CAPÍTULO 7

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- Você está bem? – sua voz era tão profunda quanto a noite.


Meu cérebro demorou um pouco para notar que havia me feito uma pergunta, principalmente quando uma das sobrancelhas escuras se arqueou minimamente sobre a pele morena.


-Ãh? Ah, é, tudo bem, quer dizer, estou bem – realmente lindo - Sinto muito, por isso...


Minhas bochechas estavam pegando fogo, meu cérebro dando piruetas ao tentar lembrar como formar palavras no meio da vergonha e surpresa. Talvez tanta beleza também o tenha afetado, mas isso não vem ao caso.


-Não se preocupe, está tudo bem – respondeu o olhos castanhos.

-Certo – concordei com uma risada envergonhada.

- Então...com licença.


O rapaz de pele morena, asas de morcego e olhos castanhos entrou no Rita's e se juntou aos conhecidos de Sevenda. Um membro da Corte então?

Suspirei audivelmente tentando assimilar a ridícula situação na qual me meti.

A súbita lembrança de que ainda estava em horário de trabalho me fez dar um pulo e correr de volta para a cozinha. Passando pela mesa dos oito torci para que não reparassem minha presença e nem mesmo olhei para os lados.


-O que foi? – perguntou Sevenda quando entrei na cozinha com o passo apertado.

-Nada.

A feérica me olhou com olhos apertados, obviamente, não acreditando nem um pouquinho.

-Você é cheia de segredos, não é?


Dei um sorriso amarelo em resposta e logo comecei a mexer em algumas panelas e pratos fingindo ter algo para fazer ali.

Então olhei ao redor esperando disfarçar mais um pouco ao brincar com meu irmão. Os potes estavam largados sobre a mesa. Não havia sinal de Graham ali. Meu coração deu um salto em meu peito ao olhar a porta aberta.


-Você viu o Graham? -Perguntei a Sevenda, sentindo meu coração dar cambalhotas e a mente começando a forma cenários preocupantes.

-Ele estava...


Antes que a feérica continuasse disparei em direção da porta, meus olhos buscando o pequeno feérico de cabelos pretos com rapidez. Despenquei contra a porta quando o avistei. O alivio enfraquecendo minhas pernas.

O ar saindo com tudo de meus pulmões. Sevenda chegou ao meu lado em completo silêncio.


-Tudo bem, ele só está brincando.

Apoiei as mãos no joelho esperando o baque de alivio passar.

-Está tudo bem, Lyra.


As palavras misturadas ao momento despertaram algo em minha memória.

Gritos podiam ser ouvidos de todos os lugares. Corpos largados ao chão. Sangue formando poças.

-Você tem que ir, Lyra.

-Não! Não vou deixá-los aqui! -Meus gritos despertaram Graham, que logo começou a chorar nos braços de nossa mãe.

-Vamos ficar bem, querida -respondeu ela. Antes de colocar o bebê em meus braços.

-Mas...- as lágrimas já embaçavam minha visão.

-Está tudo bem, Lyra – repetiu papai, antes de depositar um beijo em meus cabelos e no rosto de Graham. Batidas violentas soaram na porta do abrigo. Guardas gritando ordens. - Você tem que ir. Agora!


-Lyra? O que há com você?


Sevenda estava curvada ao meu lado, os olhos arregalados. Uma de suas mãos apoiadas em minhas costas.

As conversas ao redor voltaram com tudo. A risada de Graham me devolvendo o ar. Engolindo em seco acertei minha postura.

Meu irmão estava sentado a mesa do Grão-Senhor, sorrindo e se divertindo com o herdeiro daquela corte.


-Graham.


Seus olhinhos verdes se arregalaram à medida que encolheu os ombros.


-Venha aqui.


Hesitante o pequeno se aproximou.


-Ele me chamou para brincar...- disse meu irmão com um beicinho em seus lábios.

Ele também tem o direito de se divertir, disse a mim mesma, ainda que meu coração mandasse carregá-lo em meus braços pelo resto da noite.

-Perguntou a eles se podia se sentar lá?


Graham me encarou antes de sacudir a cabeça. Acenei em concordância antes de me afastar do batente da porta ao qual estava escorada até aquele momento e esticar minha mão para o pequeno.


-Venha cá.


De mãos dadas nos aproximamos da mesa. Seus integrantes parando a conversa com nossa chegada.


-Com licença. Desculpe interromper, mas será que teria problema, se eu o deixasse com vocês um pouquinho? - Perguntei olhando de relance todos ali, inclusive o feérico de mais cedo, antes de encarar a Grã-Senhora.

-Não vejo problema algum – Declarou a Grã-Senhora antes de se virar para o resto da mesa. Todos acenaram com a cabeça fazendo um leve suspiro passar por meus lábios. Não fazia ideia do que faria se negassem.

-Obrigada.


Virando para Graham, ajeitei seus cabelos que caiam sobre a testa antes de soltar sua mãozinha.


-Se comporte, rapazinho. Vou estar na cozinha com Sevenda.

-Tudo bem! – Graham disparou para o lado do pequeno feérico alado. Os dois agindo como se conhecem um ao outro a muito tempo.

-Certo. Qualquer coisa podem me chamar.

-Não se preocupe. Ele vai ficar bem-disse a Grã-Senhora com um sorriso gentil.


Logo pensei em esclarecer que não estava preocupada em deixá-lo com eles, mas é óbvio que estava e a feérica parecia notar...e entender. O que inevitavelmente já me ajudou a relaxar um pouquinho mais.


-Com licença.


Confesso que dar as costas a Graham tendo o deixado ali com aqueles estranhos, foi um desafio e tanto para minha mente ansiosa, mas segurei o desejo de voltar imediatamente e forcei-me a continuar meu caminho até a cozinha.


-Quer conversar sobre o que foi isso?

-Acho que não... -Havia coisas que não se dizia, apenas a própria pessoa teria que aprender a lidar. Estava lutando para isso.

-Muito bem- disse Sevenda com as mãos na cintura- Vamos trabalhar então.

Corte de Estrelas e SegredosWhere stories live. Discover now