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Domingo, 19:55, São Paulo, Morumbi.

Da porta do vestiário, já conseguia ouvir a torcida cantando a todo vapor, arrepiando meu corpo inteiro.

O aquecimento já tinha encerrado, então, por enquanto, eu não tinha trabalho. Agora restava só Carpini reforçar todas as estratégias e dar as últimas orientações para o jogo que promete mexer com o torcedor tricolor. Mesmo tendo ganhado o último, não estou botando tanta fé. Ultimamente, ou estamos perdendo ou empatando.

Mas vamos lá.

Saí com a cambada de macho na minha frente, caminhando até o campo com os materiais necessários para as emergências.

Hoje eu vou ficar de fora do campo, então apenas deixei tudo e saí igual uma tapada, mexendo no celular.

Fiz bem, porque assim que voltei, os rivais estavam se preparando para entrar.

A gente já pensa, né? Pois é, e quando eu finalmente respiro pronta para abrir minha boca para agradecer a todas as forças divinas, a benção aparece na minha frente.

Não só um, como os dois.

Eu estava pensando em todas as desculpas que poderia usar.

Número 1: fingir um desmaio. Mas não ia dar certo porque ia chamar atenção, e no momento é tudo que eu não quero.

Número 2: sair correndo. Mas imagina sair correndo feito louca e aparecer em rede nacional?

Número 3: fingir que não vi e botar culpa na miopia. Hoje era o dia perfeito, quebrei o óculos e ninguém precisa saber que estou de lente.

A número três era infalível, mas porra, é o Endrick.

— Ô Ana Júlia — cantarolou e eu revirei os olhos por ter traumas dessa música — tá estressada, coração?

— Tô — abracei ele brevemente e já pude ver Richard me olhar —

Sabe quando vem um peso na consciência? Então, sou eu olhando pra ele agora. Talvez tenha sido um pouco infantil, maluca. Não sei.

Mas porra, imagina minha mente quando descobri aquilo por Instagram.

Agora ninguém fala nada. Só nos encaramos e Endrick soca a língua no cu essas horas.

— Vocês precisam conversar, em mano? — Endrick se pronuncia, piorando tudo —

Ele só tinha uma missão e falhou miseravelmente.

— Vai jogar, meu — dei um tapinha nele e virei pra sair —

— Ana — o leve sotaque me fez estremecer e virar no automático — depois do jogo eu quero falar com você.

E saiu.

Quem ele pensa que é? Eu decido as coisas.

Ou ele acha que eu vou obedecer as ordens dele? Tá enganado, Ríos.

E o pior é que eu queria falar com ele. Mas tipo... EU NÃO SEI.

E eu tô odiando a forma que estou me sentindo. To com a sensação de não ter controle nenhum sobre minhas ações, porque ele me enfraquece e eu estou odiando isso. Odiando porque me desperta inúmeras curiosidades, isso só me faz querer aquele homem cada vez mais.

Queria agir igual macho hétero de balada sertaneja.

— Boa sorte, meus amores. Sem lesões que a Julinha agradece por toda a equipe — soltei beijinho pro grupo de titulares que passaram ao meu lado — E sem cartões.

— Ouviu, Luciano? — Alisson disse e eu ri —

— Estou em paz hoje. — disse o camisa 10.

E ali começava uma noite que nem imaginávamos que iria render muito estresse com arbitragem e o caralho a quatro.

Gol de pênalti e um resultado final que não surpreende ninguém. Empate.

Injustiçados. 😔

O pior é ter que exercer sua profissão nessas horas, zero coragem em um domingo à noite, só estava desejando minha cama com todas minhas forças.

Aí me passa a porra de dois colombianos sem camisa. DOIS. MACHOS GOSTOSOS SARADOS.

Um eu vou poder apertar graças à minha profissão que vem com esses benefícios. Já o outro tem algo que me impede e eu não sei o que.

Mas adoraria encher essa tatuagem das costas de arranhão.

Que vagabunda. Para com isso, se controla e vai trabalhar.

E assim eu fiz. Esqueci aqueles tanquinhos sarados que muitas safadas já tocaram e eu queria ser mais uma, mas tive que ficar na vontade pra cuidar da vida. Ou era isso ou eu estaria desempregada sem o dinheiro do meu pão de cada dia.

Não é fácil ser fisioterapeuta de atleta quando você está no seu período fértil.

Eu me transformo. Viro bicho.

——

Adentrei minha casa jogando a bolsa na mesa enquanto fui tirando meu tênis de qualquer jeito. Estava saindo do CT e São Paulo decidiu que seria uma ótima hora pra chover, me molhei pra ir até o Uber e quando fui entrar no prédio meu reconhecimento fácil não foi nem com a porra, a digital? Pro caralho.

Resultado: eu toda molhada.

Botei uma música na TV e corri pro banheiro pra tirar a roupa molhada que estava me dando agonia. Feito isso, tomei um banho quentinho maravilhoso.

Alívio.

Sai passando meus creminhos mais suaves pra dormir cheirosa. Coloquei uma calcinha e uma camiseta do meu ex ficante.

Eu queria ter a liberdade de andar pelada, mas tenho traumas desde que a mulher da sacada da frente me difamou no grupo do condomínio porque me viu pelada um único dia que esqueci a persiana aberta.

Se passaram quase dois anos e até hoje a minha fama é de vizinha pelada.

Não ligo. Ando de novo se quiser.

Abri um vinho porque estava a muito tempo sem beber e também porque precisava de energia pra fechar algumas coisas dessa semana do trabalho ainda hoje.

Ajeitei a baguncinha que fiz quando cheguei, sentei, Deixei apenas o LED ligado fraquinho, a TV e o notebook.

Sentei e comecei a ajeitar tudo direitinho. O álcool me dá uma energia absurda e eu queria usar ela a meu favor PARA TRABALHAR.

Mas eu estava extremamente fértil e o vinho aumentou ainda mais isso.

A playlist, o ambiente pouco iluminado, vinho e...

Campainha?

Quem será a praga que vai reclamar da minha música que nem está alta outra vez?

Continua...

Esses vizinhos da Ana Júlia 🙄

Estou morrendo de dor, mas mesmo assim me esforcei para entregar esse. Amanhã arrumo um tempinho para escrever nem que seja no metrô. Beijos da mami.

Inolvidável | 𝐑𝐢𝐜𝐡𝐚𝐫𝐝 𝐑𝐢os Where stories live. Discover now