4. CICATRIZES INVISÍVEIS

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— Eu não acredito que vai dar ouvidos àquele canalha, mãe!

— Nala Milano, ele ainda é o seu pai! Você o deve ao menos um pingo de respeito, — deixou claro. — Agir como uma adolescente revoltada não resolve nada, tudo tem que ser conversado, — alisou meus cabelos.

— Ele deixou de ser o meu pai quando se deitou com a sua irmã, acorda Grace, ele não vai mudar! Cansou de ficar com a Abigail e veio atrás da minha mãe agora? — Me virei para a direção em que ouvi a voz do Henry.

O mesmo continuou quieto em seu lugar e não se atreveu a responder minha pergunta. Até porque, o que iria responder? "Sim, cansei de dormir com a sua tia e vim atrás da minha mulher, a que me casei e não deveria abandonar?!" Ah, faça me um favor! E se a minha mãe pensar em querer perdoá-lo, precisa ser internada. Não é possível ter se esquecido tudo o que passamos por conta dele.

— Está tudo bem Grace, — suspirou desanimado. — Está cada vez mais linda filha igual a sua mãe, o Matt está por aí? — Me elogiou, mas logo desconversou.

É incrível a habilidade que ele tem em mudar de assunto e me deixar plantada, como se eu não o tivesse insultado há poucos minutos. Sério que isso não o afeta?!

— Pelo horário ainda deve estar no hospital, aconteceu algo que eu deva me preocupar?

Por tocar no nome do meu irmão e com seus pensamentos acelerados, tenho certeza que minha mãe pegou o celular prestes a ligar para Elouise querendo confirmar o paradeiro do seu filho mais velho.

— Apenas um assunto que queria tratar com ele, nada para se preocupar, — deixou claro. — Nos vemos em breve, até mais. — Ouvi seus passos se afastarem lentamente, como se não quisesse sair daqui.

Em alguns segundos ouvi a porta bater.

Revoltada por minha mãe ter dado a ousadia desse ser entrar em nossa casa, ainda sentindo meu peito subir e descer de forma acelerada, sai dali ouvindo os seus gritos me pedindo para esperar.

O que ela acha que ele tem para nos dizer? Tenho certeza que não é nada importante, aliás, onde estava a anos atrás quando precisei da sua ajuda? Quando fiquei cega e o nosso mundo desmoronou, ele esteve presente? Largar a sua família para ter um caso com a sua própria cunhada era mais importante e merecia mais a sua atenção, Henry não tem direito nenhum em se dirigir a palavra a mim! Se eu pudesse o matar com as minhas próprias mãos, não abriria mão. Acho que só assim nos veríamos felizes.

Nem no casamento do seu próprio filho, o único que se preocupa com ele e tenta saber se está tudo bem, o mesmo teve coragem de ir.

Nala! — Me puxou com força na mesma hora. — Se desse mais um passo iria de encontro com a parede, Ava peça a Susan que prepare um chá de camomila para acalmar os ânimos, — pediu após respirar fundo.

— Já não basta eu ser cega e ser dependente para tudo? — Gritei sentindo uma mistura de sentimentos dentro de mim. — Não posso ficar sozinha?! — A primeira lágrima rolou pelo meu rosto, sendo acompanhada de um soluço.

— Filha, não fica assim. — Segurou meu rosto entre as suas mãos, mas me afastei. — Tudo bem, vou te levar até a sacada, pode ser? — Neguei no mesmo instante.

— Quero ficar no meu quarto. — Senti meus dedos ficarem inquietos, ansiosos para estarem em contato com o meu couro cabeludo.

Não sei o que houve, mas minha mãe ficou quieta por um instante e mesmo sem ver, pude sentir seu olhar me queimar enquanto analisa minha expressão, meus dedos agitados, meu rosto molhado pela lágrima e minha respiração descompensada.

Faça Com Que Eu Veja (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now