Capítulo 8

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- O que você fez, Charlie!? - pergunta Joanne, aflita com o meu estado.

- Nada! Eu juro! Eu só estava testando a minha câmera nova e ela começou a chorar e gritar - o recepcionista se defende, explicando a enfermeira e ao Dr. Murray o que exatamente aconteceu.

Eu estava envergonhada, sentada em um sofá de couro na sala do Dr. Murray. Joanne me entregou um copo d'água para me acalmar um pouco, já que mesmo após horas e horas do meu surto eu ainda tremia muito. Estávamos na mesma sala, porém, sentia como se eu estivesse sozinha dentro de um quarto minúsculo sem janelas, apenas uma porta trancada da qual eu não tinha a chave.

Fui examinada e tudo que eles pediram foi para que eu descansasse e tentasse dormir, pois estou há vários dias sem fazer isso. Joanne acha que isso pode ser um dos motivos para a minha explosão repentina.

- Quer que eu te leve para o seu quarto, Jane? - ela se oferece, mas eu nego com a cabeça enquanto todos assistem assustados. Eu não conseguia falar e nem pretendia fazer isso.

Vendo que eu não iria colaborar, os três decidiram esperar até que eu me sentisse pronta para dizer algo.

...

- O que você sentiu quando viu o Charlie com a câmera?

Estou na sala do Dr. Murray, para onde vim após o horário de almoço. Não o vi desde a noite de ontem, quando fui para o meu quarto e evitei qualquer um que aparecia no meu caminho.

- Eu não sei explicar - começo, olhando para baixo e enrolando meus dedos - Foi como se eu estivesse sendo... invadida.

- Acredito que esteja se conectando com emoções familiares, de antes da amnésia.

- Deve ser - tento encontrar um contexto para um sentimento como aquele. Sem sucesso.

- Infelizmente, os psicólogos de St. Ethel estão em falta, mas acho que se continuar cavando cada vez mais, encontrará uma resposta para o que está se passando em sua cabeça. Há algo aí dentro que não estamos conseguindo ler - aponta, me fazendo concordar com sua visão.

Há algo estranho enterrado nas profundezas do meu consciente. Quando esse "algo" se revelará?

...

- Você não quer sair um pouco? - pergunta Joanne, se sentando ao meu lado nos bancos da sala de espera. Ela tem tentado me animar o dia inteiro, porém eu mal consigo falar.

Depois da consulta com o Dr. Murray, tentei me desculpar com Charlie pela câmera fotográfica que parti em pedaços.

"Não se preocupe. Você não fez por querer, eu sei" ele respondeu, mas eu prometi que iria dar uma nova pra ele quando recuperasse minha memória, voltasse para casa e ajeitasse minha vida.

Então eu apenas vim para a sala de espera, onde passei as últimas horas vendo o vai e vem dos poucos pacientes do Hospital de St. Ethel.

- Você precisa de roupas novas, Jane - aponta a enfermeira. Encaro as peças que estou vestindo, as roupas que Joanne trouxe e que tenho usado desde então.

Quando as entregou para mim, ela disse que as usava na época em que era mais jovem e que já estavam há um bom tempo guardadas em desuso no seu guarda-roupa. Disse também que queria ter roupas novas e melhores para me dar, o que achei um absurdo porque ela já estava fazendo muito por mim.

- Tem uma loja no centro da cidade, podemos encontrar alguma coisa pra você lá - Joanne me olha com tanta genuinidade e bondade que decido concordar com ela, abrindo um sorriso em resposta.

E então nós saímos às compras, com um guarda-chuva em mãos já que o céu anunciava que a chuva estava se aproximando. Foi uma caminhada rápida, pois a parte da cidade repleta de moradias, bares e cafés não fica tão longe do hospital, mesmo que pela janela do meu quarto pareça que sim.

A Ascensão e Queda de Diana WilliamsWhere stories live. Discover now