10. Somethin' Strange

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- "Se essa rua, se essa rua fosse minha. Eu deixava, eu deixava ladrilhar... Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes para o meu, para o meu amor passar" - A mulher de cabelos escuros com mechas grisalhas acariciou a cabeça de seu filho que se escolhia na cama grande, suando frio. - Esta mais calmo, meu príncipe?

- Quando você canta eu consigo me acalmar... Obrigado mamãe.

- De nada, Ed. Seus pesadelos estão mais frequentes, não é mesmo? Mas o que a mamãe disse?

- Não deixar ninguém saber...

- Exato, é o nosso segredinho. Seu pai não vai reagir de maneira positiva quando saber dos seus sonhos.

- Não são sonhos, mamãe. São reais! Eles são! Eu sei que são! - O garoto sussurrava mas fazendo birra, estava cansado de ser tachado como louco, e se surpreendeu quando foi abraçado pela mãe.

- Eu sei que são reais, pequeno... Sei muito bem, mas o seu pai não entende, pessoas normais nunca vão entender. Por isso temos que esconder, assim como sua vó escondeu, eu escondi, você também tem esconder. Sonhos que te mostram o futuro não são reais.

- Eu não quero mais ver as pessoas morrendo, mamãe...

- Eu sei filho, mas vai passar... A mamãe tá aqui. Eu te amo, meu príncipe.

- Eu também te amo, mamãe.

1985

– Ei, topetinho. O que foi que tá todo borocoxô? – Robin cutucou Steve que estava disperso desde que chegou na sorveteria. A fala da garota pareceu acorda-lo de seu transe, sua postura mudando enquanto passava a mão pelo cabelo com força suspirando alto.

– Eu tô bem, obrigado por se preocupar. – Forçou um sorriso.

– Não devia tentar me enganar, o Eddie diz que mudou mas tenho certeza que a mania dele de esconder o que sente não é recente. Eu sei quando mentem para mim, mas não vou te forçar a nada, cara. – A garota deu de ombros, apoiando o corpo preguiçosamente sobre o balcão encarando algumas clientes soltando um suspiro longo. Steve não deixou de se sentir aliviado pela colega respeitar seus sentimentos e espaço pessoal.

– Obrigado, de novo... – Se esgueirou ao lado dela, tentando entender para onde ela estava olhando – Quer que eu chegue naquele cara pra você? Acho que ele te olhou de volta?

– Cara?! - Robin arregalou os olhos mas logo forçou uma tosse para disfarçar – Não. Não precisa, cara, obrigada... Eu prefiro só observar... os... caras... Ah- Cliente novo!

– Tá né... Bem vindos a Scoops Ahoy- Eddie? – Agora era vez de Steve de se surpreender, tentando desviar o olhar para esconder aquele emaranhado de emoções, sua colega se segurava para não rir do jeito açucarado que o nome do garoto saiu de seus lábios

– "Eddie"~ – Robin imitou baixo colocando a mão na boca para esconder a risada sarcástica – Deixa que eu atendo eles.

– Vai lá. – O homem deu espaço para a garota retornar ao balcão, o ambiente ao seu redor parecendo mais harmonioso e alegre por estar falando com seu melhor amigo.

Steve se questionou se um dia ele se sentiria assim, leve, confiante, confortável... Robin não ligava se receberia broncas por deixar Eddie provar mais que 3 sabores de sorvete se isso faria o amigo ficar feliz, ela tinha a quem se apoiar então pouco importa os desafios que passaria. Steve queria sentir-se assim novamente, não que fosse solitário, pelo contrário, mas quando se é rodeado de pessoas mais novas servindo como exemplo, a pressão em não falhar é grande e exaustiva.

Quando foi que ele passou a ser tão sozinho? Sempre teve tudo o que queria, todos que queria. Então por que esse vazio? Talvez agora entenda porque Nancy terminou... Ou porque Eddie e Sam se afastaram... Ele era um mesquinho soberbo, tentando fazer tudo para apagar as merdas que fez no passado... Para compensar as merdas que fez...

Memento Mori | steddieWhere stories live. Discover now