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[nome]

Me senti culpada pelo acontecimento de ontem, o pobre do Jun não conseguiu descansar direito preocupado com a minha segurança. Ele permaneceu quieto em seu apartamento, tentando não levantar minhas suspeitas, mas ele aparentemente esqueceu que as paredes que separam os nossos apartamentos são finas e que consigo ouvir seus passos, já que assim que me sentei para comer pude ouvi-lo da cozinha se certificado com seus amigos policiais por telefone de que não havia mais ninguém a um raio de 10 quilômetros do nosso prédio que pudesse vir a ser outro incômodo para mim.

No dia seguinte, quando estava chegando para o trabalho, depois de uma bela sessão de treinos na Shinshinkai, fui interceptada por ele na frente do nosso prédio. Eu não soube onde enfiar minha cara quando vi seu semblante de preocupação, era como se um grande panda estivesse na minha frente. Estava toda encharcada por causa do temporal, correndo com a minha bolsa sob a cabeça quando colidi com suas costas.

Como se só isso não fosse o suficiente, ainda consegui fazer a proeza de esquecer a minha bolsa principal, com as chaves, meu celular e os meus documentos no Dojo Shinshinkai.

Eu já estava a ponto de começar a surtar pela segunda vez naquele dia, já que na primeira tive a oportunidade, enviada pelos próprios Deuses das artes marciais, de receber um aperto de mão do próprio Doppo Orochi. Jamais me esquecerei desse dia, fiquei naquele dojo dura feito uma estátua de admiração assistindo suas demonstrações, cada movimento que tive a honra de presenciar o mestre Orochi executar era um surto interno que eu tinha que conter. Provavelmente tenha sido pela eufórica do momento que eu saí com apenas uma das bolsas que costumo carregar, resultando nessa situação. Felizmente, Jun apareceu para minha salvação.

— Provavelmente não vai haver ninguém no Dojo há uma hora dessas, mas talvez meu amigo possa te ajudar — ouvi Jun dizer num tom tranquilo, tentando amenizar o nervosismo instaurado dentro de mim.

— Como Jun? — olhei esperançosa para ele. O vi tirar o celular de dentro do bolso de seu casaco e começar a digitar.

— Vamos entrar, você vai acabar adoecendo dessa forma.

E outra vez, Jun desviou do assunto para focar em mim. Não vou mentir, fiquei intrigada com toda essa comoção por parte dele, ainda mais quando parei para analisar que nós não temos tanta intimidade assim, em alguns momentos até parece que ele foi enviado por alguém para me ajudar, só pode.

— Não repare na bagunça — Jun disse baixo, assim que destrancou a porta principal de seu apartamento — Irei procurar uma toalha e alguma coisa para você usar.

Jun me deixou sozinha na sala e adentrou no seu quarto. Seu apartamento é idêntico ao meu, tinha poucos móveis, mas era limpo e organizado, o que me fez sentir um pouquinho de inveja e vergonha.

— Obrigada — foi a única coisa que eu consegui responder. Por algum motivo não conseguia evitar ficar envergonhada com essa situação.

Eu deveria voltar para o Dojo e torcer para haver alguém lá, ou talvez ir atrás de um chaveiro, infelizmente as minhas opções eram limitadas pelo fato de eu ter deixado quase tudo na outra bolsa. Se eu chamasse um chaveiro, provavelmente ele iria acabar chamando a polícia para me denunciar por tentativa de invasão de domicílio - isso já me ocorreu outras vezes, mas não vem ao caso no momento - ou pior, se eu acabasse me arriscando para enfrentar a tempestade que está caindo lá fora, no final de todo meu esforço acabaria dando de cara com o Dojo fechado e de quebra ainda acabaria adquirido uma gripe forte de brinde.

Minha primeira opção seria a senhora do 302, mas Jun apareceu antes. Se não fosse por ele, eu provavelmente estaria caminhando vagarosamente pela residência da senhora, lidando com as vozes da minha cabeça me dizendo que aquela velha provavelmente estivesse prestes a me esfolar e me daria de janta para os 6 gatos que ela tem.

Ah [nome], mas você não conseguiria dar conta daquela velha sozinha? A resposta é: não, ela me assusta pra caralho! Eu prefiro morrer a ter que pedir abrigo para aquela senhora.

Não que eu esteja tirando conclusões precipitadas ao escolher ficar na casa do Jun - que realmente pode me mandar de arrasta para cima com um soco - ao invés de ir pedir ajuda para aquela frágil senhorinha e etc. A questão é que eu me sinto estranhamente confortável com a presença do Jun, é estranho, eu sei. O homem tem o dobro do meu tamanho, o triplo da minha força e mesmo assim ainda prefiro ficar na casa dele.

Balançando a cabeça para os lados num movimento frenético para tentar afastar esses pensamentos, acabei cambaleando um pouco e fiquei tonta por ter negligenciado o meu almoço. Mas assim que ouvi os passos de Jun voltando para a sala me recompus numa velocidade recorde, ele apareceu segurando uma toalha na mão esquerda e o que parecia ser um camisa cinza na mão direita.

— Está se sentindo bem? — perguntou, aparentemente analisando cada detalhe do meu rosto. Eu apenas concordei com um aceno simples de cabeça.— Bom, ali é o banheiro — Apontou para uma porta branca — Acho que os apartamentos deve ser idênticos em questão de cômodos, então você já deve ter uma noção — Jun pretendia continuar me dando mais instruções, mas seu celular começou a tocar. Ele sorriu minimamente quando viu o nome da pessoa na tela, depois desviou rapidamente o olhar para mim e saiu para atender.

Admito estava curiosa para saber quem seria essa pessoa que estava ligando para ele, deveria ser uma pessoa importante já que Jun ficou visivelmente nervoso quando me olhou daquela forma, era como se estivesse pedindo ajuda. Bem, enquanto ele estava tendo sua conversa no telefone, aproveitei para ir tomar banho, agarrei a bolsa que trouxe para casa por engano e fui tomar banho.

Eu sou do tipo de pessoa que carrega literalmente de tudo por precaução e como essa bolsa estava separada especificamente para as minhas atividades físicas, é conveniente que eu tenha colocado todos os meu produtos de higiene em recipientes menores, para facilitar depois dos treinos. Assim que tranquei a porta do banheiro coloquei a bolsa sobre a pia e me vi analisando outra vez cada detalhe do recinto e como esperado, mais uma vez Jun me supera na organização. O banheiro era praticamente a mesma coisa do meu apartamento, a única diferença era que o dele tinha o piso e as paredes modificadas para tons escuros.

— [nome], pare de ser tão curiosa — me auto adiveti mentalmente, afastando o sentimento de inveja para as minhas reais intenções e necessidades naquele lugar.

Comecei a desfazer a minha organização dentro da bolsa. Do bolsa maior retirei meu sabonete líquido, shampoo, condicionador, creme de pentear e o meu hidratante corporal. Já do bolso mais escondido, retirei uma calcinha extra e um absorvente, que não foi afetado pela chuva, graças ao tecido impermeabilizante da bolsa.

Precisei ser mais rápida do que costumo fazer no meu banheiro, já que não estava na minha casa. Meu tempo limite, que eu mesma acabei determinado dentro do banheiro de Jun foram 10 minutos.

A sombra de um YakuzaOnde histórias criam vida. Descubra agora