39. Escuta bem.

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Isabella se despedia de algumas crianças enquanto um grupinho me cercava para conversar. O grupinho era resumido aos três adolescentes, a Lisa e o Théo. Acho que eles gostaram bastante de mim.

— Adorei te conhecer! Você é completamente diferente do que dizem sobre você. É tão gentil que não acredito que digam isso. — Eu me senti um pouco mal, pois a maioria das pessoas que diziam isso, tinha razão.

— Muito obrigada, Juliana. — Ela sorriu ao ouvir seu nome sair pelos meus lábios. Acho que nem ela esperava que eu tivesse gravado seu nome.

— Será que você pode me dar um autógrafo? A galera da minha escola vai pirar ao ver que eu encontrei com você. — Eu assenti com a cabeça e ela correu para buscar um papel.

Eu encarei as criancinhas em minha frente e percebi que Théo tinha um olhar cerrado, parecia ler a minha alma.

— Você e a tia Isa namoram? — Eu abaixei para ficar na altura dele. O menino cruzou os braços e me olhou de cima para baixo.

Bem intimidante.

— Namoramos sim. — Concordei, vendo que ele estreitou ainda mais os olhos.

— Que sortudo você! — Declarou, depois de bufar. — Tia Isa é tão legal! E é muito bonita também. — Ele parecia decepcionado com a ideia de eu a ter como namorada. Mesmo sendo uma namorada falsa, mas ele não sabia disso. — Se eu fosse maior, eu namoraria com ela.

— Você acha que pode ficar de olho na minha namorada assim, garotinho? — Dessa vez, eu que o intimidei, estreitando os meus olhos.

— Se você não ficar esperto, vou ficar grande logo e roubar ela de você! — Ele me desafiava com o olhar.

— Escuta bem. — Me aproximei dele, não entendendo o porque estava entrando no joguinho de uma criança. — Ela é minha namorada. E pelo o que eu estou vendo, por enquanto você é pequeno! Então se eu te pegar de olho nela, é melhor você sair correndo, beleza? — A expressão do menino mudou completamente assim que me ergui em sua frente, fazendo com que ele ficar tão pequeno quanto um grão de arroz.

Isabella surge no mesmo momento, nos encarando com uma expressão preocupada ao ver o olhar assustado do menino.

— O que aconteceu, Théo? — O menino fez uma cara de choro para ela e estendeu os braços, para que ela o abraçasse. Mas assim que ela o abraçou, ele me olhou com aqueles olhinhos desafiadores, como se dissesse "eu vou ganhar essa guerra".

Ah... Garotinho abusado!

— Eu estava apenas papeando com ele, não é Théo? — Estreitei os olhos, notando que ele concordou quase de imediato, com um certo medo.

Isabella o coloca no chão e Juliana se aproxima de nós, me estendendo uma caneta e uma folha de papel. Dei o autógrafo a ela, me despedindo de todo aquele povo.

— Por que Théo parecia traumatizado? O que disse a ele? — Ela me olhou com desconfiança.

— Nada importante. — Dei de ombros, percebendo ainda o seu olhar sobre mim.

— Foi um prazer recebê-los, voltem sempre. — Uma outra mulher de uniforme se despediu de nós com o porteiro ao seu lado.

— É... — Chamei a atenção deles. — Será que poderia me dar o contato do responsável pelo lugar? Gostaria de me comprometer a fazer doações a essa instituição todos os meses. — Percebi que eles ficaram tão felizes com a ideia, que pareciam querer até mesmo chorar. Isabella me encarava de um jeito diferente. Parecia me admirar naquele momento.

— Nossa! Isso é de grande ajuda! O nosso orfanato sobrevive bem com as doações, mas nunca é demais ter um doador! Sempre falta algo para as crianças! — A mulher dizia com uma certa empolgação. — Tome o telefone de contato do orfanato. Ao ligar para esse número, você entra em contato com os diretores do lugar! Muito obrigada pelo carinho com as nossas crianças!

— Eu que agradeço por me deixarem visitar! — Eu peguei o cartão de sua mão, abrindo um sorriso gentil. — Fazem um ótimo trabalho. As crianças devem adorar vocês e com toda certeza vocês deixam a vida delas um pouco mais leve. — Os dois sorriram em agradecimento.

Nos despedimos mais uma vez e eu estendi o capacete da moto para Bella, colocando o meu e a vendo me encarar com um sorriso pequeno nos lábios. Um sorriso tímido que tentava esconder.

— Por que está sorrindo? — Ela percebeu a sua ação e imediatamente escondeu o sorriso.

— As crianças me deixaram feliz. — Desviou o seu olhar e levou o capacete à cabeça, subindo na moto e agarrando os braços em volta da minha cintura. O calor do seu corpo me fez suspirar.

Eu liguei a moto e seguimos o caminho em silêncio.

Quando estávamos virando a rua do condomínio, notei uma barraca de sorvete em uma calçada. Me lembro que quando estávamos fazendo um de nossos jogos de perguntas, Isabella havia me dito que sorvete era uma das sua sobremesas favoritas. Então resolvi parar na barraca onde havia um parque atrás dela.

Isabella desceu da moto com uma expressão confusa e eu apenas sorri, colocando os capacetes pendurados na moto.

— Não quer sorvete? — Perguntei, andando em direção a barraca ao ver os seus olhos brilharem.

— Eu quero! — Ela correu em minha direção e andou ao meu lado, com seu sorriso no rosto.

Meu coração batia mais rápido ao olhar aquele sorriso e sentir a vontade de beija-lo.

— Um de chocolate e um de creme por favor. — Pedi a menina que estava atrás do balcão e ela sorriu ao me ver.

— Meu Deus! Thomas Castellani? — Levou a mão à boca e estendeu o celular. — Eu posso, por favor, tirar uma foto com você?! Sou muito sua fã e adoro o seu trabalho! Quase não acreditei quando a Mel Mel anunciou a sua chegada definitiva ao Brasil! — A menina saiu de dentro da barraca e correu para ficar ao meu lado. Ela estendeu o celular e eu abri um sorriso para a sua foto, passando o meu braço em volta de seu ombro. Ela sorriu ainda mais quando fiz aquilo.

— Muito obrigada pelo carinho. É muito gratificante para mim ver o quanto admiram meu trabalho. — Ela voltou para a barraca e enquanto preparava os sorvetes, fez diversas perguntas em que pela primeira vez na vida, eu respondi sem me sentir incomodado.

Isabella era a responsável. Ultimamente eu me sentia muito mais à vontade com as pessoas. Era mais fácil ser legal agora porque eu não queria mais ser visto daquela forma.

Incrível como eu não queria ser visto daquela forma porque tinha uma imagem a zelar. Agora, eu não queria ser visto daquela forma porque queria fazê-la me enxergar.

Estendi o sorvete para Isabella e percebi o seu olhar distante. Ela não me encarava nos olhos e quando perguntava algo, dizia frases curtas e sem muita empolgação.

O que há de errado?

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