CAPÍTULO 1

856 85 0
                                    

O sol se punha no horizonte quando o navio atracou. Marinheiros assobiando e trabalhando sobre o convés. Graham havia adormecido pouco antes de chegarmos. Peguei nossas malas tentando -de algum jeito- equilibrar meu irmãozinho em meus braços.

-Deixe-me ajuda-la, Senhorita - ofereceu um marinheiro no convés.

-Ah, obrigada.

O feérico de cabelos dourados pegou sem dificuldade as duas malas que carregava e desceu a rampa. Haviam feéricos de todos os tipos e em todos os lugares. Risadas enchiam o cais e mais além. As casas de telhado branco sendo banhadas pelos últimos raios de sol.

-Peço perdão por não acompanhá-la mais longe, mas tenho que voltar para o trabalho.

-Não se preocupe, já ajudou bastante. Obrigada.

O gentil marinheiro curvou-se minimamente levantando a boina de sua cabeça. A tentativa de movimento cavalheiresco me tirou uma leve risada.

Bem, vamos lá.

Meus sapatos puídos estalavam no chão de pedra. Para qualquer lado que olhasse havia lojas, artistas, casais, crianças, famílias. Parecia um lugar verdadeiramente acolhedor e tranquilo.

Haviam, também, algumas estalagens- entretanto- todas aparentavam ser caras, pelo menos em vista do parco poder aquisitivo que possuía no momento. Ainda assim, não custava perguntar...

Empurrei uma das portas da estalagem mais próxima. O interior era tão bonito quanto o exterior. O saguão era decorado com algumas poltronas e mesas com vasos de flor. Atrás do balcão havia uma senhora sorridente. Tentei - da melhor maneira possível, com uma criança nos braços e duas malas velhas- parecer confiante.

-Olá, querida, como posso ajudar?

-Olá, você teria algum quarto disponível para a noite?

-Ah sim! Temos dois quartos disponíveis.

-Ah ótimo! Mas...bem, quanto custaria a estadia?

O valor não era tão alto quanto esperava, entretanto, não tinha certeza se poderíamos pagar... Graham revirava em meus braços, estava sendo difícil carregá-lo, afinal já não era mais tão pequeno. Poderíamos pagar a estadia, mas eu teria que conseguir um trabalho o mais rápido possível...

-Tudo bem. Vou pagar por um quarto.

As paredes eram feitas de tábuas de madeira escura, havia uma cama de solteiro no meio do quarto, um baú no pé da cama e sob ele um pequeno tapete de couro.

Era o quarto mais chique em que estive nos últimos meses- e o mais caro também...

-Tem um banheiro ali naquela porta -disse a estalajadeira apontando para uma porta a direita do quarto- e o jantar vai ser servido em breve, se precisar de alguma coisa sabe onde me encontrar.

-Tudo bem, obrigada, senhora.

Ainda um pouco surpresa comigo mesma por ter feito uma decisão parcialmente irresponsável permaneci parada em frente a porta por alguns segundos mais até o peso de Graham e das malas começar a causar fincadas em meus músculos.

A cama era macia o suficiente para afundar com meu peso. Meu irmãozinho se remexia uma vez ou outra, só esperava que não estivesse tendo mais pesadelos. Precisávamos de uma noite tranquila de sono.

Peguei algumas roupas na mala e parti em direção ao banheiro. Minhas roupas, meu cabelo e meu cheiro estavam- certamente- horríveis ao extremo. Um banho seria bom.

Apesar de tudo isso não quis me demorar, quanto mais demorasse a dormir menos horas de sono teria. Pretendia sair cedo amanhã e certamente teria que levar Graham. Alguma hora mais tarde haveríamos de comprar no mínimo uma peça mais para nós, já que as atuais estavam realmente desgastadas.

Corte de Estrelas e SegredosWhere stories live. Discover now