02: Obcecado por você?

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Conrado ☠️

Já tô cansado de todo esse papo furado. —Reclamei passando a colher no óleo quente. Odeio esse cheiro de queimado. —Quando tu vai abrir o bico e falar da carga?

Me virei vendo o cara amarrado pelo pulso no teto do galpão. Pregos enfiados nos seus pés e mãos. Sua boca escorria sangue dando sinal que o desgraçado já havia mordido a própria língua, mas eu sei que ele ainda consegue falar. Ninguém arranca a própria língua por lealdade e no momento que ele começar a gritar é a minha deixa.

—Prepara o maçarico. —Olhei de relance para o Soneca que apenas balançou a cabeça fazendo um bico. Sei que ele odeia vir pra essas torturas, mas se for pra ser meu braço direito vai ter que aprender na marra. —Vou perguntar uma última vez antes de perder a paciência que eu nem tenho. Onde tá a minha carga?

—Sua carga? —Como eu disse, o desgraçado ainda tá falando. E com um sorriso enorme nos lábios todo ensanguentado. —Não fode, Conrado. A carga é do Alemão e tu sabe disso.

—A partir do momento que eu decido que ela é minha, se torna minha. —Soneca voltou com o maçarico e eu me aproximei colocando sob o seu pé. Sentindo aquele cheiro podre, mas que com o tempo deixou de me incomodar tanto. —Teve tua chance...

—E falar pra quê? —Ele gritou. —Tu vai me matar de qualquer forma, caralho! E se eu voltar vou morrer pro Alemão...

—Eu posso te deixar sair vivo e com a minha proteção. —Ele levantou o olhar esperançoso. Sinto vontade de rir só de notar o fio de misericórdia. —Só precisa me passar a visão da carga e qual é a rota.

—E o que me garante? Que eu vou sair vivo... —Passei a mão pelo meu cabelo voltando até a mesa e me escorando.

—Minha palavra é uma só. —Dei a certeza para ele que soltou um suspiro.

—Tá vindo de Mato Grosso do Sul, direto da fronteira. —Estreitei os olhos no mesmo instante. A inspeção não ia deixar um caminhão lotado de droga passar. —Alemão já colocou o verdinho no bolso de geral, se é isso que tu tá pensando. Agora me solta!

—Com todo prazer.

Fui até a corda passando a faca vendo o saco de bosta em forma de humano desabar no chão. Gemidos de dor passou por seus lábios e eu apenas senti mais vontade de rir. O pior foi quando o lesado tentou se levantar e de repente parece ter percebido que ele não conseguia.

Fui até a mesa de madeira velha agarrando um pedaço de barra de ferro. Arrastei pela minha mão calejada sentindo o quanto que estava gelado, mas não ia durar muito tempo assim. Deixei a ponta tocar o chão e fui arrastando até parar em frente ao homem que mantinha seu olhar cravado em suas pernas. Como se estivesse se amaldiçoando por não conseguir ficar em pé.

—Não se sinta culpado. De qualquer forma quem te deixou assim fui eu... —Seu olhar lotado de lágrimas se arrastou até mim. —Oh, não precisa chorar... Calma garoto.

—Por favor, Conrado... —A voz baixa que me irritava ainda mais.

Porra! Se você tá na beira da morte, luta porra. Faz alguma merda. Para de implorar pra sobreviver. Para de se fazer de vítima. Ninguém é vítima na porra desse mundo. Só existe pessoas merdas que fazem o mal e que não sentem piedade.

ENLAÇADOS PELO DESTINO (MORRO)Where stories live. Discover now