Prólogo.

191 32 49
                                    


DESGRAÇADA, DESGRAÇADA, DESGRAÇADA mil vezes!  Eu arrancaria aqueles malditos cachos sedosos e faria almofadas para meus gatos. Aquela mulher ridícula, ordinária!


Eu me movimentava de um lado para o outro enquanto pressionava o celular contra a orelha, o barulho da chamada não atendida me deixava ainda mais irritada.

— De agora em diante, eu vou falar menos. — Jurei. — E nunca mais, nunca mais abro a boca para contar os meus projetos a ninguém! — Praguejei encarando o gato preto em meu sofá. — Denis Oque eu faço?— Choraminguei.

O gato preto apenas me ignorou e nem quando tentei pega-lo no colo seu rosto de poucos amigos mudou.

— Nem você está ao meu favor hoje. — Resolvi deixa-lo em paz. Encarei a lâmpada que se movia de um lado para o outro e Praguejei diante dos sons acima.— DA PRA GEMEREM MAIS BAIXO? SÃO APENAS SEIS HORAS DA NOITE, SEIS!— Reclamei com os vizinhos de cima.

Coelhos, eles pareciam Coelhos deviam ser cristãos recém casados para terem tanto fogo.

Recebi gemidos mais alto em resposta, tapei meus ouvidos com lágrimas nos olhos. Que mês de merda, que semana de merda e que dia de merda! Na verdade, a minha vida é uma merda desde que fui embora da casa dos meus pais.

Crescer é uma droga, você depende de você mesmo não é de todo ruim, Mas agora eu só queria a minha mãe. Me debati no sofá, Denis meu gato me olhou como se eu fosse uma criança mal criada. Mas eu não o culpo, eu estava realmente agindo como uma criança que teve seu doce tirado.

Não é fácil escrever, você precisa de criatividade, de esforço, de cobrança e principalmente de bom humor. Eu fiquei um ano trabalhando naquele livro, um ano! Pra no fim, aquela filha da lambisgoia roubar tudo! Respirei fundo tentando acalmar minha respiração. Amanda, ela dividia o apartamento comigo. Nos conhecemos na faculdade e decidimos morar juntas, assim diminuiria os o valor dos gastos, seria bom para as duas já que a faculdade não era cem por cento gratuita e foi. Até ela me plagiar.

E agora, nesse exato momento está se exibindo em um biblioteca aqui em Londres com pessoas querendo comprar o livro, meu livro. Nada do que eu fiz fez com que os outros acreditassem em mim, e eu tinha até provas. Mas Amanda tinha o povo, e principalmente tinha sua fama.

Além de estar sendo cancelada por ter mentido, estou com fama de escritora amadora invejosa. Não tinha como, definitivamente não tinha como as coisas piorarem. Tentei ligar mais algumas vezes para seu celular. Até que cansei daquele barulho da chamada perdida.

Se ela não vai me atender, eu vou até lá. E tentaria uma última coisa, Peguei as chaves do meu carro e girei a maçaneta.

— Fica tranquilo Denis, se o destino não vai fazer nada eu faço. — o gato de olhos dourados piscou e rolou para o lado se espreguiçando.

Desci as escadas por causa do elevador quebrado e ao sair do prédio até o estacionamento encarei o céu noturno, o ar de Londres estava sempre úmido mas nessa noite em específico o vento parecia ter sumido. Londres era linda pela manhã mas pela noite... Ultrapassava o conceito de cidade bonita.

Destravei o carro e entrei, empurrei algumas embalagens de salgadinhos que eu com certeza devia tirá-las de lá antes que o carro desse barata para fora. E de inseto eu tenho pavor. Liguei o carro, e dirigi com determinação.

Ninguém se dará bem às minhas custas, ninguém me difamaria depois de todo meu esforço para ter se tornado quem era. Não foi fácil para meus pais aceitarem a vida que eu queria ter, eu queria viajar para muitos lugares, conhecer coisas novas e ter inspirações para meus poemas e romances.

Aquela girica não acabaria com tudo!

Virei a esquerda dando seta foi quando o celular tocou, tentei pegar do painel mas o mesmo caiu. Praguejei baixinho enquanto tentava me concentrar na estrada e no celular aos meus pés, encarei a foto na chamada e sorri. Peguei meu celular depressa e atendi.

— Veja só quem resolveu retornar a minha ligação!

Um silêncio enquanto eu mantia uma velocidade razoável.

— Oque você quer Rebecca? Me desejar os parabéns? — Rangi meus dentes diante de tanto cinismo e seu riso cínico. — Você devia ver a fila enorme que estão fazendo apenas para ver a minha ilustre presença e meu mais novo livro. Desista Becca, você nunca vai ser boa.

— Seu Livro? — Ri sem humor algum.— Meu livro! Escute aqui Amanda, vou desmascarar você nem que eu coloque Londres de cabeça para baixo para que isso aconteça! — Essas foram as palavras mais sinceras que eu já disse em toda a minha vida.

Contudo, a última também.  Não sei de onde veio, nem como veio. Só sei que meus olhos se arregalaram mesmo com toda aquela luz em meu rosto, o som da buzina do caminhão se alongou, e o pneu se arrastando para que os freios funcionassem sufocaram meu grito.

E então senti o impacto, ouvi o barulho de estilhaços de vidro e depois zumbido. Dormência, coração acelerado e por último nada. Apenas o escuro, o escuro que me arrancou um suspiro e depois a vida.

Continue...

De volta à vida. Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum