6 - Desejo.

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Os próximos dias foram difíceis para Crowley. Ele passava boa parte do tempo no quarto, encolhido na cama como um objeto imóvel e sem vida. Aziraphale ia vê-lo algumas vezes no dia para checar como ele estava. Mas a conversa era sempre a mesma.

_ Você está bem?

_ Sim – ele respondeu de modo automático-

_ Se precisar de alguma coisa pode me chamar, ok?

Aziraphale saía preocupado, mas não queria forçar nada. Então, o jeito era se ocupar com os afazeres de sempre.

Depois de algumas noites, a fome começou a infringir o corpo de Crowley, ele decidiu sair de fininho no meio da madrugada. Passando pelo corredor escuro, viu uma porta entreaberta que emitia uma luz fraca. Ao espiar pela fresta, podia se ver o padre dormindo tranquilamente e ao lado dele havia um abajur. Crowley admirou o estado sereno em que o padre se encontrava. Imaginou se algum dia conseguiria dormir assim.

Do lado de fora da casa, o tempo estava fresco; um vento levemente gelado e agradável enchia o ar. Curioso, antes de fazer qualquer coisa, Crowley decidiu dar uma olhada na propriedade, já que quase não saíra do quarto desde de que chegou. Era um sítio pequeno com uma pequena capela acoplada a casa. Ele se lembrou que o padre havia lhe dito que o encontrou lá dentro, mas como isso seria possível, já que não conseguia entrar em solo consagrado? Não sabia dizer. O sítio possuía algumas divisões. Cada um desses espaços estava destinado a um grupo de animais. Galinhas, ovelhas, cavalos, alpacas e vacas faziam parte da composição da criação de animais. Havia também, uma pequena estufa com plantações de cenoura, alface, beterraba e morangos. Não era incomum a quantidade escassa de plantação de vegetais no país. Afinal 85% desses alimentos, entre outros, eram comprados de fora. Além do grande trabalho que seria ter uma plantação grande, já que Aziraphale cuidava de tudo sozinho. Um pouco mais afastado, havia um punhado de girassóis grandes e bem cuidados.

Ele decidiu que iria explorar em volta da região. Não queria se alimentar dos poucos animais de seu anfitrião. Não achava justo prejudicá-lo por causa da sua maldição. Como tinha uma floresta próximo dali, a chance de achar animais silvestres era maior. Ele caminhou até adentrar as árvores e andou silenciosamente, seu objetivo era encontrar um animal grande. Até que um cervo apareceu a poucos metros em seu campo de visão. O animal se alimentava calmamente. Crowley se abaixou, tomou velocidade e sem emitir som algum; tomou impulso, envolveu o tronco do animal em seus braços para agarrá-lo e com força, quebrou as costelas. O cervo caiu no chão gramado gritando de dor. A criatura de olhos vermelhos se aproximou do animal caído e fincou as presas em seu pescoço para se alimentar. Quando terminou, cogitou em levar a carcaça fresca para o sítio, na intuito de dar ao padre uma carne diferenciada para vender na cidade. Mas desistiu quando viu que uma matilha de lobos aterrorizada estava esperando ele se retirar para comer a presa morta.

Voltando ao sítio, ele se deitou na grama de barriga para cima com os braços apoiados na cabeça. Observou as estrelas pela primeira vez em muito tempo. O céu de Londres não era tão bonito devido à poluição, pouco se via ao olhar para cima. Mas ali, era diferente, o céu era preenchido por luzes de várias formas e tamanhos. Constelações eram visíveis em sua totalidade, o agrupamento dessas estrelas e o brilho de cada uma delas, era de encher os olhos, pois tamanha era a beleza. E para completar a bela noite, a lua cheia emanava uma claridade intensa. Todo o conjunto deixou Crowley encantado. Respirou fundo e se sentiu envolto de uma calmaria terna que o encheu de alegria. Quando as estrelas começaram a desaparecer, ele voltou para dentro, pois sabia que logo ia amanhecer.

Foi ao banheiro se lavar, mas antes, se olhou no espelho e viu que estava com um pouco de sangue seco em volta da boca, a roupa permanecia intacta, a não ser pela terra úmida e pelas folhas grudadas, mas sangue, não havia.

Holy Sin (Pecado Santo)Onde histórias criam vida. Descubra agora