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Notas da autora: eu tenho um plano para essa história? Não. Provavelmente vai sair uma porcaria? Vai, mas é bom que assim eu aprendo com os meus erros.

•••

— [nome]? — ouço alguém me chamar, mas o meu estado não me permite direcionar a minha atenção para outra coisa, a não ser o trabalho. — ou mulher! Pretende ficar até quando nessa? — o tom alto vindo daquela pessoa me trouxe de volta a realidade. Estava sendo chacoalhada feito uma boneca de pano nas mãos de uma criança.

— Eu te conheço? — questionei confusa assim que coloquei meus olhos numa figura feminina.

— Claro que me conhece, sou eu — a vi tentando gesticular alguma coisa na tentativa de me ajudar. — Misericórdia, aquele cara realmente sugou todas as suas energias.

Essa desconhecida estava começando a me irritar falando dessa forma, como se fosse uma velha conhecida.

— Eu ainda não me recordo da sua pessoa, poderia refrescar a minha memória? — ergui uma de minhas sobrancelhas.

Continuava sem saber de quem se tratava, mas tinha a sensação de que já tinha visto aquele rosto em algum lugar.

— Vou te dar duas dicas, ou melhor, duas palavras. Será o suficiente para ajudá-la — sinalizou a contagem das palavras com os dedos e a cada palavra, um dedo era abaixado. — ressaca e galinhas.

Ressaca e galinhas? Que tipo de combinação de palavras seria essa que me ajudaria... Essa não.

— Ling? — arregalei meus olhos incrédula.

O baque foi grande quando meu cérebro associou as informações. Aquela mulher de aparência angelical, era a minha dupla nos tempos da faculdade no exterior. Havia mudanças, é claro, o tempo foi generoso com aquela menina tímida, transformando ela em uma beleza digna de capa de revista.

— Na mosca! — respondeu animada.

— O que cê tá fazendo aqui? — questionei, por nervosismo acabei usando português ao invés do japonês, enquanto olhava para os lados, esperando que ninguém tivesse nos visto juntas.

Virar o centro das atenções no trabalho agora não estava incluído nos meus planos e isso com certeza acabaria acontecendo se Ling continuasse do meu lado, conversando e gesticulando como se fossemos íntimas.

— não está óbvio? Estou trabalhando — agarrou o crachá que estava escondido no meio daqueles dois melões que ela tinha no lugar dos seios.

— Ling, isso aqui é um escritório de contabilidade. E pelo que me lembro, você foi a pior da nossa turma na faculdade.

— Assim você me ofende, querida Number one.

Como se a minha vida já não estivesse boa o suficiente, alguém lá em cima decidiu que seria uma ótima ideia acrescentar um personagem emblemático nessa montanha-russa de emoções que chamo de vida. Devemos voltar aos meus melhores anos para entender melhor sobre o que se trata esse apelido humilhante que me foi concedido pela professora do meu curso.

Estávamos eu e Ling, a garota com quem eu costumava fazer os trabalhos, sentadas conversando sobre um teste que havia sido aplicado recentemente. Ling era alvo de comentários infelizes por ser a única asiática em nossa turma e constantemente ouvíamos coisas como: "a xingiling vai tirar a melhor nota", "não teremos a menor chance contra essa chinesa", entre outras coisas. Eu também não escapava de alguns comentários desses, entretanto os que eram direcionados a minha pessoa, sempre estavam ligados ao cunho sexual. Pode-se dizer que não conseguimos passar despercebidas a onde quer que fossemos.

A sombra de um YakuzaWhere stories live. Discover now