mãe como agora, mas ao longo das nossas vidas muitas coisas mudaram e uma delas foi Grace ter se tornado tudo aquilo que preciso. Foi decepcionante ver a pessoa que mais amava nesse mundo dar as costas para a sua família quando mais precisávamos, foi doloroso ver aquela que deveria apenas cuidar do lar ter que tomar o papel de provedora e assumir também as responsabilidades paternas. Vi Matt amadurecer antes do tempo, mesmo com seu jeito brincalhão de levar as coisas, apenas para ajudar a nossa mãe e não termos que passar nenhuma dificuldade.

Faça Com Que Eu Veja (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now