Ƭ𝚛𝚒𝚋𝚘 𝚍𝚘𝚜 𝙰𝚗𝚓𝚘𝚜 𝙲𝚊𝚒𝚍𝚘𝚜

0.6

▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓█ Acesso permitido █

╰────944 palavras

A gata aguarda Rodd com uma mão na cintura.

⎯⎯  Já é o suficiente pra você começar a pensar em construir eles fortes? ⎯⎯  diz.

Devem ser amigos, pondera Cha, de seu arbusto. Pergunta-se onde está a feia da Tessália.

⎯⎯  Eles eram fortes. ⎯⎯  Rodd segura a cintura da gata e ela passa os braços em volta do pescoço dele. ⎯⎯  Você que é um monstro.

⎯⎯  Você tem medo de mim? ⎯⎯  A gata olha interessada para a boca dele.

⎯⎯  Hum... deixa eu ver se preciso.

O aperto no coração de Cha aumenta mais que o dobro quando os lábios deles se tocam. Então aquela é a Tessália.

Levanta-se para ir embora, mas dá de cara com uma parede negra que não estava ali há segundos atrás. É um gato de terno e pelos escuros como a noite, duas vezes mais largo do que a lutadora, e duas vezes mais enfurecido. A garota suspira. Então aquele é o humilhante fim de sua missão.

⎯⎯  Quê isso? O que tá acontecendo? ⎯⎯  As orelhas de Tessália fazem um "V" quando o chefe dos seguranças joga a lutadora na frente dela sem cerimônia, contando o que havia acontecido.

⎯⎯  Cha? ⎯⎯  Rodd toma a dianteira e se aproxima.

⎯⎯  Err... e aí? ⎯⎯ Não suporta a incredulidade naqueles olhos azuis. ⎯⎯  Como cê tá?

⎯⎯  Rodd, você conhece essa mendiga? ⎯⎯  indaga Tessália.

Acontece que Cha só dava permissão a si mesma para chamá-lo de Rodd. Não consegue deixar barato e perde as estribeiras:

⎯⎯  Quem você tá chamando de mendiga, princesa leite estragado?

⎯⎯  Do que você me chamou, fosfurta!

⎯⎯  Foselaucuno³!

⎯⎯  Opaa! ⎯⎯  Rodd se mete entre as duas antes que haja outro conflito armado internacional entre híbridos e humanos. ⎯⎯  Tess, essa é a minha amiga: Cha. Ela é uma lutadora.

Cha alterna entre o desgosto da palavra "amiga" e o prazer de ver a hesitação no rosto da gata. Lutadores não raramente são temidos por conta de sua força ou de sua insanidade. Às vezes ambos.

⎯⎯  Cha. ⎯⎯  Rodd ainda é bons dez centímetros mais alto do que ela. ⎯⎯  O que tá fazendo aqui?

Ela fita a cicatriz que havia deixado na sobrancelha dele há muito tempo atrás, e quase esquece que uma pergunta foi feita. Responde:

⎯⎯  Eu preciso da sua ajuda, Rodd.

A moto é pequena demais para o cão. Toda vez que fazia uma curva ou subia uma lombada, sentiam que estavam para cair. Mas Rodd se segurou com firmeza no único lugar disponível: a cintura de Cha.

⎯⎯  Então ⎯⎯  Quebra o silêncio. ⎯⎯  Quem é esse garoto?

⎯⎯  Na verdade, ele não é um garoto. Eu achei que fosse, mas aí ele foi atingido por um osso de galinha e descobri que é um androide. ⎯⎯  responde a lutadora, com a menor noção possível de métodos de contação de histórias. ⎯⎯  Cala a boca, Narrador!

⎯⎯  Quê?

⎯⎯  Nada, Rodd.

⎯⎯  Hum... Osso de galinha, né? Parece... tenso.

⎯⎯  Ela parece legal. ⎯⎯  Eles passam por uma parede holográfica que cerca uma área de obras. Projeta a imagem de um cartaz, que diz "Obra interditada por falta de mão de obra".

⎯⎯  Para de mentir, Cha. Você não acha isso. ⎯⎯  Rodd tem de se abaixar para não dar com a testa na placa de "Rodovia à frente", o que quase faz a garota rir. ⎯⎯  Ela queria te matar.

⎯⎯  Pois é, não foi uma boa primeira impressão. Ela quer ser lutadora?

⎯⎯  O quê? Não. Ela acabou de descobrir que é uma herdeira, só quer aprender a usar melhor os poderes. Eu não...

⎯⎯  Não namoraria uma lutadora.

O semáforo vermelho faz a piloto mudar de rota. Às vezes o sincericídio dos canis se torna insuportável.

⎯⎯  Então... é melhor namorar uma gata da máfia do Quinto? ⎯⎯  Passam por uma faixa de pedestres holográfica com a propaganda da próxima grande luta que acontecerá em Ahead, daqui duas semanas.

⎯⎯  Ela não é... só isso. ⎯⎯  O tom de Rodd diz que ele está cansado da conversa. ⎯⎯  Você não tá vendo o todo.

⎯⎯  Parece que não, mesmo.

Em silêncio, chegam ao planetário. Q espera na mesma posição, imóvel. Cha dá alguns tapinhas em seu rosto até seus olhos voltarem a brilhar, então apresenta-o ao mecânico.

⎯⎯  Oi, carinha. Isso aí tá bem feio. ⎯⎯  Rodd ajoelha-se em frente ao sofá. ⎯⎯  Cadê seu dono?

⎯⎯  Tô- Tô- Tô- Tô- Tô de férias do meu dono, bro. ⎯⎯  Q parece pior do que antes. Também sente-se assim.

⎯⎯  Férias? Robôs podem tirar férias?

⎯⎯  Direito dos trabalhadores. Por isso, eu resolvi tirar as minhas. Te- te- te- tenho carga horária.

⎯⎯  Entendi. Então eu vou garantir que essas férias durem mais, ok? Mas vou precisar da sua ajuda. Começa me dizendo suas especificações de hardware.

A noite cai lentamente enquanto Rodd trabalha em Q, e, quando termina, uma única linha laranja resta no horizonte. Porém, mesmo essa é engolida por uma nuvem de tempestade vinda das Colinas de Metal. As luzes das estrelas disputam lugar com as da cidade, e os aeromóveis tornam-se peixes bioluminescentes no fundo do mar, do ponto de vista de um terraço em Dedos. Pensei nessa frase enquanto Cha olhava para o entardecer.

⎯⎯  Ele vai ficar bem. ⎯⎯  Rodd aproxima-se do parapeito.

⎯⎯  Cê fala como se ele não tivesse sido atendido pelo melhor mecânico de Dedos. ⎯⎯  Ela vira e olha para seu pequeno e enferrujado apartamento em forma de globo de neve.

Rodd de repente pergunta se ela não quer que ele mexa uns pauzinhos para arranjar um lugar melhor.

⎯⎯  Talvez, quem sabe ⎯⎯  Suas orelhas caem, tímidas, quando ele olha de canto de olho para a garota. ⎯⎯ , um lugar mais perto de mim.

³Foselaucuno= gíria gerada a partir da contração de "Fosfeto-Seleneto de Ouro, Urânio, Cobre e Nobélio", resultado puramente hipotético da mistura de Fósforo, Ouro, Nobélio, Selênio, Urânio e Cobre, ou seja, PAuNoSeUCu.

Prévia do capítulo 0.7

O androide para e olha para a lutadora com uma expressão de "que papo é esse, Cha Hi?". Mas palmas à porta soam antes que possa responder. Cha xinga mentalmente o retardado que foi incomodá-la de baixo de chuva tóxica às onze da noite e vai atender.