CAPÍTULO VINTE E DOIS

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"Não posso acreditar nas notícias de hoje
oh, não posso fechar os olhos e fazê-las desaparecer
por quanto tempo, por quanto tempo teremos que cantar esta canção?
por quanto tempo? por quanto tempo?"
- Sunday blood sunday, u2. -

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Alina se inclinou sobre o tablet, os olhos concentrados na notícia em negrito na tela e a maçã esquecida pela metade na mão. Ela demorou um minuto para assimilar as informações e logo em seguida pulou de cima da mesa, jogando a fruta na pia e se apressando até o quarto.

Ela se vestiu e se ajeitou o máximo que pôde, tendo em vista que ficara o resto da noite passada andando de um lado para o outro até que o sol nascesse, E então esperou com o tablet sobre o colo, roendo as unhas no aguardo de uma notificação da casa Fox, que só apareceu uma hora depois.

Alina arrumou o café da manhã para a mãe e sua mesa de cabeceira antes de sair, mesmo presumindo que Thalia não comeria nem um terço daquilo, a culpa por ter explodido com ela era pesada demais para Alina sair de casa sem deixar ao menos um bilhete avisando sua partida.

Ela estava ciente de que sua mãe nem sequer ouvira suas palavras mesquinhas, Mas de qualquer forma Alina se sentia mal em pensar no que dissera, quão insensível ela fora com a situação da mãe.

Após a morte de seu pai, elas sobreviveram durante dois anos com as economias deixadas por Jason e o dinheiro que a família governante os deram como recompensa, e em todo aquele tempo foi como se Alina assistisse a mãe recuar para longe dela e de Olivi cada vez mais, presa a morte de Jason até que a situação fosse tão preocupante que Talia precisou de tratamento médico, tratamento esse que vinha arrancando o dinheiro delas desde então e que fazia com que Thalia dormisse a maior parte do dia.

Fazia anos que ela não tinha uma conversa de verdade com a mãe, tanto tempo que às vezes custava a se recordar da voz dela. Contudo ela tinha memórias demais com a mãe para se esquecer completamente, diferente de Olivi, que mal se lembrava de ter tido uma mãe que não dependesse de remédios, que não andasse pela casa como um fantasma instável.

Alina trancou a porta e enfiou a chave embaixo do degrau da varanda antes de adentrar a rua, o vento congelante corando suas bochechas e balançando a trança cuidadosa que caía em suas costas, nem um fio ruivo escapando daquela vez. Não era só ela que saía de casa. As  pessoas saíam de todos os lados com um ar inquieto de quem não havia pregado os olhos naquela noite.
Todos estavam cuidadosamente vestidos como Alina, o mais apresentáveis que conseguiam aparentar com suas camadas de roupa Extra, jaquetas de couro gastas e botas até o joelhos.

Seguiam na mesma direção assim como na noite anterior, e aquilo mergulhou Alina em um dejavú que revirou  seu estômago parcialmente vazio.

Ela enfiou as mãos nos bolsos da calça grossa e uma delas segurou o vidro frio da tela do celular, obviamente o celular que não era o descartável, o que não era entregue a todos os habitantes, o que não a condenaria a cadeia para o resto da vida para variar.  Só o fato de ter mais de um aparelho eletrônico do que a lei permitia já era um risco grande demais, carregá-lo então, onde um oficial poderia pará-la para lhe revistar era praticamente suicídio.

Ela avistou os oficiais em guarda nos portões da casa Fox alguns metros antes de pisar na grama bem cortada e imediatamente direcionou os olhos para o chão, não esboçando nenhuma reação quando os homens apararam na entrada e a levaram até duas soldadas mulheres, que a inspecionaram e a liberaram para entrar quando se convenceram de que Alina não era um perigo.

A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)Место, где живут истории. Откройте их для себя