35. Que tal sairmos então, Bella?

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Terminava de me arrumar quando recebi uma ligação de meu pai, dizendo que um imprevisto aconteceu e que ele não poderia me buscar hoje. O homem estava com a voz arrastada e parecia estar magoado com alguma coisa. Ele não quis dar detalhes do seu imprevisto, apenas disse que amanhã estaria aqui para me buscar e contar o que houve.

Eu apenas o desejei um bom dia e passei o resto da manhã pensando no que poderia ter acontecido.

— Filha, não adianta ficar sentada aí com essa cara de preocupação e medo. Vai ficar tudo bem, seu pai sabe resolver os problemas dele. — Minha mãe veio ao meu encontro e se sentou ao meu lado. Ela parecia saber o que aconteceu, mas não adianta o quanto eu insistisse, ela não me contaria.

— Se a senhora me contasse o que aconteceu, eu não estaria assim. — Estreitei os meus olhos para ela, vendo o seu olhar desviar para um outro ponto.

— Por que não vai sair com o seu namorado? Seria uma boa oportunidade de pensar em outras coisas. Leva ele nos seus lugares favoritos daqui. Como o asilo, o abrigo de animais, o bosque e até aquela sorveteria que você ama. — Eu pensei um pouco.

Seria uma ótima ideia sair e evitar pensar em seja lá qual fosse o problema que meu pai estivesse passando. Talvez nem fosse nada grave e eu não consigo parar de pensar. Nunca fui de me abater ou criar paranóias sem parar. Na verdade, eu era muito positiva e sempre olhava para o lado bom das situações. Mas era meio difícil agora por ter escutado o tom de voz apavorado de meu pai.

Porém, a ideia de sair com Thomas já não me agradava tanto. O menino depois de ter dado aquela ideia absurda onde eu certamente não concordaria, me evitou desde ontem a noite. Ele provavelmente se enfureceu após negar o seu mais novo plano, e por isso, me tratava daquele jeito.

Escutamos a campainha tocar e minha mãe foi até a porta, acreditando que ou era Yuri, ou era a sua mãe ou os dois decidiram vir ao mesmo tempo.

Sendo que não era nenhum dos dois.

Thomas estava na porta usando uma blusa branca de alguma marca que eu não consegui identificar, uma bermuda preta com alguns rasgos e o boné em sua cabeça. Ele abriu um sorriso para a minha mãe e eu precisei fazer uma careta. Como conseguia ser tão falso?

— Olá, senhora. — Ele disse para a mulher e ela abriu um sorriso quase de imediato, um sorriso assustador.

— Thomas! Que prazer te ver hoje. Por favor, entre. — Ela deu espaço para ele passar e o menino adentrou o lugar, me encarando de um jeito perverso. — Veio ver a Isa?

— Sim, senhora. — Ele pegou uma das mãos de minha mãe e depositou um beijo rápido. — E gostaria de passar um tempo com ela hoje. Se for da sua vontade e da dela, é claro.

Minha mãe assentia de forma exagerada com a cabeça. Eu olhava aquilo tudo com uma expressão de tédio, até que eu bufei ao vê-lo se aproximar de mim.

O menino se aproximou de meu rosto e beijou uma das minhas bochechas, um beijo demorado que me fez sentir aquela sensação absurda de novo no peito. Era como um choque que fazia minha respiração acelerar de um jeito agitado.

Que coisa! Como ele me fazia sentir isso?

Ele me encarou por alguns segundos com aquele seu sorrisinho insuportável. Se eu soubesse antes que fazê-lo sorrir daria nisso, eu jamais teria feito.

— Oi, Bella. — Ele agachou em minha frente, apoiando uma de suas mãos no braço do sofá.

— O que você está fazendo aqui? — Soltei de repente, sem me ligar que minha mãe poderia desconfiar daquilo.

— Por que está agindo assim, Isa? — Dona Ingrid se aproximou de nós dois, sentando ao meu lado e me encarando de um jeito incrédulo. — Ele veio te ver e aproveitar a sua companhia! É seu namorado, poxa. — Thomas parecia querer rir do que a mulher dizia. — Olha, Thomas. Hoje ela não está muito bem, entende? O pai dela telefonou pela manhã dizendo que não poderia buscá-la hoje porque aconteceu um problema com ele. Então ela está até agora preocupada e desesperada para saber o que houve. Por isso está mal-humorada desse jeito. — Minha mãe balançou a cabeça para os lados enquanto Thomas concordava com uma expressão compreensiva.

Que garoto...

Que tal sairmos então, Bella? Pode ser bom para ajudar a espairecer a mente, não acha? — Ele voltou o seu olhar para mim, acariciando um lado da minha cabeça.

— Então agora você quer sair? — Retirei a sua mão, vendo que minha mãe me encarou de um jeito assustado.

— Vocês por um acaso brigaram? — Ela piscava, um pouco confusa, tentando entender a situação.

— Não, mãe. — Thomas me olhava de um jeito desafiador, como se estivesse me desafiando a brigar na frente dela e acabar com o nosso acordo. A minha vontade era essa. Era de provar para ele que não poderia me usar desse jeito e eu podia fazer o que bem entendesse. Mas tínhamos um acordo e eu não podia quebrar essa promessa. — Só... Não estou muito bem para sair. Mas vou me esforçar, pode ser? — Abri um sorriso para ela e depois para Thomas, porém o sorriso que se direcionou para ele foi tão falso que o menino segurou a risada.

— Então vamos. Você escolhe o lugar, pode ser? — Ele pegou as minhas mãos e me levantou, interpretando ainda o papel de bom moço.

— Pode ser. — Suspirei, revirando os meus olhos.

Talvez eu esteja realmente mal-humorada.

O Fio Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora