A Chama Proibida

Desabafo

Jeffrey

Amélia estava deitada na banheira, e eu estava ao seu lado, segurando uma esponja com sabonete líquido, cuidadosamente lavando suas costas. A água morna e perfumada preenchia o ambiente, criando um cenário de tranquilidade.

As marcas em suas costas, vestígios dos abusos que sofrera nas mãos de Chris, começavam a desvanecer. Cada uma delas era como um registro físico da crueldade que ela suportara. Enquanto eu passava suavemente a esponja por sua pele, não conseguia deixar de sentir uma onda de raiva e tristeza. Como alguém poderia infligir tamanho sofrimento a uma pessoa que amava?

Amar... Nunca a amou.

— Naquela noite... — Amélia quebrou o silêncio me surpreendendo já que é a primeira vez que ela falava em meses. — Quando te enviei aquela mensagem marcando um encontro, eu tinha uma razão para isso, Jeff.

Continuei a lavá-la, prestando toda a atenção, mas sem interrompê-la. Sabia que ela precisava disso, precisava compartilhar sua dor.

— Eu... — Sua voz estava trêmula. — Eu estava tentando encontrar a coragem para te contar sobre o bebê. Eu estava tão feliz, Jeff, mesmo com todo o medo, eu estava feliz por estar grávida e eu sabia que era o nosso bebê, no fundo eu sabia, no fundo eu sempre soube.

Suas palavras eram como uma faca afiada cortando meu coração. Eu desejava tanto ter estado lá para ela naquele momento, para protegê-la de Chris e para compartilhar sua alegria pela gravidez.

— Mas Chris descobriu. — Lágrimas escorreram pelo seu rosto. — Ele pegou meu celular e leu todas as nossas mensagens. Ele ficou furioso, Jeff, e... o que ele fez depois...

As palavras de Amélia se perderam em soluços, mas eu sabia o que ela queria dizer. A imagem de Chris, cheio de raiva e crueldade, atacando-a estava gravada em minha mente. Minhas mãos continuavam a limpar sua pele, mas agora era minha vez de derramar lágrimas silenciosas.

— Sinto tanto, Amélia. Sinto tanto que você tenha passado por tudo isso. Eu queria poder ter evitado. Queria ter conseguido te proteger.

— Você não tinha como saber, Jeff. Eu escondi aquilo de todos. Eu tinha tanto medo...

Nesse momento, senti uma mistura de emoções inundando meu peito. Havia tristeza, raiva e um profundo desejo de vingança contra Chris, mas também havia uma sensação avassaladora de amor e proteção por Amélia.

— Vamos superar isso juntos, Amélia. Eu estou aqui para você, e vamos enfrentar todas essas lembranças juntos. Nada disso foi sua culpa.

Amélia estava deitada na banheira, e eu continuava ao seu lado, segurando sua mão enquanto ela compartilhava o peso de sua dor. Seus olhos estavam marejados, e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

— Eu só queria que você soubesse o quanto eu estava feliz, Jeff. Mesmo com todo o medo e a confusão, a notícia da gravidez trouxe uma luz para a minha vida.

Suas palavras eram como um lamento, uma canção de tristeza pela vida que poderia ter sido, mas que fora cruelmente interrompida. Eu apertei sua mão com ternura, tentando oferecer um apoio silencioso.

— Eu me sinto tão vazia, Jeff. Era como se aquele bebê fosse a única coisa boa na minha vida naquele momento, e agora...

Ela não conseguiu terminar a frase, mas não era necessário. Sua expressão de tristeza era mais eloquente do que qualquer palavra. Eu a puxei gentilmente para perto de mim, deixando-a repousar sua cabeça em meu ombro, e a abracei com carinho.

— Nós vamos superar isso, Amélia. Vamos enfrentar essa dor juntos. E, quando você estiver pronta, se quiser, podemos tentar novamente. Mas agora, o mais importante é você se recuperar e encontrar sua paz. — Sussurrei para ela.

Ela soluçou suavemente, e eu a mantive perto, sabendo que essa jornada seria difícil, mas que estaríamos lado a lado a cada passo do caminho. A água da banheira continuava a escorrer, levando consigo não apenas as lágrimas de Amélia, mas também a tristeza que pairava sobre nós naquele momento. Era o começo de um longo processo de cura, e eu estava determinado a estar ali, a cada momento, para apoiá-la em sua jornada de recuperação e redescoberta.