(Vol. X) Ano XIII p.e. ⎥ Empíreo.

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POR ALGUM MOTIVO, EU SEMPRE ME lembrava daquela igreja quando encarava o espelho

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POR ALGUM MOTIVO, EU SEMPRE ME lembrava daquela igreja quando encarava o espelho.

Lembro de ter um corte de vinte centímetros infeccionando acima do meu peito. Lembro da dor, do medo insistente, da carne apodrecendo e de me conformar com o que estava por vir. Alguma coisa me dizia que eu estava morrendo devagar e eu estava aceitando o meu destino.

Naquela época eu sabia que nós estávamos praticamente sem esperanças – além da viagem às cegas até Washington por culpa da mentira de Eugene – e mesmo assim, o meu peito não parecia doer tanto quanto estava doendo agora. Mesmo sobrando apenas uma cicatriz enorme no lugar.

Todas às vezes em que eu encarava um espelho, vendo todas as cicatrizes na pele que pareciam esconder tão bem as feridas emocionais, eu sentia aquela mesma dor rasgando por dentro. Não era físico como há anos atrás, era o maldito buraco da melancolia se tornando cada vez maior. Parecia tornar os meus olhos mais escuros e o meu semblante mais exausto.

Apesar de me sentir muito mais à vontade em minha própria pele depois de toda a conversa com Daryl naquele colégio abandonado (e por estar profundamente feliz por estarmos em casa de novo) era fácil me sentir estranha. Como se houvesse algo fora do lugar em alguma parte do cenário e eu simplesmente não conseguisse discernir o que seria; ou como se eu estivesse sendo enganada por meu próprio senso racional, me tornando cega para coisas na frente do meu nariz.

Agora, eu não conseguia esquecer a armadilha que Devyn havia feito com tanto orgulho junto com o pai. Nós já havíamos despachado os mais jovens para a escola e aquele fato ainda estava machucando a minha mente. Mesmo enquanto eu e Michonne nos ajudávamos na organização da cozinha, conversando até nos despedirmos e então decidindo descansar...

Aquela espiral ainda estava girando em minha mente como um pensamento obsessivo.

Os fatos esfregavam os meus erros contra o meu rosto de maneira impiedosa.

Eu estava aqui o tempo todo e ainda assim foi como se eu tivesse sumido por anos.

Durante muito tempo me senti como uma mariposa perseguindo um foco de luz que me atraía apenas para me matar. Acho que poderíamos chamar isso de se viciar na tristeza.

Agora, depois de me livrar das amarras que me subjugavam como uma escrava, eu estava livre para mudar a minha rota e voltar para o meu próprio eixo. Era o que eu estava tentando.

Amarrei todo o meu cabelo fortemente com um elástico preto e desviei os meus olhos do meu próprio rosto refletido no espelho do banheiro.

Mantive o meu olhar baixo e escovei os dentes ainda sendo perseguida pelos pensamentos arrependidos. Me sentindo presa dentro do frio em meu estômago quando voltei para o quarto aonde dormíamos.

Tudo parecia iluminado e brilhante por culpa daquelas janelas enormes que ficavam abaixo do nível da rua. Isso me despertou a vontade de me aproximar das mesmas e observar apenas os tijolos cinza dos alicerces que ficavam há alguns passos de distância dos vidros, para então puxar a cordinha fina com uma das mãos, fazendo com que as persianas abaixassem de uma vez.

STING ● [𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐈𝐕] ● daryl dixon⼁The Walking Dead ●Where stories live. Discover now