Capítulo 24

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Por Manoela

Algumas semanas depois ...

Sentir que está perdendo alguém é uma sensação horrível, mas as situações que me aconteceram nem se comparam ao que ele está passando.

Felipe não fala, mas sei o que rodeia sua mente, o medo e a aflição estão nítidos em seus olhos.

Ao fim de todas as sessões de quimioterapia, tia Márcia chega em casa acompanhada de seu filho e vai direto pro quarto,  hoje não foi diferente. Quando eles entraram em casa, Felipe levou sua mãe para o quarto e logo depois seguiu para o seu, não respondendo a pergunta que fiz a alguns minutos atrás.

Deitados em sua cama, num silêncio ensurdecedor, capaz de nossas respirações ecoarem pelo quarto. Ele fitando o teto e por falta de opção, faço o mesmo.

Felipe está quieto desde que chegou, não trocou nenhuma palavra comigo e quando eu perguntei ele preferiu não me responder. Não sei o que está passando em sua mente e sinceramente, estou com medo de perguntar.

O observo quando se levanta e sai do quarto, o sigo até a parte de trás da casa, ambos em silêncio.

Ele se senta na grama recém cortada, apoia as costas na parede e fecha os olhos. Sento ao seu lado, respiro fundo e tomo coragem pra perguntar novamente...

— Felipe, o que aconteceu? — indago.

Ele me olha por incontáveis segundos, sinto meu coração acelerando e a respiração falhando. Minhas mãos começam a suar, seco-as no short e estalo meus dedos, ansiosa para que ele me conte o que aconteceu.

— Ela vai ser internada. O câncer está se espalhando muito rápido. — diz tão baixo quanto um sussurro, com a voz carregada de tristeza.

— E o que vamos fazer? Quando ela vai ser internada? — pergunto preocupada.

— Na próxima sessão vão internar ela e intensificar o tratamento.

Apoia os cotovelos nos joelhos e descansa o rosto nas mãos, soltando um suspiro pesado. Minha mão vai em suas costas e acaricio, tentando passar conforto.

— Eu não estou preparado pra isso... Não estou preparando pra isso... Eu não estou preparado pra isso... — sussurra repetidamente.

— Calma nego, vai dar tudo certo. Temos que pensar positivo e...

— Não Manoela, eu tenho que encarar a realidade cara! — interrompe a minha fala. — Olha o estado dela! Minha mãe mal tá conseguindo ficar em pé sozinha. — diz um pouco alterado. — Eu não sei o que eu vou fazer da minha vida sem ela.

— Felipe, nós precisamos manter a calma por ela, pela sua mãe. Porque tudo afeta no tratamento dela, na melhora dela. — tento dizer alguma coisa pra acalma-lo.

Com a respiração ofegante ele começa a tremer, tento me aproximar porém ele se levanta bruscamente e fica andando de um lado pro outro em passos duros.

— O Flávio morreu, você vai embora e agora a minha mãe vai me deixar também?! — parece estar se descontrolando. — Eu não vou aguentar isso, eu preciso que alguém fique, alguém que permaneça comigo e não solte minha mão...

— Mas eu estou com você aqui, Felipe. Não pretendo abandonar você, nunca.

— Não pretende mas é o que vai acontecer quando você se mudar! — recolho um pouco os ombros pelo seu tom alterado. — A gente vai se torturando nos primeiros meses, mandando mensagem um pro outro e logo depois, por conta das rotinas diferentes, nós vamos perder a frequência de contato até ficarmos dias, depois meses e finalmente não nos falarmos mais! É isso que vai acontecer. — diz um pouco mais baixo, porém com a respiração pesada. — E eu não quero isso, não quero me torturar assim.

"Sempre foi você"Onde histórias criam vida. Descubra agora