Saudade

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Nico narrando
Aliso o pelo preto de Sherlock, que estava deitado em meu colo, e encaro a foto na mesa ao lado do sofá, suspirando. A fotografia era de Will, poucos minutos antes de entrar no altar para nosso casamento. Ele estava com um terno branco e o rosto sério pelo nervosismo, mas mesmo com a expressão incomum de seriedade, ele continuava lindo.

Will estava em outro plantão. Era difícil conviver com a rotina extremamente cheia do meu marido no hospital, mas era o que o fazia feliz, apesar de tudo. Levantei, ainda com nosso gato no colo, e fui pegar um café. Adocei pouco e voltei para a sala, encarando a televisão ligada em algum canal aleatório. Quando não estava trabalhando, treinando campistas ou cuidando da casa, eu estava assim, procrastinando. Era difícil encontrar um hobbie quando a saudade ficava me perturbando constantemente. Tentei mais alguma coisa com a tevê até desistir e desligar. Terminei meu café e me levantei, me trocando e indo fazer algumas seções de levantamento de peso. Eu havia passado de um adolescente raquítico para um homem musculoso e torneado depois de muito esforço e recuperação, e agora eu pretendia manter essa forma (até porque, eu posso simplesmente fazer meu marido babar por mim, e isso aumenta minha autoestima de monte). Depois de algumas horas, encarei o relógio, observando que já estava na hora do jantar. Preparei uma porção para dois, separando uma parte e deixando em um prato no micro-ondas, sabendo que Will chegava morto de fome. Depois, alimentei Sherlock, tomei um banho, escovei os dentes e os cabelos, assisti um pouco de desenho e decidi dormir.

No meio do meu sono, acordo sentindo uma mão grande, um pouco áspera e quente acariciando meu rosto e cabelo, seguido por um par de lábios beijando minha bochecha. Abro minimamente os olhos e viro a cabeça.

W:- oi amor. Desculpa te acordar.

Bocejo e esfrego os olhos antes de responder.

N:- não se preocupa. Tava com saudade.

Ele sorri e deixa um selar demorado em meus lábios.

W:- vou jantar e tomar um banho e já volto, ok?

Concordo com a cabeça, e então ele sai do quarto. Encaro e relógio, vendo serem duas e meia da madrugada. Me estico e fico quieto na cama, fazendo hora e esperando. Will volta, pega sua toalha e vai para o banheiro. O ouço todo o tempo no chuveiro e depois, escovando os dentes. Ele retorna para o quarto, pendura a toalha e deita do meu lado, envolvendo meu corpo com os braços. Ele colocou apenas uma bermuda de cordão velha, me fazendo sentir os pelos em seu peito nas minhas costas. Sinto seus beijos em minha nuca e ombros e o sinto se apertar contra mim.

W:- tá muito cansado?

N:- até que não, por quê?

W:- sabe... fazem acho que três semanas que a gente não faz amor.

Eu rio levemente. Will sempre teve esse hábito adorável de nunca dizer transar, trepar, fazer sexo ou qualquer outro sinônimo mais agressivo. Era sempre fazer amor, coisinhas de casal, intimidades, essas coisas. Era uma das coisas mais fofas nele.

N:- também tô sentindo falta disso.

Ele sorri para mim logo antes de começar um beijo de língua. Não vou entrar em detalhes, mas passamos boa parte da madrugada matando essa saudade em específico. Depois de toda a brincadeira, aproveitando o clima tranquilo da cama bagunçada e das marcas que terminavam de se formar em nossos corpos, eu o encaro calmamente, apreciando cada detalhe. Era incrível como, depois de todos os anos que passamos juntos, consigo me sentir tão eufórico quanto estive em cada um de nossos primeiros momentos juntos, desde nos encarar profundamente pela primeira vez até o nosso casamento. Haviam talvez dois fios grisalhos entre os cabelos loiros de Will, mesmo ele estando longe da velhice ainda. Havia aquela pinta na lateral esquerda de seu queixo que eu adorava beijar antes de beijar sua boca. Os cílios curtos e loiros que adornavam de forma angelical os olhos azuis celeste. Cada coisa nele parecia extremamente perfeita. Eu até esquecia o quanto esse médico chato do caralho me irritava a maior parte do tempo.

W:- apreciando o presente da genética que Apolo me deu?

Eu ri.

N:- besta.

Me aconcheguei em seus braços, ouvindo seu coração. Ficamos em um silêncio confortável até ele quebrar a quietude.

W:- amor?

N:- diga, Elísio.

Eu sabia que esse apelido o desconcertava completamente, tanto que ele precisou retomar o fôlego antes de falar.

W:- sabe aquela clínica que eu queria abrir?

Will era mais chegado em fazer tratamentos de longo prazo do que cirurgias de emergência, o que no hospital era complicado de fazer. Por isso, ele queria juntar o suficiente para abrir sua própria clínica particular.

N:- sei.

W:- encontrei dois colegas no hospital que estão dispostos a serem sócios. Em breve, com o conjunto das nossas economias, vamos poder abrir a clínica.

Levantei o olhar para ele, lhe oferecendo um sorriso radiante.

N:- meus deuses, Elísio, que incrível!

Beijei sua boca animadamente algumas vezes, antes de ser impossível contermos nossos sorrisos. Ele me abraçou apertado, feliz pelo meu apoio. Dormimos com essa notícia espetacular, ainda sorrindo e abraçados.

Uma coisinha fofa pra vcs. Espero que tenham gostado.

SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!Onde histórias criam vida. Descubra agora