Capítulo 2

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Um funcionário da Corporação chama pelo meu nome; levanto-me e tento manter a calma. Abro a porta lentamente.

— Muito bem, Srta. Paterson, por favor, sente-se. Agradeço pela sua presença; certamente, sua família está sendo bem representada — Afirma o entrevistador. — Agora, poderia me contar sobre o seu dom?

Agradeço pelo elogio, puxo a cadeira e sento-me à frente do moço. Percebo que minhas mãos estão tremendo.

— Minha família tem em sua genealogia muitas pessoas dotadas com esse dom específico: a Aerocinese. Descobri que eu mesma o possuía aos sete anos de idade. Estava em um passeio com os meus pais quando, inconscientemente, comecei a aumentar a pressão do ar, deslocando objetos ao meu redor. — Conto.

O dom da Aerocinese é muito frequente na linhagem da minha família paterna, embora os meus pais em si não possuam dom algum. Eu tenho a capacidade de gerar e controlar o ar.

— Seria possível fazer uma demonstração? — Indaga.

Concentro-me, começo a movimentar as mãos levemente, produzindo uma brisa que despenteia o moço. Alguns livros caem das prateleiras, e papéis voam subitamente. Torço para que nenhum pensamento ruim torne a aparecer e que a brisa não transforme-se em uma rajada, ou, na pior das hipóteses, em um tornado. A ideia do vexame não parece mais uma opção, talvez pelo peso de representar a minha família, ou talvez pelo medo de receber uma punição.

É o bastante — exclama ele. — Muito bem! Acredito que aqui você conseguirá aprimorar o seu dom. Os treinamentos começam amanhã; agora, algumas pessoas vão conduzi-la ao seu quarto.

Levam-me ao meu quarto, ele é bonito e aconchegante, com a cor neutra parecida com a fachada do prédio. Diana é minha colega de quarto. Recebo comida e alguns produtos higiênicos. O resto do dia arrasta-se tediosamente.

— Foi incrível, Jane! Comuniquei-me com ele, usando a telepatia, meu dom o deixou perplexo. — Diz Diana.

Ela solta uma risada amigável. Para ela, aquilo era uma diversão, mas, e amanhã? Como será o treinamento? Sei que não teremos contato com veteranos, todos estão em seus próprios quartéis.

Trim Trim...

Estico a mão para alcançar o telefone, que descansa sobre a escrivaninha. O número é o de papai. De certo querem saber se tudo ocorreu bem. John e Susan Paterson estão sempre preocupados.

— Alô? Papai? — Atendo.

— Jane, é a mamãe. Como você está, querida? — Pergunta suavemente.

— Estou bem, mamãe. Tudo ocorreu bem. — Digo.

— Também estou te ouvindo, garotinha. — Sorrio ao reconhecer a voz de papai.

— E vocês, como estão? — Pergunto.

— Estamos bem, querida, mas com muita saudade. — Confessa.

Converso por mais alguns minutos. A presença de meus pais, mesmo que apenas através do telefone, sempre me deixa mais tranquila. No entanto, após o término da conversa me sinto incompleta. 

Meu quarto situa-se no terceiro andar do prédio, ao anoitecer decido ir até a varanda. Fico sentada no chão admirando os pontos iluminados no céu. Acredito que isso me deixa menos sozinha, talvez pelo fato de saber que há algo bem maior na imensidão do universo.

 Acredito que isso me deixa menos sozinha, talvez pelo fato de saber que há algo bem maior na imensidão do universo

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