1 - Azar ou sorte?

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1 - Azar ou sorte? 

A noite costuma ser vista como perigosa pelas pessoas, afinal, o desconhecido assusta. Mas para outros, ela pode ser encantadora. 

Sobre as ruas de Londres, uma figura corriqueira andava sem preocupações. O homem de terno e roupas pretas estava muito acostumado aquela rotina. A escuridão era seu lar. Não teve muita opção a não ser aceitá-la desde que foi transformado. Não sabia por quem, nem por quê. Talvez fosse um lanche que tivesse dado errado, era difícil saber. Só se lembrava de acordar a noite, no meio da rua com muita dor e febre, seguido de uma fome que lhe doía o estômago. 

Quando o incidente aconteceu, o mundo a sua volta parecia não ser mais o mesmo. Percebeu que os sons haviam mudado. Uma mistura de ruídos fervilhava em sua cabeça. Barulhos inaudíveis, como o bater de asas de uma mosca do outro lado da rua e o batimento cardíaco de uma pessoa que passava, agora eram audíveis. Barulhos mais altos, como o de um carro passando ou uma buzina, agora eram insuportáveis de se ouvir. Com seu olfato não era diferente. Cheiros que ele nunca sentiu antes, começaram a adentrar em suas narinas. Tudo estava confuso, mas o pior era a fome. Sentia uma vontade de atacar as pessoas e rasgar o pescoço delas quando ouvia as veias pulsando; sentiu a boca salivar; sentiu que gostaria de saber como era o sabor, do SANGUE. Ele perambulou querendo chegar em casa, mas estava muito atordoado para se lembrar onde era e onde estava. Sentia uma dor imensa dentro de si, devido as abruptas mudanças em seu corpo, como se estivesse agonizando. Num ato de desespero, procurou uma rua vazia. Ao invés disso, achou um beco qualquer para se esconder, na esperança de que pudesse ficar imóvel até que a dor passasse ou até morrer, pois era isso que parecia que ia acontecer. De repente, um homem veio ao seu encontro. Aparentava ter em volta dos 40 anos e tinha um tom de voz gentil, como se fosse ser alguém que realmente se importava. 

- Precisa de ajuda? 

- Vá embora! – ele murmura- 

- O senhor não me parece bem. 

- O senhor tem que ir, você vai se machucar! – ele grita desesperadamente - 

- Venha comigo, eu te levo a um abrigo, um hospital... Tem alguém que eu possa ligar para vir te buscar? 

O homem do beco não queria ajuda, ele sabia que o bom homem estava em perigo e não ele. A fome que sentia, começou a crescer, um ardor como fogo, queimava sua garganta de modo insuportável. Ele não sabia por quanto tempo ia se segurar. 

- Por favor, meu senhor, você corre perigo! Vá embora! -ele suplica- 

- Não seja bobo, eu... 

Mas o bom homem não conseguiu terminar a frase. Como um animal desesperado por alimento, ele só conseguiu falar baixinho, mais para si mesmo, do que para homem que agora, se tornara sua presa. 

- Me desculpe por fazer isso. 

O pobre homem foi pego de surpresa quando foi abruptamente puxado. Ele sentiu a pressão de dentes pontiagudos na sua garganta. Tentou gritar por socorro, mas era inútil. Nenhum som saída de sua boca e a última coisa que viu enquanto seus olhos escureciam, foram cabelos vermelhos como o fogo. 

O andarilho tinha a confirmação que, seja lá o que ele se tornara, não era mais humano. Sentiu remorso por matar aquele homem que tentou ajudá-lo. Mas não conseguiu parar, por mais que quisesse. O sabor do sangue era muito satisfatório e cada gota parecia curá-lo por inteiro, num frenesi de prazer faminto e assassino. Ele deixou o corpo onde estava e vagou noite adentro, sem rumo. Parou em frente a uma loja, que já estava fechada e viu seu reflexo; os olhos que antes eram castanhos, se tornaram vermelhos como o sangue da qual se alimentou. Ele chorou, estava com medo de si mesmo, sua mente, parecia estar nebulosa como se ele esquecesse de quem era antes daquele pesadelo. Mas não tinha volta, e não sabia o que fazer. Ele queria ao menos um lugar para ficar, mas continuava confuso. Então se sentou em um banco num parque a frente. Depois de vários minutos sentado de braços cruzados com os olhos arregalados, ele despertou. Precisava saber como sobreviver, o que fazer. Não queria atacar pessoas de novo. Percebeu que não sentia mais dor nem cansaço. Depois de se alimentar, tudo de ruim que estava sentindo se foi. Começou a apalpar as roupas que vestia. Talvez ali houvesse uma pista! Achou dentro do paletó uma carteira, nela havia alguns cartões de crédito, uns trocados e uma carteira de motorista com sua foto e um nome: Anthony J Crowley  

Holy Sin (Pecado Santo)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon