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📍São Paulo, Barra Funda. 09:24am

Ana Júlia 🌞

— Rodrigo Nestor você lembra o que eu te falei na última semana, depois dos exames?
—falei tentando manter a calma enquanto ele me olhava com cara de sínico —

— na verdade não — respirei bem fundo me segurando —

—ou você segue o que eu te falei ou eu perco meu réu primário. Estamos conversados? —ele riu e assentiu batendo na minha mão — Se eu descobrir que você tá em festinha fazendo graça eu não respondo como profissional.

— seu lado torcedora me dá medo, sabia?
—levantou da maca —

— pois não faça merda que ele some rapidinho —dei um pescotapa no mesmo que saiu cantando e dançando —

Ali era só o começo de mais um dia no ct.

Antes de mais nada, prazer, Ana Júlia. Uma jovem recém formada que por sorte foi contratada por um clube grande. O São Paulo futebol clube.

Sou torcedora desde que me entendo por gente, e sempre que assistia aos jogos quando criança reparava nessa parte da equipe médica.

E acho que toda criança um dia sonhou em ser médica né? Ou professora e tantas outras profissões estranhas.

Eu por exemplo já quis ser caminhoneira e caixa de supermercado.

Na minha cabeça era possível ser rica assim.

A ideia de ser médica foi sumindo quando fui crescendo, só em pensar na faculdade de medicina me dava arrepios. Mas ainda sim a área da saúde me atraía, e muito.

Como qualquer adolescente no segundo pro terceiro ano do ensino médio fica aquelas dúvidas: O que fazer quando terminar aqui? Caixa de supermercado ou repositor? Abrir um onlyfans e trabalhar na augusta as sextas à noite,talvez.

Era assim que pensava. Me sentia o ser humano mais burro do mundo e na minha cabeça era impossível ser alguém na vida.

E cá entre nós! Iriam derrubar meu onlyfans, eu ia ser apelidada de puta cansada na augusta e ainda perder o emprego de caixa de supermercado.

E graças a escoliose do meu primo eu descobri a fisioterapia.
Graças a Deus, porque se não hoje eu estaria cuidando do marketing de uma padaria de esquina no centro de São Paulo ganhando um salário mínimo, ou até menos.

Pesquisei horrores e pensei: ou eu saio de casa, ou eu pago faculdade...

ou eu enfrento o vestibular.

O mais temido vestibular.

Fui com a cara e a coragem e um curso pré vestibular mixuruca que paguei com meu salário de jovem aprendiz, na época era 700 e pouco.

E consegui vaga na federal. Nem minha família acreditou, acharam que era brincadeira minha e deram risada.

Pra falar a verdade nem eu acreditei, pensei que fosse erro porque eu era uma jumenta comparado ao pessoal que fez a prova.

Mas era verdade. Entrei na faculdade, arrumei um emprego melhor e de quebra sai de casa.

Não foi com dezoito mas foi com dezenove.

Foram anos pastando, sendo estudante da federal, virando noites e noites cheirando livro pra me formar.

E chegou o dia. Ai que cai a ficha, formada e desempregada.

Mas não demorei pra achar emprego. O primeiro lugar eu era um burro de carga, me sobrecarregavam TANTO, fazia coisa que nem eram da minha área. Sai de lá,e nisso já tentando no São Paulo. Fui pra um clube de futebol pequeno que só atrasavam meu pagamento e ainda era assediada por adolescente naquela porcaria.

Aí em uma bela noite de sexta feira,uma jovem adulta recém formada com sua taça de vinho barato de supermercado e lágrimas nos olhos parou pra pensar.

Seis vezes, seis tentativas no São Paulo.

Ela sismou com números pares no dia, e também porque seu número da sorte era o sete. Por que não?

E tentou novamente numa noite de sexta para sábado, 03:30 da madrugada.

E quando eu falo que foi sorte é porque foi! Eu era uma recém formada, sem experiência como profissional e além de tudo era mulher.

Mulher, jovem, trabalhando com jogadores, onde grande maioria são mulherengos. Não seria uma boa combinação não é?

Mas eu fui contratada. Com um milagre.

Deus viu que eu tava sofrendo tanto com aqueles adolescentes que me enviou outro emprego

Tá, é meio que um a mesma coisa no quesito maturidade, mas a diferença é que aqui me pagam bem e os jogadores me respeitam.

Foi tão difícil manter o profissionalismo. Tipo, meu time do coração, entendeu? Eu estava frente a frente com os jogadores do meu time.

Eu conheci o Rogério Ceni. O calvo que fez uma puta história no futebol brasileiro e que era mais calvo pessoalmente.

E era uma luta diária não ter picos de felicidade e pedir selfie com todo mundo em qualquer momento do dia.

Aprendi a lidar porque me acostumar acho que não vou.

É muito louco, sabe? Assistia de casa e de repente sou da equipe e vejo o São Paulo ser campeão, de pertinho, no Morumbi.

É uma loucura que eu tento enfiar na minha cabeça a todo instante junto com a paciência que eu preciso ter com crianças hiperativa de quase trinca e poucos anos de idade.

Acho que vou chegar aos 30 com o cabelo completamente branco.

Continua...

Me perdoem qualquer tipo de erro de ortografia. É 4 da manhã e eu tô exausta.

Me empolguei mas tentei apresentar um pouquinho da anaju pra vocês. Gostaram?

Votem muito pra me ajudar ❤️

Inolvidável | 𝐑𝐢𝐜𝐡𝐚𝐫𝐝 𝐑𝐢os Where stories live. Discover now