CAPÍTULO CATORZE

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"memórias consomem
Como se abrissem a ferida".
- Breaking the habit, Linkin Park. -

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Alina levou a mão até as costas, sem ar, mesmo sabendo que não encontraria nada ali. Não havia levado uma facada, não de verdade, mas a sensação que tinha era exatamente essa.
Ao se deparar envolvida por aquele frio intenso, sob a lua realista demais ilustrada no teto e a estátua de quase 3 m diante dela, era impossível não lembrar do pai.

Na maior parte do tempo ela ansiava por aquilo, apesar de já ter aceitado a morte do pai há anos, sempre que um vislumbre de uma lembrança pairava em sua memória Alina se agarrava a aquele frágil pedaço de sua vida que não voltaria a fazer parte dela. Porém, naquele momento, as memórias que aquela capela trazia bateram nela como uma onda, desequilibrando-a e fazendo a dor que sentia ser tão segante que Alina quase se partiu ao meio.

- Você está bem? - uma mão segurou seu ombro com firmeza, como se soubesse que Alina estivera prestes a se quebrar em dois.

- Estou... - Alina tentou responder, mas sua voz saiu como menos de um sussurro, e ela fechou os olhos em uma tentativa de controlar a enxurrada de memórias que há pegaram desprevenida.

- Não parece. - o garoto murmurou e tirou a mão do ombro de Alina com relutância, o olhar antes irônico e divertido sobre ela agora era apreensivo e tenso.

- Eu estou bem. - ela afirmou novamente, porém seu tom indicava que aquelas palavras eram mais para si mesma do que para o garoto.

Ela respirou fundo, inspirando o aroma de chuva, sal e sempre tinha aquilo que Alina nunca conseguia identificar. Tomou coragem para abrir os olhos de novo e deixou-os engolir cada centímetro daquele templo como se ela nunca tivesse estado ali, como se as lembranças dos seus melhores dias não tivessem sido naquele salão de pedra sombrio, hipnotizante e questionável.

Além da lua cheia acima dela, haviam outras pinturas da Lua em diferentes fases e cores espalhadas pelo teto, iluminando o espaço com um brilho fantasmagórico que lançava sombras dançantes nas paredes de pedra, estas cobertas com desenhos escuros de bocas arreganhadas com dentes à mostra e pares de olhos que davam a impressão de observar quem passasse por perto.  Junto com os desenhos que sombreavam as paredes tinham os quadros posicionados em ordem cronológica, pinturas narrando a história do nascido da Lua, que foi sentenciado pela lua ao não saber lidar com uma benção após o luto.
No meio do salão, logo à frente das fileiras de bancos de pedra também cobertos pelos desenhos das paredes ficava a representação do mito, o corpo de três metros totalmente prateado e completamente nu, de aparência selvagem com cachos negros desgrenhados sobre o rosto, a boca escancarada com presas afiadas para fora dos lábios e os olhos de um azul sobrenatural virados para cima, onde a lua cheia permanecia indiferente.

Aquela era a lenda favorita do pai de Alina, ele costumava dizer que aquela história falava sobre fazer boas escolhas independente da situação, nunca perder a cabeça e sempre pensar com cautela antes de agir. Era isso o que ela vinha fazendo desde que Jason se fora, por mais que nunca tivesse entendido por inteiro o porquê das pessoas encararem aquela lenda como um exemplo para tomar boas decisões. Alina encarava aquela história como nada além de um conto sobre alguém que perdera tudo, pedira a coisa errada na hora errada e no fim fora punido por tomar uma única decisão equivocada.

No entanto ali estava ela, no meio do santuário desse mito com o seu símbolo no pescoço e reagindo como se ainda se importasse com aquelas lendas, Como se ainda  acreditasse nelas.

A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora