Dandara Magalhães
Senti meu estômago embrulhar e arrepio passar por toda minha coluna. Algo estava prestes a acontecer e eu podia sentir isso por ser um final de plantão. Eu deveria apenas fechar meus olhos e descansar por alguns minutos até enfim poder ir para casa. O dia foi calmo, diferente do que realmente é, então obviamente algo estava prestes a acontecer.
E ergui os ombros no segundo em que vi a movimentação no trauma começar. Os internos vestindo seus uniformes amarelos rapidamente afim de pegar mais um caso e rapidamente o doutor Rafael também apareceu me fazendo perceber que talvez não fosse algo comum. Ele varreu o olhar por todo o espaço até que seus olhos pararam em mim. As sobrancelhas se ergueram e um tom de confusão nasceu em sua testa enrugada.
— Magalhães, preciso de você. — Ele disse me fazendo rapidamente ir até ele. — A doutora Isabela me disse que você está pensando em pediatria, certo?
— Não tenho certeza ainda, gostaria de abranger mais minha visão. — Disse fazendo-o sorrir levemente.
— Nesse momento você precisa ter certeza ou vou chamar outro interno...
— Não! Tudo bem... — Me desviei rapidamente pegando também uma das roupas amarrando o laço em minhas costas.
Minha cabeça latejou me lembrando o quanto eu estava cansada, mas ainda sim para um interno todos os casos são necessários. Estamos aqui para aprender e além disso, dar nossos sangues para salvar vidas. Mas no segundo em que vi a criança desacordada com um socorrista acima de seu corpo pressionando seu peito senti uma pontada forte em meu coração.
— O que temos aqui? — Doutor Rafael assumiu a maca guiando-os até a cabine de urgência. — Assume Magalhães.
Passei meus dedos por cima do socorrista assumindo o ritmo, implorando para que seu pequeno coração voltasse a bater logo.
— Menina, 4 anos e sofreu um afogamento. Teve três paradas cardíacas até aqui, tivemos que transferir com urgência de Arraial até aqui... — De repente meus ouvidos quase se tornaram surdos.
Apenas focando minha atenção na garotinha. 4 anos... A mesma idade da Tina, quase a mesma aparência. Poderia ser a minha sobrinha nesse momento e quando senti as mãos do doutor Rafael tocarem minhas costas eu enfim percebi que os arrepios realmente estavam me alertando sobre algo ruim.
Desci de cima da maca deixando a frustração me dominar, ouvindo apenas o barulho agudo da máquina ecoando revelando que a vida de uma pequena criança estava acabando.
— Decrete o horário da morte. — O doutor Rafael parou ao meu lado.
Olhei mais uma vez para seu doce rosto, os lábios brancos, a pele negra se tornando acinzentada. A vida se esvaindo. Mordi meu lábio erguendo meu olhar para o relógio.
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ENLAÇADOS PELO DESTINO (MORRO)
RomanceFugindo de seu ex marido agressor, Dandara foge para o Rio De Janeiro com sua irmã mais velha e sobrinha. Em busca da liberdade, viver uma vida melhor, enfim ela consegue confiança para seguir seu sonho de cursar medicina. Mas um encontro inesperado...