Capítulo 3

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    Acordamos cedo, e começamos a busca por emprego. Fizemos muitos quilômetros caminhando, deixando currículos, em praticamente todo o comércio que víamos. Era perto das 14:00 horas, ainda não tínhamos almoçado, avistamos um restaurante chique, decidimos deixar nosso último currículo ali, antes de voltarmos a pensão.

     Entramos, o local era lindo, e muito sofisticado, nunca tínhamos visto um restaurante como aquele. Fomos até o balcão, onde uma mulher morena de cabelos até os ombros, estava sentada, e ao seu lado estava um cara loiro, alto, vejo Lorena suspirar, encantada, cutuco ela. Eles nos olham ao nos aproximarmos.

- Boa tarde.- Digo.- Estamos a procura de emprego, e gostaríamos de saber se podemos deixar um currículo aqui.

     A mulher me dá uma olhada dos pés a cabeça, com um olhar de nojo.

- Posso dar uma olhada?- O cara pergunta, apontando para nossos currículos.

- Claro.- Concordo.

     Ele pega, olhando rapidamente.

- Esperem um momento, volto já.- Diz levando nossos currículos.

     Lorena me olha animada, com esperanças, já eu preferia não criar expectativas falsas. Esperamos alguns minutos, até ele voltar de mãos vazias, com um leve sorriso.

- Hoje é o dia de sorte de vocês.- Sorri.- Prontas, para a entrevista?!

      Lorena comemora, eufórica, já eu fico com um pé atrás, pois as coisas nunca costumavam ser assim, tão fáceis para mim.

     Acompanhamos o homem, que nos encaminha até um longo corredor, em uma sala com grandes janelas de vidro.

- Pode entrar às duas.- Fala uma voz rouca.- Enquanto eu entrevisto uma, a outra fica sentada ali, em silêncio.

     Ele se vira na cadeira nos olhando, aparentava ter no máximo trinta anos, cabelos castanhos claros, muito bem penteados, barba por fazer, olhos claros. Usava um terno escuro, que moldava perfeitamente seus músculos, seu olhar era gélido, sem emoção alguma.
    
       Algo nele não me passava confiança, tinha algo de estranho ali.

- Vai você primeiro.- Cochicha Lorena, indo até a poltrona no canto.

      Me sento, enquanto ele analisava meu currículo. Dou uma rápida olhada pelo local, que era muito bem decorado, e assim como o restaurante, sofisticado.
    Meus olhos correm, parando então na pistola que estava em sua mesa, ao lado do seu computador. Tento manter a calma, e fingir que nada tinha visto, pensando na merda que estava acontecendo ali.

- Vejo que é da Espanha.- Começa, ainda com os olhos grudados no currículo.- O que fez você vir parar na Itália?

- Tentar uma vida melhor.- Digo rapidamente.

      Ele me observa por alguns segundos, como se tentasse ler meu rosto. Não sei porque mas, estava com um mal pressentimento.

- Tem filhos?- Questiona, brincando com uma caneta.

- Não.

- Mora com os pais?- Pergunta sem tirar os olhos de mim.

- Não.- Respondo apenas.

      Então ele larga a caneta, e cruza os braços, seu olhar continuava em mim, como se tentasse me ler.

- É virgem?- Pergunta.

- O quê?- Pergunto não acreditando no que estava ouvindo.

      Eu sabia que tinha algo de errado ali, e a minha cabeça já estava a milhão, pensando em centenas de formas de fugir dali.

       Ele se levanta, com as mãos no bolso, seu tamanho era amedrontador. Observo pelo canto do olho, ele indo até o mini bar que tinha no canto do escritório, servindo um copo de whisky.
      Olho então para o outro lado do escritório, onde estava o outro cara, que prestava atenção em cada movimento nosso.

- Isso mesmo que você ouviu.- Confirma, tomando um pouco de whisky.- Você é virgem?

      Respiro fundo tentando me conter, por mais que eu soubesse lutar, estávamos em desvantagem, estávamos na toca dos lobos.

- Eu vim até aqui, para tentar conseguir uma vaga no restaurante, e não em um cabaré.- Deixo minha raiva transparecer.
  
       Um silêncio paira no ar, podia sentir todos os olhos em cima de mim naquele momento, sinto um arrepio correr na espinha.

- Ela é, ela é virgem sim.- Diz Lorena, rapidamente, quebrando o silêncio.- Desculpa Kath, sei que não gosta de falar sobre você, mas precisamos desse emprego.

      A olho com raiva, Lorena era uma pessoa maravilhosa, porém muito ingênua, não via maldade em nada, e isso era um problema as vezes.

    O homem sorri satisfeito.

- Ótimo, será você mesma, a minha esposa.- Diz ele sem rodeios.

    Me levanto rapidamente, aquilo só podia ser brincadeira. Lorena arregala os olhos, sem entender nada.

- Mas que palhaçada é essa?- Questiono olhando para ele, e para o outro cara, que nos trouxe até aqui.

- Não tem nenhum palhaço aqui.- Responde.- Enrico, chame o segurança para levá-la.

- Eu não vou a lugar algum.- Digo Rapidamente.

- Isso não está em discussão.- Sorri de canto.

     Me viro rapidamente, pegando a pistola que estava sobre a mesa, destravando, apontando para ele. 

- Eu não vou a lugar algum.- Repito vagarosamente.- E se continuar com isso,  darei um tiro bem no meio da sua testa.

      Seu olhar muda, ficando sério, enquanto Lorena estava em choque, e o tal Enrico assistia tudo tranquilamente.
  
      Sinto a adrenalina correr sobre minhas veias, adorava sentir isso, porém ali, naquelas circunstâncias que nos encontrávamos, não era das melhores. Precisava tirar Lorena e eu dali, mesmo sabendo que talvez as chances fossem nulas, afinal, não sabia o que eles eram.

- Abaixa essa arma, agora.- Diz irritado.- Você não sabe com quem está lidando.

- Pois digo o mesmo pra você.- Enfrento.

     Nesse momento sinto alguém me agarrar pro trás, era um de seus segurança, tentando tirar a arma de minhas mãos. Ele era forte, tento me manter firme, não podia me deixar ser levada, aperto o gatilho da arma, acertando a perna do tal segurança. Ele grunhi mas ainda continuava tentando tirar a arma de mim, me esforço e dou outro tiro, fazendo ele cair no chão de dor.

- Corre Lorena, agora.- Digo vendo ela levantar.

    Mas antes que ela pudesse tentar correr, o homem a pega, apontando uma faca em seu pescoço. Fico paralisada em meu lugar, enquanto ele me olhava com um olhar mortal.

- Se você não largar essa arma agora, e se render, ela morre.- Ameaça.

      Sem pensar, largo a arma, erguendo as mãos para o alto. Lorena era minha melhor amiga, a única pessoa que realmente se importava comigo, não queria que nada de mal acontecesse com ela.

- Ótimo.- Fala empurrando Lorena.

     Ele sorri vitorioso, vindo até mim e amarrando meus braços para trás, e colocando uma fita em minha boca.

- Vou leva-la, e você trate de ajudá-lo. - Fala para o tal Enrico.- E depois dê um jeito de se livrar da outra.

- Você não vai levar Katherine a lugar algum.- Diz Lorena, vindo até ele.

       Lô começa a bater em suas costas, afim de tentar me libertar, mas era em vão, seus tapas não faziam  nem cócegas, naquele ser. Ele a pega pelo braço, com raiva a empurrando.

- Ok, você vai junto com sua amiguinha.- Diz olhando para o tal Enrico.- Leve ela.

    Um filme passava por minha mente, isso não podia estar acontecendo, viemos para a Itália para tentarmos uma vida melhor, e agora estávamos sendo sequestradas, e levadas para Deus sabe onde. Que merda de vida!
  

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