26. Ai meu Deus! Ai meu Deus!

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Estava no último cacho do cabelo, me arrumando para o primeiro encontro do namoro falso. Sentia uma ansiedade agitar o meu estômago, porque a hora de dizer a minha mãe para onde eu estava indo às sete da noite de uma terça-feira, estava se aproximando.

Coloquei o vestido mais sem cor que já comprei na vida. Na verdade, aquele vestido era de um das coleções da empresa em que minha mãe trabalha. Ela achou tão elegante que resolveu comprar.

Usei o total de duas vezes. Pois não era muito a minha cara. Preferia usar roupas mais vivas e coloridas, o que era o completo oposto daquele vestido.

Ele chegava até a metade da coxa e era todo brilhoso, em um tom preto que parecia um céu estrelado. Ele fazia uma curva nos peitos, e sua manga era longa, cobrindo todo o braço.

Ele tinha um certo charme, mas me passava mais uma imagem elegante e sensual.

Duas coisas que eu não sou.

Me olhei no espelho ao colocar um salto prateado que peguei do armário de minha mãe. Ela gostava de se vestir daquele jeito. Acho então, que o meu estilo veio da minha avó.

Peguei uma bolsa preta e coloquei só algumas maquiagens caso precisasse retocar. Nunca me preocupei com essas coisas. Gostava do meu rosto natural sem aquele peso todo.

Mas precisava me empenhar pois hoje finalmente iríamos agir como um casal publicamente. E Thomas deixou bem claro para que eu fosse elegante sem meter flores no meio do caminho.

As flores com certeza eram as suas maiores inimigas.

Dei uma última olhada no espelho e percebi que o meu cabelo estava muito sem vida. Estava definido, brilhoso, mas não tinha um único acessório. Então, não resistindo a tentação, eu peguei uma tiara fina com algumas pedrinhas brilhantes e coloquei no meio do cabelo, passando algumas mechas para frente.

Respirei fundo e peguei a minha bolsa juntamente com o meu celular. O celular acendeu e pude ver uma mensagem brilhar na tela.

"Está pronta? Por que tanta demora? Acredito que não deva levar muito tempo para colocar um vestido de flor e trançar o cabelo."

Revirei os olhos ao ler aquilo. Esse debochado mesquinha estava mesmo rebaixando o meu estilo assim? Vou contar para ele então o que um boné faz com o cabelo dos homens. Não dou vinte anos até que ele fique calvo.

Desliguei o celular depois de enviar um "estou pronta, pode vir" e encarei a porta, sentindo o meu corpo suar por finalmente o momento estar se aproximando.

Thomas me disse que viria ao meu apartamento me buscar. Segundo ele, isso deixaria minha mãe mais calma e segura de que eu poderia sair com ele. Mas a verdade é que minha mãe não ficaria nervosa, ela ficaria chocada.

Ela certamente acreditaria que eu fui raptada e me substituíram por outra Isabella.

Toda vez que a mulher tocava em assuntos sobre garotos eu fugia ou arrumava um jeito de dizer de forma clara o quanto eu não tinha interesse algum em arrumar um namorado.

Chegou uma época que ela queria me juntar até mesmo com Yuri. Ela e tia Leyla decidiram que nós íamos crescer juntos e que em algum momento iríamos nos casar já que nunca tocamos em assuntos de relacionamento.

Mas desistiram da ideia quando Yuri finalmente se apaixonou por Mel e eu pelos meus personagens fictícios.

Estava presa em meus pensamentos quando o barulho da campainha me fez despertar.

Ah não... Ele chegou.

Estava planejando falar com a minha mãe um pouco antes dele chegar, para ao menos dizer que estava saindo com alguém. Mas fui burra ao ponto de ficar viajando e esquecer da minha missão.

Meu Deus, e agora?!

Abri a porta do quarto e corri em direção a sala, me impressionando com a estabilidade que eu tinha em cima dos saltos. Parei imediatamente quando vi minha mãe dando uma risada alta com Thomas em sua frente.

Thomas estava usando uma blusa social preta que estava dobrada de um jeito elegante até o cotovelo. Em seu pulso, tinha um relógio de prata e em seus dedos alguns anéis. Seu cabelo estava perfeitamente dividido ao meio, com os lados alinhados fazendo uma pequena curta em cada lado do topo do cabelo. Ele usava uma calça jeans preta, tênis branco nos pés e um cinto apenas para completar o seu visual.

Estava lindo, eu não podia negar. Mas também nunca contaria isso a ele. Se normalmente já é todo cheio de si, imagina como ficaria após um elogio.

— Minha filha está saindo com você? — Minha mãe soltou mais uma gargalhada. — Me desculpe, querido. Mas é um pouco difícil acreditar nisso. Minha filha é apaixonada por vários homens. — Thomas ficou um pouco surpreso com aquilo. — Mas infelizmente, todos são fictícios! — E voltou a gargalhar mais uma vez.

— É que... — A mulher interrompeu a sua fala.

— Eu te conheço de algum lugar, sabia? Parece que eu já vi esse seu rosto bonito. — Ela apoiou na porta, com um sorriso gentil no rosto

— Ele é filho da nova modelo da only fashion, mãe. — Ela se virou para mim, completamente surpresa. Ficou ainda mais surpresa ao analisar a minha roupa e ver que eu realmente estava saindo. — Eu não tive tempo de contar, mãe. Foi tudo muito rápido e... — Antes que eu pudesse terminar de falar, ela levou a mão à boca dizendo coisas indecifráveis.

— Ai meu Deus! Ai meu Deus! — Ela dizia eufórica, enquanto eu analisava aquela cena respirando fundo. — Minha filha tá saindo com um homem que não está dentro de um livro? — Thomas parecia querer rir.

O engraçadinho não fazia questão alguma de rir em outras situações. Interessante ele querer rir justamente nesse momento.

Vendo minha expressão irritada, Thomas estendeu um buquê de girassóis que ele escondia atrás de si. Ele me olhou com uma expressão que nunca vi antes, uma expressão que eu não soube muito bem interpretar. Mas parecia feliz em estar ali, feliz em me ver e feliz em sair comigo.

Por um momento, eu me desesperei.
Imaginando que ele teria arrancado cada um dos meus girassóis para fazer aquele buquê.

Mas ele pediu licença e adentrou o nosso apartamento, se aproximando de mim e abrindo um sorriso que imaginei que jamais faria novamente.

— Eu não sou um monstro, relaxa. Comprei essas flores em uma floricultura. — Soltei o ar que nem imaginava estar segurando. Era um alívio saber que os meus girassóis estavam seguros. Ele me estendeu um livro onde o título era "pessoas normais". O livro era todo verde e seu estilo era um pouco diferente do que eu costumava ler. Não tinha tanta cor. Na verdade, a capa era bem simples. — Um dos meus favoritos. Você disse que queria ler, não é? Cadê o seu?

Eu abri um leve sorriso e pedi para que segurasse as flores novamente. Corri em direção ao meu quarto, em busca de um dos meus favoritos. Quando avistei aquela capa, sorri, tendo a certeza de que seria aquele.

Voltei para a sala e mostrei para ele, vendo que ele analisava cada detalhe da capa. O menino assentiu suavemente e eu tomei o livro de sua mão e o coloquei sobre a mesa para que pudesse apoiar nele e ajeitar o salto que estava me incomodando.

— Vamos? No caminho conversamos mais sobre. — Falei, notando que concordou com a cabeça e entrelaçou o seu braço ao meu.

Ele estava irreconhecível, agindo realmente como um namorado gentil e carismático. Nem parecia o Thomas destruidor de flores. Agora ele até dava flores.

— Minha filha arranjou um modelo bonito. Mas mesmo assim, continua presa nos livros já que o modelo bonito também lê. — Minha mãe balançava a cabeça para os lados, reclamando com si mesma. — Lamentável, viu. — Passamos por ela e percebi quando chamou nossa atenção. — Voltem cedo! Preciso saber muita coisa sobre você, hein Thomas!

— Teremos muito tempo para isso, senhora! Será um prazer desfrutar da sua companhia. — Tá bem, agora eu realmente estava acreditando que Thomas foi raptado. — Vou trazê-la em segurança antes das dez.

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