Capítulo 3 - Samantha

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Tudo deu errado.

Toda a margem de erro que eu calculei atenciosamente para não ter problemas ou a porra de um erro, deu errado. Tudo foi por água abaixo e agora eu tinha neve escorrendo por minhas botas, minhas meias estavam encharcadas e uma das minhas malas foi extraviada.

Cansada, me arrastei junto da mala que me restou sobre a neve fofa e gelada na frente do chalé de Adam. Depois de mais de dez horas de viagem, tudo o que eu mais queria era um banho quente e a cama fofa e quentinha que eu sabia muito bem que me esperava atrás daquela porta. Só que aquilo poderia parecer impossível, com as coisas que eu ainda deveria verificar no chalé. Será que Adam havia pedido para alguém encher os armários e a geladeira? E as lenhas para colocar na lareira? Eu teria que colocar tudo sozinha...

— Ai, merda! — exclamei, refletindo sobre aquela pequena e assustadora realidade.

Como é que se cortava madeira para a lareira? Que eu me lembrava, Adam havia feito uma reforma no chalé há um ano e meio. Eu não voltava para o chalé há quase dois anos. Será que meu irmão finalmente tinha cedido as lareiras elétricas e deixado aquela coisa rústica para trás?

Suspirei, tirando a chave reserva que Adam havia me dado pouco antes de embarcar para a Coreia, e a inseri na fechadura. Aquele careta ainda se recusava a instalar uma fechadura elétrica. Até mesmo em seu apartamento em Nova York! Para Adam, o rústico era elegante, e ele não precisava de muita tecnologia. Onde estava a graça naquilo?

Um leve tremor percorreu meu corpo quando girei a chave e tentei abrir a porta. Franzi o cenho ao notar que, aparentemente, ela estava aberta, e a fechadura não estava trancada. Tirei a chave e puxei a maçaneta, que emitiu um click baixo ao abrir. Franzi o cenho. Aquilo não deveria estar aberto! O arrepio que soprou na minha nuca não era mais pelo frio. Se a porta estava aberta, era porque alguém estava ali. Engoli em seco, dando o primeiro passo para entrar.

Em um primeiro momento, tudo o que vi foi a luz suave das lâmpadas penduradas, que iluminava o interior aconchegante do chalé. A sala de estar, revestida com tons neutros e brancos, exalava uma elegância moderna. O crepitar reconfortante da lareira elétrica preenchia o ambiente, enquanto as grandes janelas de vidro revelavam a paisagem coberta de neve lá fora. A mobília de madeira sólida conferia um toque rústico, contrastando harmoniosamente com os elementos contemporâneos. Ao adentrar mais no chalé, meus olhos capturaram a familiaridade do ambiente, agora reformado, com os móveis mais modernos e limpos. Suspirei, completamente apaixonada pela reforma que Adam fizera. Mas rapidamente o encantamento inicial deu início à raiva quando meus olhos recaíram sobre a lareira elétrica ligada.

Aqueles filhos da minha mãe mentiram para mim!

Puxei a minha querida mala e a deixei próxima a porta. A neve, que agora derretia, escorria pelo chão por onde eu passava. Fechei a porta, evitando que o frio entrasse no chalé e tirei as botas que rangiam e estavam encharcadas. Passei pela cozinha, e tudo estava quieto, limpo e organizado. Deixei as minhas chaves sobre o balcão da ilha e segui rumo ao segundo andar.

Os degraus da escada de madeira rangiam sob os meus pés, mesclando-se com o crepitar delicioso e calmante da lareira lá embaixo. Segui pelo corredor, abrindo as portas do meu quarto, o de Adam, o quartinho onde guardam as decorações antigas e a árvore de natal de mentira e os enfeites do chalé.

Não encontrei nada.

Segui para o quarto de Otto.

Quando me aproximei, escutei o barulho de água correndo e o registro sendo fechado. Fechei meus olhos e contei até três, sentindo meu sangue ferver com a mentira do meu irmão. Ah, Otto! Sempre era ele o engraçadinho da casa e o primeiro a aprontar surpresas. Porque eu não pensei naquilo antes?

Otto, por mais que brigássemos, nunca me deixaria passar o natal sozinha. E nem eu deixaria que ele passasse o natal sozinho.

Senti meu peito se aquecer e uma pontada de carinho fez meu coração acelerar, fiquei grata pelo carinho do meu irmão.

Sorri, e girando a maçaneta, entrei em seu quarto, sabendo que naquela passagem de minutos, ele já estaria vestido ao menos com um roupão.

— Eu deveria te estrangular por mentir para mim, Otto! — Entrei, gritando para que ele ouvisse a minha chegada. — Ao menos poderia ter me pego em casa para vir com você, né? Não tem ideia do que eu...

As palavras morreram a caminho da minha boca e meu cérebro, que começava a se aquecer após a caminhada na neve, congelou novamente quando, da porta do banheiro, não foi meu irmão que saiu vestindo um roupão.

Não foi meu querido e idiota irmão.

Não foi nem mesmo Hyeon com a desculpa que a merda do banheiro de Adam não estava funcionando. Ou os dois juntos.

Porra, não!

Não foi.

Eu estava fodida.

— Perdeu alguma coisa, Lee? — ele perguntou, secando os cabelos com uma toalha branca.

Meus olhos percorreram a gota que escorreu de seu queixo quadrado, e deslizou até seu peito nu coberto por gotículas de água. Sem querer, ou talvez querendo, ou talvez eu só estivesse com o cérebro congelado de vez, meu olhar percorreu seu abdômen trabalhado até parar na toalha branca que pendia de seu quadril. Engoli em seco, minha boca se entreabriu e um suspiro escapou por entre eles sem que eu tivesse controle. Quando me dei conta de quem eu estava encarando e a razão pela qual eu estava olhando para ele aqueceu o meu cérebro e o fez derreter, me trazendo a sobriedade que precisava para chutar a porta completamente e apontar o dedo para o idiota que me encarava com aquela maldita sobrancelha erguida e os olhos escuros que brilhavam com o tédio ao me ver.

— O que caralho você está fazendo aqui, Logan?

Presa Com Um CEO no Natal - Irmãos Lee #2Where stories live. Discover now