Capítulo 9

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Jane

Ele não diz nada, apenas me encara com aquele olhar misterioso de sempre. Devia estar se perguntando se eu o havia seguido, já que é muita coincidência encontrá-lo logo aqui, onde não há uma alma penada. É a primeira vez que consigo realmente ver uma expressão em seu rosto e, infelizmente, não é o que desejo ver esboçado no rosto de ninguém. Encurto a distância entre nós, tendo Beck sempre atento aos meus passos.

- Aconteceu alguma coisa? - quebro o silêncio que antes era interrompido apenas pelo som do vento balançando as folhas das árvores - Você não parece muito bem.

- Eu disse que não temos mais nada pra conversar - ele me lembra, voltando com aquele ar de arrogância.

- Não pode continuar me evitando, Tucker - reclamo, mas o indivíduo decide dar as costas para mim e me ignorar - Parece ter raiva de mim e eu nem sei o porquê.

Ainda sem respostas, cruzo meus braços e continuo.

- Seu irmão é um anjinho e sua avó é uma querida. Como vocês podem ser parentes? - provoco, vendo se assim ele abrirá a boca.

- Não fale do que você não sabe - responde ainda de costas. Posso estar enganada, mas sua voz soa como se ele estivesse sorrindo. É estranho porque não consigo imaginá-lo sorrindo genuinamente. Ou seja, está sendo desdenhoso novamente.

- Ela sempre me falou muito de você, disse que é um ótimo neto apesar de deixá-la louca de vez em quando - recordo de como Molly descreveu os netos. Desde a primeira vez que visitei seu quarto no hospital ela me conta sobre eles e sobre como os ama - Não parece se importar muito com isso.

- Você não sabe como é - encaro suas costas largas, me perguntando se ele ficará para sempre assim.

- Está certo, eu não sei. Nem me lembro se tenho avós.

- Então você realmente perdeu a memória? - ele parece interessado nisso, provavelmente porque é um daqueles que duvidam de mim.

- Tudinho - respondo, pegando uma pedrinha do chão e jogando no rio exatamente como ele fazia minutos atrás. Já ao seu lado, pego mais uma pedrinha e tento fazê-la saltar pela água, sem sucesso. Sinto seus olhos sobre mim, como se estivesse pensando em algo - Talvez não acredite em mim...

- Eu não disse que não acredito - corrige, mantendo agora sua visão no rio.

- Mas é o que faz parecer - arremesso mais uma pedra e, dessa vez, ela segue saltitante pela água - Como eu disse, você parece ter raiva de mim.

- Não tenho raiva de você - confessa.

- Então pare de agir como se tivesse - me ponho à sua frente, fazendo-o tirar os olhos do rio e se virar para mim. Consequentemente, sinto um frio surgir em minha barriga ao ter toda a sua atenção voltada para mim.

- Você é muito insistente, sabia? - diz em tom de reclamação, me fazendo soltar uma risada sincera. Juro que vi uma pequena inclinação no canto de sua boca, que provavelmente viria a se tornar um sorriso caso um trovão não interrompesse, nos fazendo olhar para o céu cinzento ao mesmo tempo.

- Eu não sei o que aconteceu entre vocês e sei que não devia me meter nisso, mas não pode impedir seu irmão de visitá-la - digo, me referindo à sua avó - Ela fica solitária na maior parte do tempo e vi como ficou feliz quando recebeu a visita do neto. Ele também parecia feliz.

Ele não responde nada, mas a chuva sim, ficando ainda mais forte a cada segundo. Em vez de correr para baixo das árvores para nos cobrir, eu e Beck apenas assistimos às gotas se encontrarem com o rio, fazendo o splash das nossas pedrinhas não parecerem nada.

A Ascensão e Queda de Diana WilliamsWhere stories live. Discover now